Luanda - Uma das lacunas dos acordos de Bicesse de 1991, foi o facto de as partes terem evitado que as partes fossem para as eleições com homens armados. Savimbi, dizia que a sua delegação não podia regressar a Jamba sem data das eleições e o governo dizia que não podiam regressar a Luanda, sem cessar fogo. Fez-se as coisas as presas e cada um foi disputou o poder com uma arma no bolso. A UNITA com um “exercito” escondido nas matas controlado pelo general Júlio Armindo “Tarzan” e o MPLA criando uma Polícia de Intervenção com formação combativa, a margem dos acordos de paz.

Fonte: Club-k.net

A HISTÓRIA DE DOIS VIZINHOS  QUE SE COMBATERAM DURANTE 55 DIAS


Aos 11 de Dezembro de 1992, durante uma entrevista a radio portuguesa TSF, Jonas Savimbi exclamava o seguinte: “Mas, mesmo o meu vizinho, que é agora o superintendente da Policia, era coronel das FAPLA. No dia seguinte aparece com fardamento da polícia. Eu pergunto-lhe: então agora, é policia? O MPLA pegou nas FAPLA, e meteu na polícia”.


O vizinho polícia de Savimbi, era um jovem de a 32 anos de idade, que fora das extintas TGFA, e que atendia pelo nome Jorge Manuel dos Santos. Nas lides militares era conhecido por Comandante “Sukissa”.

Abílio Nyoka Bens, acadêmico e antigo comandante dos bombeiros de Angola e que com ele privou, durante o inicio da carreira militar explica – na sua pagina do facebook - a origem do alcunha de guerra deste comandante: “Nos anos 70 , o regime da RDC de Mobutu e da RPC de Marien Ngouabi viviam como cão e gato. Diariamente havia bifes nas rádios. Muito antagonismo, os angolanos aí refugiados eram o tema da discórdia. Num lado havia a FNLA e no outro lado do Rio Zaire, havia a sede do MPLA. A propaganda hostil aumentava e já se temia uma guerra entre os dois países vizinhos e irmãos. Mobutu comprou uns aviões de caça. Um desses aviões era alcunhado como " Sukissa", quer dizer " Terminator" e sempre tratei assim o General”.

 

Savimbi apreciava a tenacidade deste jovem “terminator” que na altura, o governo de Luanda, enviara para se tornar no novo comandante provincial da Polícia e da PIR do Huambo. As vezes chamava-se para conversar na sua “casa branca”. Antes da eleições ao tomar conhecimento que o comandante recebera, um irmã, de nome “Tété” e um cunhado José Maria Ferraz, Savimbi convidou os três para um pequeno almoço em sua casa no Huambo.


A sua terra de origem (Lunda-Norte), era merecedora da atenção de Jonas Savimbi. Numa abordagem aos jornalistas, a partir do Bailundo, Savimbi, dizia que conhecia a mãe de “Sukissa” e que o tinha como um filho, mas um “filho bom”, porque ele próprio também tinha filhos Kiokos. “Sukissa” interpretava os elogios de Savimbi, mais para um acto de ação psicológica.

A abertura que ambos construíram foi crucial para que “Sukissa” negociasse com Savimbi, a entrega de oficiais das FAA que as tropas da UNITA teriam feito refém nesta cidade, depois de terem morto comandos do governo que foram trancados num contentor. Um dos oficiais detidos seria Jack Raúl, actual comandante do exercito.

RESGATE AO GENERAL GERALDO NUNDA

Foi igualmente por intermédio de “Sukissa” que um então comandante militar da UNITA, Geraldo Nunda, viu a sua fuga preparada para o lado do governo, depois de manifestar a Savimbi, que não deveriam reagrupar as tropas para o reatar de operações militares. Em “Jogos Africanos”, o antigo consultor português de Jonas Savimbi, Jaime Nogueira Pinto, conta que esta operação de resgate a Nunda, foi acelerada quando um sobrinho deste, da área das comunicações, aviso-o «Anda aí qualquer coisa contra você. O Mais Velho quer mandar você para á Jamba».


“Sob ameaça mortal”, escreve Nogueira Pinto, “Nunda decide sair. Falou discretamente com o superintendente Sukissa, que era o comandante das tropas das FAA e da polícia de intervenção no Huambo. Sukissa contactou João de Matos que mandou dois helicópteros da Catumbela para irem buscar Nunda e sua família. Saíram clandestinamente e foram do Huambo para a Catumbela e, no mesmo dia, da Catumbela para Luanda. Era o dia 15 de Janeiro de 1993. Em Luanda, Nunda, a mulher e os filhos ficam alojados no Hotel Presidente”.


“Higino Carneiro e Kopelipa aparecem-lhe com uns papéis, dizendo-lhe que ele deve ser o presidente da UNITA. Nunda não aceita.”

«Então eu disse ao general Kopelipa que era preciso que tivessem algum respeito pelas pessoas, porque eu achava que não havia nem UNITA 1, nem UNITA 2, nem UNITA 3 com possibilidades de fazerem alguma coisa contra a UNITA do Dr. Savimbi. Era uma ilusão que pudesse haver uma UNITA que pudesse vingar contra a UNITA do Dr. Savimbi!», lê-se na publicação.

 

No início de 1993, o general “Sukissa”, liderou as tropas governamentais durante os 55 dias de batalhas contra as forças da UNITA que ocupavam a cidade até receber reforço do quartel do CIRM de Benguela como descreve o antigo militar e jurista Jaime Azulay, “O destino traçado era o Huambo. Íamos nos juntar aos camaradas que lá estavam a lutar desde a tarde do dia 9 de Janeiro. A tropa chefiada pelos generais Ngueto e Sukissa batia-se para a cidade não ser tomada pela Unita que era comandada pessoalmente por Jonas Savimbi”.


Durante a caminhada rumo a Benguela, depois de perder o Huambo, perdeu o seu segundo comandante policial pelo caminho. Nas matas, onde seria resgatado, teve as pernas inflamadas sem poder calçar as botas. A seguir a esta fase, o então Presidente, elevou-lhe a brigadeiro devolvendo ao exercito, para mais tarde ser transferido para a Lunda Norte como comandante militar, e já como general.


No período de paz as autoridades despacharam-lhe para uma formação de três anos na China, precisamente na mesma academia em que o fundador da UNITA, Jonas Savimbi recebeu formação militar antes de formar o seu movimento de libertação. Porém, foi numa academia russa, onde Jorge “Sukissa” frequentou durante cinco anos o curso superior militar de “Inter Armas” que o capacitariam a dirigir um dos três ramos das forças armadas (força aérea, exercito e Marinha de Guerra).


Em Abril de 2021, o General Jorge Manuel dos Santos “Sukissa” que desse 2006, dirigia o Instituto Superior de Ensino Militar, vulgo “base do grafanil”, seria nomeado para o cargo de Comandante da Marinha de Guerra Angolana, em substituição do Almirante João Pedro da Cunha Júnior.


No inicio de Julho surgiram insistentes rumores, em Luanda, de que não estava entre nós. As informações foram desmentidas mas depois de três semanas. No dia um de Agosto, a Presidência angolana anunciou a sua partida ocorrida no dia 31 de Julho, destacando que “o General "Sukissa" deixa um legado valioso que deve servir de inspiração para as novas gerações de militares e dos cidadãos em geral, na perspectiva da disposição para a defesa abnegada do país e da contribuição para a sua estabilidade e desenvolvimento.”