Luanda - Polícia angolana anunciou que três dos nove agentes que estiveram envolvidos na detenção e agressões a um jornalista angolano foram alvo de um processo disciplinar.

Fonte: Lusa

O Grupo de Trabalho de Monitoria dos Direitos Humanos (GTMDH) em Angola condenou esta sexta-feira o assalto às instalações do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) e classificou o ato como uma "ameaça e sinal claro de intimidação" aos jornalistas.


O GTMDH, composto por vinte organizações não-governamentais que operam em Angola, diz que foi com maior preocupação que tomou conhecimento do recente furto de computadores e de outros eletrónicos na sede do SJA, em Luanda.


As organizações não-governamentais recordam que, após o furto, os referidos meios foram seguidamente devolvidos "sorrateiramente" passados alguns dias na sede do órgão e referem que o facto demonstra o "perigo" que corre a vida dos seus funcionários.


Para o GTMDH, em nota de repúdio tornada pública esta sexta-feira, consideram igualmente que a situação exige medidas redobradas da integridade física do secretário-geral do SJA, o jornalista Teixeira Cândido, e os funcionários do órgão e pedem ao Serviço de Investigação Criminal (SIC) que investigue o caso para a consequente responsabilização judicial dos autores.


Teixeira Cândido denunciou, na última semana, o furto de equipamento informático na sua sede e mensagens ameaçadoras, considerando que estão em causa tentativas de intimidação e controlo da atividade dos jornalistas.


Em declarações à Lusa, Teixeira Cândido disse que desapareceu o CPU (unidade central de processamento) do principal computador do sindicato, que foi devolvido dias depois, sem que ninguém se tivesse apercebido.


"Deixaram e foram embora", contou o sindicalista, acrescentando que foi feita uma participação ao SIC na mesma semana.


O jornalista recebeu, três dias mais tarde, um SMS através de um número desconhecido contendo ameaças veladas.


"Viste o aviso que deixámos?", perguntava uma das mensagens, e outra alertava Teixeira Cândido para estar atento ao que comia e bebia, pois poderia ser alvo de envenenamento.


"Parece haver um plano para infundir medo aos jornalistas. Porquê? Não tenho explicação", disse Cândido, sublinhando que o SJA tem conhecimento de mais dois casos de jornalistas cujas casas foram assaltadas durante a noite, em março, tendo sido levados os computadores, sem que até ao momento sejam conhecidas diligências das autoridades.


Para Teixeira Cândido, os assaltos e as mensagens dúbias podem indiciar tentativas de inibir, condicionar e aceder ilegitimamente à atividade dos jornalistas.


Na mesma nota, o GTMDH condena igualmente a "agressão" ao jornalista José Honório, da agência angolana de notícias Angop, em Benguela, protagonizada supostamente por três agentes da Polícia Nacional.


José Honório terá sido "violentamente agredido", a 16 de novembro, quando propôs uma "abordagem pedagógica" aos agentes da Polícia Nacional que interpelavam "zungueiras" (vendedoras ambulantes) no Lobito (província de Benguela), segundo o SJA.


O comunicado do Comando Provincial da Polícia de Benguela apresenta outra versão dos factos, referindo que José Honório "veementemente e de forma física" tentou impedir a polícia de apreender os bens que "teimosamente as vendedoras comercializavam na via pública".


A polícia angolana anunciou, em 27 de novembro, que três dos nove agentes que estiveram envolvidos na detenção e agressões a um jornalista angolano foram alvo de um processo disciplinar.


O GTMDH apela ainda a todos os jornalistas nacionais e estrangeiros, acreditados no país, a manterem-se "calmos e serenos" e assegura que "esses atos intimidatórios não vão travar o exercício do jornalismo em Angola e incentivam os profissionais a denunciarem todas as práticas nocivas".