Luanda - A agência Fitch Rating prevê que a inflação tenha caído de 28,8%, em 2021, para 22,2% no ano passado, "sustentada numa apreciação do kwanza e no fortalecimento do peso dos alimentos na cesta básica (para 55%)

Fonte: VOA

Economistas angolanos consideram que o crescimento económico do país, previsto pela agência de notação financeira Fitch Ratings, não terá impacto imediato no poder de compra dos angolanos.


Aquela agência de classificação de risco de crédito, com sede em Nova Iorque, EUA, prevê um crescimento económico de 2,7% neste ano e 2,5% em 2024, ano em que a dívida pública deverá ficar nos 54,5% do PIB.

O economista Estevão Gomes entende que, numa economia assente unicamente sobre a exportação de petróleo, a previsibilidade de crescimento estimada por aquela organização “é imaginária” e não tem qualquer impacto na bolso dos angolanos.

 

“O que é que adianta a inflação estar a descer, mas com o mesmo dinheiro que eu não consigo comprar maiores bens de consumo?", questiona Gomes.

Por sua vez, o académico e consultor de empresas João Maria Funzi Chimpolo diz não se poder falar em crescimento da economia num país em que as famílias estão cada vez mais pobres por conta da inflação.

“O que se constata no nosso país é que o poder de compra das famílias está cada vez mais a reduzir por cousa da inflação”, exemplifica

O produtor nacional da região da Ganda, na província de Benguela, Rui Magalhães, também manifestou reservas em relação ao peso do crescimento económico previsto da Fitch Ratings sobre a economias dos cidadãos.


“Estas previsões não colam”, afirma Rui Magalhães, contactado pela VOA a partir do Dubai.

Em nota distribuída no fim de semana, a Fitch Rating prevê que a inflação tenha caído de 28,8%, em 2021, para 22,2% no ano passado, "sustentada numa apreciação do kwanza e no fortalecimento do peso dos alimentos na cesta básica (para 55%), e deverá desacelerar ainda mais para uma média de 14% em 2023 e 11% no próximo ano".

"A Fitch estima que o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de Angola tenha acelerado de 0,7%, em 2021, para 3,1% em 2022, principalmente devido ao robusto desempenho da economia não petrolífera, mas também devido ao regresso ao crescimento positivo do sector do petróleo, prevemos que o crescimento económico desacelere para 2,7% este ano e 2,5% no próximo, principalmente devido a um declínio na produção", diz a Fitch Ratings.

Melhorias para Angola

Na nota que acompanha o anúncio da decisão de manter o rating em B- e melhorar a perspetiva de evolução para positiva, os analistas da Fitch escrevem que "a actividade nos sectores para além do petróleo deve continuar robusta, reflectindo a despesa do Governo nos esforços de diversificação e a descida das pressões sobre a inflação".

A descida do preço do petróleo face aos valores registados no ano passado, influenciados pelos impactos da guerra na Ucrânia, deverá fazer a balança corrente passar a negativa, com valores de -0,8% e -1% em 2023 e 2024, quando no ano passado teve um excedente de 1,7%.

A dívida pública, por outro lado, deverá continuar a trajetória descendente que iniciou em 2021, passando de 77,4%, nesse ano, para 60,3% no ano passado e 54,4% no próximo ano.

No que diz respeito à capacidade do Governo para implementar as políticas públicas, a Fitch considera que a vitória do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) em agosto do ano passado garante continuidade, e não esperam dificuldades de governação.

"A maioria alcançada pelo MPLA e o regresso pacífico à actividade parlamentar deve garantir a estabilidade política nos próximos anos", escrevem os analistas, concluindo que "apesar de a consolidação orçamental poder ficar mais desafiante com o avolumar de pressões sociais depois de cinco anos de recessão, não são esperadas alterações de políticas pelo novo Governo".