Benguela - Milhares de crianças angolanas fogem de escolas sem merenda à procura do lanche oferecido pelo grupo Empreendimentos Carrinho SA, numa correria associada à situação de fome e dificuldades nas suas famílias.

Fonte: VOA

Numa visita a três das 10 províncias eleitas pelo gestor da Reserva Estratégica Alimentar, que atende mais de 228 mil alunos, a VOA verificou que os cereais, as papas e o leite são servidos até para autoridades tradicionais, que lançam um grito de socorro a favor das comunidades.

Em municípios das províncias de Benguela, Huambo e Bié, árvores transformadas em salas de aulas e escolas degradadas, vistas como contrariedade no processo de ensino e aprendizagem, deixam de ser problema quando se trata da luta pela merenda escolar.

Em Chongoroi, a 156 quilómetros da cidade de Benguela, o director de uma escola primária e a mãe de um aluno, Januário Caíta e Rosária Malenga, confirma a correria para escolas com a merenda.

“As nossas estatísticas subiram de uma forma gradual, notamos até um brilho lá no rosto deles”, descreve Caíta, ao passo que a senhora ressalta que “eles assim já não faltam, correm mesmo porque lá tem comida”.

Na mesma província, mas no município de Caimbambo, a directora da escola primária Cassima Vivo, Vitória Chipembe, diz que é obrigada a dar a cerca de 400 crianças o que foi projectado para 300.

“Não tínhamos este número, com a merenda estão a vir muitos alunos, até uns que estavam noutras escolas, sem a merenda, estão a trazer a transferência”, refere a directora, acrescentando que “a criança sai de casa com fome e aqui já encontrar qualquer coisa para aquecer o estômago”.

Por esta razão é que o soba Arão Jamba, no Bié, num apelo às autoridades, lembra que é preciso aumentar as quantidades para uma resposta pontual à situação das famílias.

“Antigamente, quer dizer, as crianças não aceitavam ir estudar, mas agora todas estão a vir, já não vão às lavras, por isso também tem que aumentar os produtos”, apela o soba.

Já no Huambo, o director da Educação no município do Catchiungo, Benjamim António, abordou o que pesou na selecção das escolas beneficiárias.

“O nível económico dos encarregados de educação, das famílias, mas tivemos de repartir o mal pelas aldeias. São 20 escolas que recebem, mas temos 105, e muitas crianças que estavam fora do sistema de ensino estão de volta por causa deste benefício”, aponta o gestor.

O programa, em curso há quase dois anos, chega ao fim em 2023, mas a Empreendimentos Carrinho, segundo apurou a VOA, tenciona estendê-lo.

A merenda escolar deste grupo empresarial, também nas províncias da Huíla, Kwanzas Norte e Sul, Bengo, Malanje, Cunene e Uíge, beneficia 228.265 alunos, quando o país tem cerca de 10 milhões de crianças nas escolas.

Servido igualmente pela organização não governamental JAM, mas em cifra inferior, o lanche é um imperativo legal assumido pelo Estado angolano em Diário da República.