Luanda - O chefe da diplomacia da China foi recebido esta sexta-feira (13.01) pelo Presidente de Angola, em Luanda. Qin Gang encontrou-se também com o ministro das Relações Exteriores angolano, Téte António, para discutir a cooperação entre os dois países.

Fonte: DW

Segundo a agência de notícias chinesa Xinhua, durante a reunião com o chefe de Estado, Qin Gang destacou a confiança política mútua e a amizade tradicional entre a China e Angola e os resultados frutíferos da cooperação. João Lourenço frisou igualmente o sólido impulso na cooperação bilateral, destacando o papel "indispensável" dos projetos com apoio chinês "na reconstrução pós-guerra e no desenvolvimento socioeconómico de Angola".

Também de acordo com a agência chinesa, no encontro com Tete António, Qin Gang mostrou-se pronto para trabalhar com o seu homólogo para "novos progressos" na parceria estratégia Angola-China. O chefe da diplomacia angolana, por sua vez, salientou que a China não só ajudou Angola a reconstruir o país após a guerra civil, mas tornou-se também o seu principal parceiro comercial e financeiro.

Em entrevista à DW África, o economista angolano Francisco Paulo diz que a relação Angola-China é para durar, sobretudo depois de a China apoiar Angola na reconstrução pós-guerra. Além disso, Angola é hoje um dos principais parceiros da China no continente africano. Estima-se que Luanda deve 18 mil milhões de dólares a Pequim, o equivalente a 40% da sua dívida externa.


DW África: Como está a relação Angola-China? Os dois países continuam a ser bons amigos?

Francisco Paulo (FP): Na relação Angola-China há uma dependência mútua. É uma relação que vai durar muito tempo. É claro que há sempre expectativas frustradas, aconteceu com Angola, especialmente com o Presidente João Lourenço. Mas a China tem tanto investimento em Angola -- até 2022, 40% da dívida externa angolana estava na China -- que é uma relação que veio para durar.

 

DW África: O que é que quer dizer com expectativas frustradas com João Lourenço?

FP: (Risos) Bom, é frustrada no sentido de que em 2018, na cimeira China-África, o Presidente João Lourenço esteve na China e provavelmente queria mais empréstimos, mas os chineses não estavam dispostos a dar mais, acredito eu, até porque depois o Fundo Monetário Internacional (FMI) teve de intervir ou ajudar, melhor dizendo. Os chineses estão também preocupados com os países africanos porque querem que os empréstimos que foram concedidos sejam investidos em projetos rentáveis, capazes de pagar a dívida. Não querem dar a dívida só por dar. Se o país não apresentar projetos credíveis, a China não vai estar disposta a dar dinheiro, podemos ter essa certeza. Angola tem de aprender essa experiência. Os chineses estão mais, como se diz em inglês, market-oriented, então precisam de ver algumas habilidades nos projetos.

 

DW África: Mais orientados para o mercado, é isso?

FP: Sim, querem que os empréstimos que concedem sejam pagos atempadamente. E até podemos dizer, de acordo com as estatísticas do Banco Nacional de Angola, que Angola tem cumprido com o pagamento da dívida à China.

 

DW África: Qual é o rumo desta relação China-Angola? Para onde é que vai?

FP: Na minha perspectiva, a relação com a China devia ser em termos de bloco: os países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) a negociar com a China na questão das infraestruturas, construção de estradas, caminhos de ferro, e permitir que essas infraestruturas seja conectadas. Essa negociação bilateral fragiliza a negociação. Negociar como um bloco, como União Africana ou SADC, é diferente, porque a China tem o projeto da Nova Rota da Seda, então a discussão deve ser feita a nível dos órgãos regionais. As infraestruturas têm de ser para toda a região.