Luanda - Por que a Angola, o país com um dos piores sistemas de educação pública e a menor concentração de doutores do mundo, não elege um Intelectual ou um académico Presidente da República?

Fonte: Club-k.net

Ao longo da história como País independente, Angola teve três Presidentes da República: Agostinho Neto (1975-79), José Eduardo dos Santos (1979-2017) e João Lourenço (2017…). Embora os três Chefes de Estados mencionados tenham formação superior nos seus currículos (Neto formou-se em Medicina, José Eduardo dos Santos em Engenharia e João Lourenço em História),nenhum deles vestiu a pele de um intelectual ou, no mínimo, de um razoável académico.


Nem mesmo Neto, com a sua “mediana” veia poética pode ser considerado um intelectual.

Curiosamente, também a nível da liderança do maior partido da oposição não encontramos intelectuais ou académicos na história da sua liderança: Jonas Savimbi (1966-2002), Isaías Samakuva (2003-2019 e depois 2021- 2022) e Adalberto Costa Júnior (2019-21 e depois 2022…). Apesar de serem “quadros superiores” e excelentes oradores, nenhum destes notáveis angolanos, é intelectual ou teve carreira académica.

O termo “intelectual” é empregue aqui no sentido de ser um indivíduo com elevados conhecimentos numa ou várias áreas do saber e que os tenha estruturado e publicado (divulgado).

O “termo académico” vai tomado no sentido da docência universitária, incluindo a produção científica ou académica.

Todos políticos acima referidos estão fora desta espectro.

Sem desprimor das qualidades dos visados, mas é pública e notória a falta que uma das vertentes indicadas (intelectual ou académica) faz às lideranças destes tanto no partido no poder (e, consequentemente no Estado) como na oposição.

Vale a pena destacar que deixamos de fora desta abordagem os intelectuais ou académicos que lideraram outras formações políticas ao longo da história de Angola, porque nunca tiveram hipóteses reais de chegar à Presidência da República.

Mas, por que alguns angolanos instruídos (intelectuais e académicos) deixaram -se liderar por não intelectuais (e não académicos) que levaram o país ao abismo?

Em primeiro lugar, os angolanos tinham perdido a fé no sistema político colonial. A luta de libertação nacional e o processo de descolonização não correram bem, com resultados que muitos não esperavam. Houve muitas disputas internas entre os intelectuais nos movimentos de libertação nacional. Muitos intelectuais foram eliminados e ou afastados (alguns foram presos e mortos) antes e depois da independência nacional, com destaque para os acontecimentos como a “Revolta Activa” e o “ Fraccionismo”.
Se a elite intelectual do MPLA “guerreava-se” entre si, a da UNITA não ficava atrás. Sobretudo no período pós independência há relatos de “purgas internas a nível dos intelectuais” do antigo movimento de libertação nacional feito guerrilha e hoje transformado em maior partido da oposição.

Em segundo lugar, Jose Eduardo dos Santos, com a herança do terror provocado pelo 27 de Maio, teve a vida facilitada para frear o ímpeto de qualquer intelectual que ousasse desafiar a sua liderança. A guerra fratricida e o modelo “socialista/comunista” (que não permitia as liberdades e a democracia) formaram a “tempestade perfeita” que impediu à ascensão de um intelectual na liderança do partido no poder e no Estado.

Em terceiro lugar, “domesticados”, os intelectuais e académicos no espectro do regime do MPLA só poderiam almejar cargos abaixo da liderança do Partido e do Estado.
Mais do que um tabu, os intelectuais submeteram -se a auto-censura, e tal como em qualquer regime autoritário passaram apenas a servir o líder.

Em quarto lugar, apesar da conquista da paz, em 2002, permitir uma certa abertura política, não vimos nenhum intelectual ou académico “irromper das trevas” para desafiar a liderança do “Chefe”. O pesado fardo histórico de perseguição aos intelectuais, o regime assistencialista que deu azo a corrupção e a falta de coragem dos intelectuais que não deixaram -se macular pela podridão do regime, não habilitou o surgimento de um candidato com este perfil.

Como se vê, as únicas forças políticas com vocação de poder até ao momento em Angola — o MPLA e a UNITA nunca tiveram nas suas lideranças nem nunca apresentaram um intelectual ou um académico como candidato à Presidência da República.

Aqui trazidos, coloca-se a questão de saber se é importante que Angola tenha um intelectual ou um académico na Presidência da República?

A resposta é afirmativa. É muito importante que o próximo Presidente da República seja um intelectual ou um académico. Dizemos mesmo, sem pestanejar, que a necessidade que Angola tem de ter um intelectual na sua liderança é a mesma que “o pão para boca”.

E as razões que leva -nos a defender esta tese são as seguintes:

i. O Intelectual (ou o académico) é um indivíduo com e comprometido com o conhecimento

ii. O Intelectual, em rigor, prima pelo diálogo e pelas soluções científicas e técnicas (tecnológicas)

iii. O Intelectual tem a mente treinada que permite-lhe absorver melhor os conselhos de outras áreas do saber que não a sua

iv. O intelectual se não tem visão adopta a do visionário

v. O intelectual ou académico de gema é humilde quando não sabe e mais ainda quando sabe.

vi. O Intelectual ou académico está habituado às críticas e delas se serve para a busca de soluções

vii. Em regra, o intelectual ou académico está próximo do perfil de um líder

Angola precisa oferecer-se a si mesma uma liderança intelectual ou académica para sair da mendigância actual e franquear as portas do conhecimento e da prosperidade.

Até ao surgimento do nosso candidato presidencial intelectual ou académico, alea jact est…

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