Madrid - Nos aproximamos do fim de mais um ano. É tempo de balanço. Em Angola, este ano não foi como muitos outros, porém teve tudo para ser memorável, tudo graças as anacrónicas manobras do partido Estado, ou melhor, do MPLA. Como se diz em Umbundu: “yayenduka ño, pole kayapessekele” (numa tradução literal: a panela inclinou, mas a comida não entornou). A fraude eleitoral roubou-nos os sonhos. A cidadania angolana ampara-se na certeza de que a esperança não morre e nunca morrerá. O mal tem os dias contados. E não há mal que por cem anos dure, nem corpo que aguente. O povo acordou e, aos poucos, vai ganhando consciência.
Fonte: Club-k.net
Devo confessar que este ano 2022, esteve repleto de factos, nenhum deles menos importante que outro, daí a dificuldade de poder plasmá-los com a lealdade que talvez mereçam, por isso, ficaremos apenas com aqueles factos que marcaram a opinião pública, como os seguintes:
1. Justo ao começar o ano de 2022 o país inteiro presenciou aterrorizado ao assassinato de dois colegas das forças de ordem pública, por disparos a queima roupa em plena via pública, crimes que até o momento não tiveram nenhum esclarecimento público de quem de direito;
2. A pandemia, obrigou o fecho de muitas empresas e levou ao desemprego a muitos trabalhadores e trabalhadoras do país. Os despedimentos pelo país foram vários, porém os em massa e mais mediáticos, sem sombras de dúvidas, foram os dos trabalhadores da ZAP. A onda de despedimentos demostrou que o governo não tem mecanismos eficazes para responder a situações complexas, aliás, viu-se durante a pandemia e vê-se sempre que as chuvas se abatem vorazmente sobre as nossas aldeias e cidades. O governo tem falhado redondamente na protecção dos empregos do sector privado no país. As instituições de segurança social são completamente ineficazes. Se tal não fosse não veríamos várias famílias do nosso país a terem que recorrer as lixeiras para poder levar algo ao estômago, porque os provedores da família estão no desemprego.
3. Mais ao Sul do país, a população pedia desesperadamente soluções para o problema da seca que assolava aquela parte do território nacional. De resto é uma situação que durante anos tem dificultado todas as formas de sobrevivência, notadamente a agricultura e a pecuária. Consequentemente, as famílias têm sido forçadas a viver na mendicidade ou a buscar refúgio na vizinha Namíbia. Num espírito propagandístico, o executivo do partido-Estado anunciou a construção de infraestruturas para pôr fim a esta problemática, até o momento esperam-se pelos resultados.
4. No início do ano 2022, a cidade de Luanda viveu uma greve dos taxistas que paralisou praticamente toda a capital. Esta greve expôs a fragilidade do governo provincial e central com o Sr. Manuel Gonçalves Lourenço à testa. A mobilidade urbana e suburbana é uma grande dor de cabeça. Não existe políticas públicas para os serviços de transportes públicos e privados. O país necessita de uma aposta firme e séria no sector dos transportes e da mobilidade pública, não esqueçamos que em boa parte da nossa terra, muitas famílias têm que percorrer diariamente vários km a pé para poder realizar qualquer actividade necessária para a vida. Ao falarmos dos transportes não nos esquecemos dos esforços realizados pelos estudantes, o professorado, o pessoal da saúde em todas províncias do país para poder chegar aos seus respectivos lugares de atividade todos os dias. Seguramente que, para este ano novo, boa parte da população do país, invariavelmente, das muitas petições que têm, incluirá a implementação ou a melhoria dos serviços de transportes públicos;
5. Na mesma senda, ressalta-se que foram os distúrbios causados pelo descontentamento da população, durante a greve dos taxistas em Luanda, que levaram a detenção dos ativistas Luther Campos e Tanaice Neutro. Até momento os mesmos aguardam pelo julgamento nas cadeias da cidade capital. O partido Estado, acusou-os de instigar a fúria da população.
6. Ainda no princípio deste ano, apareceram numa artéria da cidade cinco cidadãos mortos, melhor dizendo fuzilados ao estilo de ajuste de contas. São cinco filhos desta nossa pátria, outrora funcionários do Governo, servidores públicos (SIC). Desconhecem-se até o momento os autores;
7. Aos 7 de Maio, o presidente emérito José Eduardo dos Santos (JES) regressa à Barcelona para consultas médicas depois de ter sido vergonhosamente destratado pelo homem que o cedeu no poder. Aos 28 de Junho a saúde de JES se agrava. Vítima da perseguição impiedosa, entretanto, a família dos Santos quase toda exila-se. Aos 8 de Julho, o país recebeu a notícia do passamento físico de JES. Malquisto pelo seu sucessor, apelidado de marimbondo e culpado de toda mal gestão, JES morre abandonado pelo MPLA. A novela da disputa do cadáver de JES encheu os jornais nacionais e internacionais. O homem que não gostava do seu antigo Chefe moveu fundos e mundos para ficar com o cadáver (troféu para as eleições). Foi uma novela muito triste. Ganhou JLo com o seu poder e os seus milhões de dólares. Mal embalsamado, às pressas, corpo foi transportado no porão. Desprezo e desrespeito total. Os que ainda tinham consideração pelo JES refugiaram-se no maior silêncio. O velório com a cara de JLO em ponto grande foi atabalhoado tal como o funeral. O país chorou de queixo caído de tão embasbacado que ficou. “Quem faz mal ao morto é pior que ele” – diziam alguns mais velhos em surdina. Os homens e as mulheres que se fizeram chefes e ricos à custa de JES, pessoas que juravam amor por ele lhe tinham abandonado. Ninguém estava a entender nada e ninguém entendeu nada, pois marimbondos são todos eles e do mesmo MPLA. JES morreu em 2022
8. A batalha silenciosa e sem tréguas entre os corruptos Lorencistas e os corruptos Eduardistas, no entanto continua. Manuel Vicente tirou o pé e foi para Arábias de onde diz: “podem ficar com tudo”, porque ele nem precisa dos tales Kwanzas. Em Angola de João Lourenço, o combate à corrupção é uma treta e uma grande fantochada. Livre da sombra de JES, o Senhor João Lourenço, pela contratação pública simplificada, vai enriquecendo a sua entourage. A até então desconhecida Leonor Carrilho, a Omatapalo e a portuguesa Mota-Engil, hoje, abocanham tudo. O teatro da detenção e julgamento do suposto bilionário major Lussaty (dono das malas de milhões de dólares) só convence os incautos. A luta pelo pote de mel continua, a vitória é certa, e não é do povo. Entretanto, o pacato cidadão cansado, não desiste, vai alimentando a esperança numa Angola livre dos dois corruptos beligerantes, ou da corrupção em si. O povo quer tão somente pão, água, luz, saúde... e ser feliz.
