Luanda - Uma Angola culturalmente distanciada de África e afastada das raízes bantu foi um projecto de colonização muito bem estruturado e pensado para vincar na Angola pós-independência. Esse projecto fez com que passássemos a desprezar o que é nosso e a assimilar o que é dos outros – da desaculturação à aculturação.

Fonte: Club-k.net

Já foi assim no tempo colonial, com a política dos Assimilados, que buscava a negação do autóctone aos seus nomes, hábitos e costumes; em contrapartida, eram obrigados a assimilar os valores europeus, a fim de serem considerados civilizados. Por isso, esse projecto de alienação cultural tem de ser desconstruído da mentalidade colectiva dos angolanos. Só assim, caminharemos, com os nossos próprios pés, ao reencontro das nossas raízes, que foram forçosamente arrancadas. Mas, a verdade é uma, quarenta e sete anos depois, não podemos continuar a chorar pelo leite derramado. É hora de passarmos à assunção das nossas responsabilidades culturais e botarmos a mão na massa, dando como primeiro passo a valorização das nossas línguas pré-Diogo Cão; uma vez que, a língua é um instrumento de transmissão e preservação dos hábitos e costumes dos povos.


Quarenta e sete anos independentes é tempo suficiente para deixarmos os complexos de acharmos que, para sermos bem-vistos, temos de imitar o modo de vida do europeu e comer as comidas ocidentais; imitar as novelas brasileiras e o big-brothers americano, etc. Para nós, quanto mais nos parecermos aos europeus, melhor. Até no sotaque, ficamos vaidosos quando se assemelha ao dos portugueses. No fundo, no fundo, queremos ser os euro-africanos. Que vergonha!


Quarenta e sete anos depois, continuamos a sentir vergonha de usar o Alfabeto bantu para escrever os nomes de nossos soberanos que se bateram contra o colonialismo. Até hoje, continuamos a escrever: Bié, Ginga Bandi, Huambo Calunga, Cuando Cubango, Cuanza Sul, Lobito, etc.


Por que não passamos a escrever: Viye, Nzinga, Wambu, Kwandu, Kwanza, Upito, por aí em diante?! Será que é bastante oneroso? Querendo ou não, mais cedo ou mais tarde, teremos de investir na recuperação do maior Património Identitário Nacional. Quanto mais tempo levar, mais difícil será. Somos os únicos em África que, mesmo tendo variedades de línguas nativas, com Alfabeto próprio, preferimos aportuguesar os nossos nomes africanos. O Alfabeto Português não cobre todas as falas dos nossos dialetos!


Por que não usamos o Alfabeto bantu para preservar a semântica dos nomes, uma vez que, a sua escrita é fiel à pronúncia dos vocábulos africanos?

Tukasi kumosi...

Luanda, 11 de Novembro de 2022.
Gerson Prata