Luanda - À primeira vista, podia parecer ser uma pergunta simples e fácil de se responder, mas, analisada de fundo, é profunda e nos remete à reflexão: afinal, quem somos nós?

Fonte: Club-k.net


Fazendo uma incursão à historiografia política da UNITA até 1991, atendo-se fundamentalmente na vertente da Formação do Homem, evidencia-se a visão estratégica do Dr. Jonas Malheiro Savimbi na criação de Instituições de ensino que, a margem do esforço de guerra, formavam de maneira integral Quadros para múltiplas áreas de actividade.


Naquela altura, destacavam-se as seguintes instituições do saber: o Instituto Polivalente Loth Malheiro Savimbi, as várias Escolas Primárias espalhadas pelas Bases de Apoio aos Guerrilheiros, o Liceu Nacional da Jamba, o Liceu Samandjolo, o Liceu da Mita Ombamba, o Liceu do Muye, a Escola Nacional de Secretárias, a Escola de Formação para Deficientes Visuais, a Escola de Formação para Regentes Agrícolas, a Escola de Condução, entre várias. Dessas escolas saíram quadros com qualidade reconhecida, muitos deles, hoje, aplicam o seu saber em instituições Públicas e Privadas do país, para além daqueles que trabalham por Conta-Própria. Afinal, na guerra, nem tudo era guerra; havia uma visão de futuro e um Projecto Político e Administrativo alternativo para Angola. Só assim se pode perceber que, mesmo em plena guerra, uma das preocupações do Dr. Savimbi foi com a FORMAÇÃO do Homem. Uma formação que produzisse quadros competentes capazes de estar à altura dos desafios da Angola do amanhã.


Realmente, foi um desafio enorme: o de fazer a guerra olhando para o futuro. É assim que, parte dos estudantes que finalizasse o Quinto-Ano(nona-classe) ganhava uma bolsa de estudos em países africanos ou ocidentais; outra parte era enquadrada nas Estruturas Administrativas da guerrilha e nas Forças Armadas de Libertação de Angola – FALA.


Até pode parecer ser um paradoxo, mas é a pura verdade: em plena mata, havia-se criado um ambiente académico muito sério: os jovens dedicavam-se bastante nos estudos; participavam de palestras e debates com temas transversais da política internacional; dedicavam-se a aprender línguas nacionais e internacionais, incluindo o Latim. O Dr. Savimbi, sempre que possível, em suas Jornadas Patrióticas, falava com os operários, com os estudantes, com os quadros e incentivava os intelectuais à análise de fenómenos da Luta e da Geopolítica. Segundo ele, um Quadro-Político tinha de ter a capacidade de dar respostas pontuais aos problemas que surgissem no dia-a-dia, quer com o povo ou com os soldados. Foi essa visão estratégica que permitiu a produção do Guia Prático do Quadro, um livro usado no Centro de Estudos Comandante Kapesi Kafundanga – CECKK.


No âmbito do debate político-filosófico e cultural que o Dr. Savimbi promovia, ele levantava questões concretas sobre a luta dos angolanos que lutavam para se afirmar no seu próprio país e no concerto das nações. Pelo menos, foi essa a percepção que tive depois de analisar pormenorizadamente a pergunta que ele desafiava à reflexão dos quadros-políticos: Quem sois vós? Cuja resposta, por ele dada, era: Somos um povo, Temos uma história e Queremos um Destino.


Para tentar perceber esse estimulante questionamento, que encerra um significado e valor enormes, procurei situar-me no tempo histórico do contexto revolucionário daquela época, a fim de poder analisar, com certo realismo e distanciamento, a dimensão e os argumentos de razão de: Somos um Povo, temos uma História e queremos um Destino. Hoje, olhando para o sentido de cada oração e o propósito de cada uma delas ou, tentando entender o que todas elas diziam e o que também não diziam naquele contexto de luta, ou ainda, observando o seu significado e alcance, vê-se implícitos o Pensamento Político e a dimensão intelectual de seu proponente, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi, um homem culto e de cultura, defensor acérrimo dos valores da africanidade e combatente pela dignificação do angolano.


Na verdade, tratava-se de uma pergunta com um alcance enorme: afinal, o que é ser um Povo? O que significa ter uma História? Por que Destino esse povo procurava?


Eis as primeiras conclusões a que cheguei:


1 - Ser um povo é ter uma cultura própria e aceitar as suas origens, os seus costumes e os seus hábitos. Um verdadeiro povo não deixa nem permite ser alienado por outras culturas e procura conservar, a todo o custo, as línguas vernaculares, que são o principal instrumento de divulgação e preservação de qualquer cultura. Um povo de verdade, em nenhum momento ou circunstância, se sente inferior ou superior a qualquer outro;


2 – O nosso povo tem uma história e faz história. Uma história que vem desde os tempos dos nossos ancestrais e de suas lutas de resistência contra o colonialismo português. Ter uma História é preservar as origens e ser fiel ao passado;


3 - Um povo que luta para se afirmar, procura atingir um Objectivo, que é, no fundo, o destino desse povo. Procurar por um destino é sentir-se em paz no seu próprio país e trabalhar para a construção de uma nação onde todos os seus filhos se sintam cidadãos realizados e felizes.
Finalmente, retomo a pergunta:


Afinal, Quem sois vós?

Voltarei…


Luanda, 20 de Outubro de 2022.
Gerson Prata