9. O problema da economia, da oscilação da moeda, da inflação, supostamente causada pela guerra da Ucrânia, leva afetando sobremaneira o acesso a cesta básica a muitas famílias angolanas. O custo de vida é exorbitado, num país onde todos os produtos, até os mais básicos são importados, o poder de compra da população é nulo, vive-se no país uma espécie de salve-se quem possa. Valha-nos Deus.
10. Em Cabinda, para além de todos estes problemas que todos os angolanos sofrem, e já referenciados, existe uma guerra. O conflito com a FLEC (Frente para a libertação do Enclave de Cabinda) ou suas facções, um problema que dura a décadas. O governo, até o momento, “desconseguiu” trazer a paz para aquela importante parcela de Angola.
11. O registo eleitoral pela primeira vez abrangeu a diáspora Angolana depois de uma campanha sem precedente movida pela AVD (Angola Vota na Diáspora). Em Angola, os mortos dos últimos 30 anos constavam nos cadernos eleitorais. A oposição e a Sociedade Civil protestaram, sem sucesso. A CNE não aceitou auditoria aos seus ficheiros. A empresa espanhola INDRA (muito implicada em processos eleitorais fraudulentos) mais uma vez foi escolhida pela CNE. A UNITA, Bloco Democrático, Projecto PRA-Servir Angola e distintos membros da Sociedade Civil formaram uma frente eleitoral (Frente Patriótica);
12. As eleições correm num ambiente tranquilo. O povo estava sedento da mudança. Os problemas começaram com o escrutínio. Os membros do MPLA nas mesas de voto tudo faziam para as não assinar, rasgavam-nas, roubavam-nas …sabotavam a contagem e/ou não afixavam as actas-sínteses. Isso aconteceu em Angola e um pouco pelos consulados (Diáspora). Diante da derrota eleitoral eminente o Senhor João Lourenço colocou as Forças Armadas com material bélico nas ruas. O MPLA perdeu copiosamente em todo país, nos consulados no exterior e principalmente em Luanda. O escrutínio pela CNE foi a mesma manipulação e manobras de sempre. A Oposição contestou junto da CNE e Tribunal Constitucional (TC), sem sucesso. A Sra Laurinda Cardoso, juíza presidente do TC, tinha sido nomeada para justamente tudo chumbar e viabilizar a vitória do MPLA a todo custo. O povo queria sair às ruas, mas a oposição, diante das eminentes matanças pelas Forças Armadas e Polícia, preferiu apelar a calma e consentir mais um sacrifício para manter a paz. O Senhor João Lourenço foi declarado vencedor. Tomou posse e segue governando sem a legitimidade do povo.
13. Este ano, o mundo da ciência, da política, da cultura e das artes perdeu a muitos bons filhos e filhas: Raquel Tchika Kulepa, mama zungueira, conhecida como " Tia Cheili " morta por disparos de um agente da Polícia Nacional enquanto exercia o seu trabalho carregando consigo o filho às costas. Albano Bingo Bingo (activista do grupo 15 + 2). À ele a nossa eterna gratidão. A tua luta não foi em vão. Nagrelha dos Lambas (Nana) - o símbolo dos Musseques e dos desfavorecidos. Descanse em paz, Nana! Raquel Kalupe, morta por disparos de arma de fogo diante do marido e filhos depois de ter denunciado as irregularidades na contagem dos votos na CNE. O valoroso general Jorge Manuel Dos Santos "Sukissa" e o valoroso general Geraldo Abreu Muengo Ukwachitembo " Kamorteiro¨, este último símbolo da paz no país, o seu nome já faz parte dos livros da história recente de Angola. O país despediu-se do Dr. Antônio Felipe Junior (Dr Nené Felipe), foi um médico cardiologista fundador da sociedade angolana de doenças cardiovasculares. A lista infelizmente é longa, citamos apenas alguns.
Perdemos, por causas naturais ou vítimas da má governação, muitos irmãos e irmãs. Que descansem em paz entre o resplendor da luz perpetua. Nós que ficamos, com as lágrimas e o pesar, temos a obrigação de fazer de Angola um país melhor e igual para todos e todas. Fazemos votos que este ano que agora começa, venha repleto de grandes realizações e alegrias (sobretudo muita saúde e respeito pela dignidade da vida humana) para toda a família angolana.
Xalenu Kia Mbote.
Feliz ano novo 2023