BENGUELA — Trabalhadores de comerciantes chineses envolvidos no comércio da madeira no Alto Catumbela, município da Ganda, província de Benguela, queixam-se de violações das leis de trabalho e outros abusos.

Fonte: VOA

O Sindicato das Pescas e Agricultura chega mesmo a reafirmar acusações de escravatura moderna, lembrando ocorrências semelhantes em grandes companhias de pesca com a participação de angolanos.

Dois trabalhadores jovens entrevistados pela Voz da América Catarino e Verónica, colaboradores de uma firma com 250 funcionários, dizem que são pagos 20.000 kwanzas contra os 32.000 previstos no salários mínimo nacional.

“Estou aqui a caminho de cinco anos, as condições não favorecem mesmo”, disse.

“O salário é diário e levas ao fim do mês só vinte mil, mas o trabalho é muito. Na alimentação... também não favorece, são 'pala pala' (fuba) mal tratada, o feijão a mesma coisa", acrescentou afirmando ainda que por não existirem contratos de trabalho “há muito despedimento, mesmo na doença".

As mesmas preocupações foram expressas por Verónica que disse que “quem reclama sozinho é expulso”, acrescentando que o trabalho é ininterrupto, feito nos sete dias da semana.

A VOA não conseguiu obter a versão dos gestores chineses nas várias empresas que visitou.

O secretário-geral do Sindicato das Pescas, Agricultura e Florestas, Joaquim Sousa, diz não ter conhecimento da realidade no Alto Catumbela, mas salienta que nada surpreende face ao que chama de “escravatura moderna”, à imagem do quotidiano nas companhias de pesca.

Quem está por dentro é o administrador municipal da Ganda, Francisco Prata, que realça ter enviado comissões de trabalho, com a Acção Social incluída, e refere que só o diálogo pode resolver o problema.

À VOA, o consultor João Misselo da Silva, quadro da Organização Humanitária Internacional (OHI), considera que são situações recorrentes que devem chegar à Assembleia Nacional.

“E sobretudo à Procuradoria-Geral da República enquanto órgão da legalidade do Estado angolano, deve ter uma reposta sobre estas práticas”, disse acrescentando que “independentemente de a China ser o principal credor do Governo angolano, devem respeitar as normas e as leis, isto para que os direitos humanos sejam um elemento fundamental neste estado democrático e de direito”.