Luanda - Passados os festejos do Natal e do Ano Novo, ao longo deste percurso incerto, registamos o falecimento de duas personalidades eminentes: o futebolista, Pelé (Edson Arantes do Nascimento), e o Papa Emérito Bento XVI (Joseph Ratzinger).

Fonte: Club-k.net

Assim, com o maior respeito, honra e admiração, presto a ambos minha profunda homenagem. Na verdade, o Papa Bento XVI é considerado, em todos os círculos internacionais, como sendo o Reformador da Igreja Católica, um Teólogo mais erudito, e a mente mais clarividente dos últimos dois séculos. Certamente, ele era um Líder espiritual muito dedicado e misericordioso, que buscava a paz, a fraternidade e a reconciliação; tendo-se viajado para muitas partes do mundo, incluindo à Angola, que na altura estava dilacerada por uma guerra civil atroz.

Em referência ao saudoso Pelé, além de ser o «Superstar», o jogador mais destacado de futebol, ele de facto, constitui um símbolo mais brilhante do Povo Negro, especialmente dos Afro-Americanos, descendentes de escravos africanos, que foram embarcados em péssimas condições através do Oceano Atlântico para enfrentar a escravidão, o racismo, a brutalidade, a humilhação, o desprezo, a exploração, o trabalho pesado, a fome, a pobreza extrema, e a degradação.

É importante ressaltar que, o Brasil não era apenas o principal centro do tráfico de escravos, mas sobretudo, onde os escravos negros eram tratados das formas mais brutais, mantidos em condições desumanas; e onde, até hoje, os afro-brasileiros são mantidos em guetos (favelas), enfrentando obstáculos intransponíveis, incapazes de se desvencilhar das barreiras raciais, construídas pelo sistema político, munidos de mecanismos poderosos de opressão e exploração.

O sistema racial no Brasil é tão sofisticado que, a comunidade negra é restringida pela natureza e pelo preconceito racial a não poderem ascender ao topo da sociedade para concorrer livremente no mercado, em pé de igualdade, com a comunidade branca – como acontece nos Estados Unidos da América.


Portanto, a ascensão do falecido Pelé ao cenário mundial teve um impacto psicológico enorme sobre a discriminação racial e a consciência racial no Brasil e no mundo. A partir daquela época, e no decorrer dos Movimentos pelos Direitos Civis nos Estados Unidos da América, os Negros começaram a se levantar, buscando o respeito e a honra, conquistando espaços importantes em todos os domínios.


Para ser honesto, apesar do Movimento Universal de «Black Lives Matters», no Brasil, as perspectivas de “igualdade” e de “consciência negra” ainda são muito tênues. Eu acho que, o contexto cultural da sociedade brasileira desempenha um grande papel em manter a comunidade negra no obscurantismo e no domínio da comunidade branca, que exerce a hegemonia política e o monopólio económico. Na emergência dos Movimentos de Extrema Direita no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa as comunidades negras serão as principais vítimas desta corrente ideológica, a não ser que tomem medidas adequadas de autodefesa.

Pois que, é importante notar que, a cultura de «matriz latina» é baseada principalmente na “supremacia cultural,” ao invés de promover o bem-estar social, a consciência cultural e a igualdade racial. É por isso que, existe um fosso muito grande entre os Afro-Brasileiros e os Afro-Norte-Americanos. A diferença de mentalidade e de carácter também é distinguível nos países da África Subsariana, que foram colonizados pelas potências europeias, como Grã-Bretanha, França, Portugal, Espanha e Bélgica.

A título de exemplo, nas antigas colónias portuguesas os povos nativos são levados a acreditar que, eles são portugueses por natureza, e que, a língua portuguesa é a sua língua materna, e as suas línguas nativas são inferiores à língua portuguesa. Veja que, esta forma da hierarquização das línguas e das culturas se enquadra na doutrina da supremacia cultural, que assenta na transformação mental e na alienação cultural.

Sob a doutrina da superioridade cultural, as pessoas tendem a negar a sua própria identidade cultural e a sua origem étnica – enraizada na história, no costume, na tradição, na língua e no território. Despida da herança cultural, de matriz étnico-linguística, isso abre o caminho para a neocolonização dos povos africanos do Sul de Sahara.


Em suma, o malogrado Pelé desempenhou um papel muito importante, como Martin Luther King, Jr., cuja luta pelos Direitos Civis e pela Consciência Negra levou a mudanças profundas nos Estados Unidos da América e nas Colónias Africanas, com o surgimento de Movimentos Independentistas que combateram duramente a Colonização Europeia.

Na verdade, nós os pretos devemos muito ao Senhor Pelé, que emergiu dos subúrbios pobres do Brasil, para subir ao cenário mundial – reconhecido, honrado, dignificado e respeitado pela comunidade internacional. Deus nos abençoe; cuide a Alma e o Espirito do Papa Emérito Bento XVI e do Rei Pelé, para que possam estarem ao seu lado; em repouso eterno; na paz, no amor e na salvação – no Seu Reino Celestial.

Luanda, 01 de Janeiro de 2023.