Luanda - Apesar de ser uma ins-tituição milenar e muito respeitada a nível do mundo, em Angola, ultimamente, a Igreja Católica tem sido «bombarde-ada» por várias tendências que têm manifestado uma «coragem diabólica», não medindo as con-sequências destes actos que não dignificam em nada a sociedade angolana, que aposta actualmen-te na democracia, reconciliação e unidade nacional. Pois, apesar da sua humanidade, ninguém duvi- da que a Igreja Católica foi uma confissão religiosa que sempre trabalhou para a conquista da paz, especialmente numa altura em que a sua actuação enérgica era necessária.

Fonte: SA


Numa era em que a democra-cia, no país, parecia um mito, a hierarquia católica levantou a sua voz e «triunfou» quando o regime monopartidário do MPLA «cedeu» para negociar com a UNITA. O resultado foi a assinatura do «malogrado» Protocolo de Bicesse, em 1991.


Hoje, não há dúvida que tudo mudou, e a hierarquia da Igreja Católica tem agido consoante os «sinais dos tempos». Isto é, consoante a actualidade, pelo que ninguém, absolutamente ninguém, pode forçá-la a optar por uma filosofia que não con-diz com os parâmetros da sua acção pastoral. Neste prisma, forçar a Igreja Católica a fazer isto ou aquilo, como sustentam caprichosamen-te alguns críticos, seria como que «ensinar o Pai-Nosso ao Vigário». Mas não é só isso. Pior ainda é que a Igreja, que sempre esteve e está ao lado de todos os angolanos (independentemente da sua raça, cor, credo político e religioso), na nossa opinião, está a ser alvo de críticas maldosas da parte de indivíduos que, intitulando-se jornalistas, estão porém, clara e sistematicamente, em contraven-ção frequente com os princípios éticos e deontológicos que devem nortear esta nobre profissão.

 

Os fazedores destas correntes anti-católicas e, consequente-mente, anti-clericais, não têm revelado o menor escrúpulo nem qualquer rebate de consciên-cia. Esgrimindo acusações sem fundamentos, dão largas a uma cruzada de calúnia e difamação que tem resultado no ultraje de figuras do clero angolano, cujas probidade e reputação jamais ha-viam sido postas em causa pela sociedade.


Não é pois sem espanto que vemos hoje manchada a repu-tação de conhecidos dignitários do clero angolano tais como o Cardeal Alexandre do Nasci-mento (Arcebispo Emérito de Luanda), Dom Damião Franklin (Arcebispo de Luanda e Reitor da Universidade Católica de An-gola), Dom Anastácio Kahan-go (Bispo Auxiliar de Luanda), Dom António Jaka (Bispo de Caxito), Dom Fernando Kevano (Bispo do Cunene). Nos últimos dias a cruzada difamatória não poupou dois co-nhecidos sacerdotes, nomeada-mente Apolónio Graciano e Mu-anamosi Matumona. O Cónego Apolónio não tem escondido as suas opções políticas (que não representam, de modo algum, a posição oficial da Igreja Católica em Angola). São opções pessoais e, como tal, devem simplesmen-te ser encaradas num quadro de cidadania compaginável com os passos democráticos que o país está a ensaiar, onde cada cida-dão tem a liberdade de expressar o que pensa.

 


Outro tanto se pode dizer re-lativamente ao conhecido Padre Muanamosi Matumona. Jorna-lista que se firmou desde os anos 80, ele tem sabido conduzir-se nos marcos desta profissão, sem abdicar da sua condição sacer-dotal desde que foi ordenado no Uíje, em 1995, por Dom Francis-co da Mata Mourisca, então Bis-po da Diocese do Uíje. Até prova em contrário, são todos eles ministros sagrados da Igreja Católica em Angola, os quais, como aliás os pastores de outras confissões religiosas, têm os mesmos direitos e deveres cor-respondentes a qualquer outro cidadão. E enquanto cidadãos, não consta que lhes deva ser co-arctado o direito de possuir bens pessoais, como casas, contas bancárias, meios de transporte próprios, etc.

 

De resto, no que diz estritamente respeito aos códigos éticos e deontológicos do catoli-cismo, há que referir que o Direi-to Canónico autoriza os bispos e padres diocesanos a adquirirem certos bens materiais, desde que o façam com muita moderação, sem escandalizar os fieis. Mas, em suma, cabe à Igreja Católica encontrar uma posição clara e mecanismos firmes para fazer frente a esta injustificada onda de ataques perpetrada por alguns cidadãos que revelam um desejo mórbido de atingir o clero autóctone. É o mesmo sentimen-to que os judeus sentiram em re-lação à figura de Jesus de Nazaré. Afinal, as histórias repetem-se em qualquer tempo e em todos os cantos do mundo. ■
 

(*) O artigo transcrito é de um cató-lico praticante, membro da Legião de Maria, que pediu para não ser identificado. O título foi adaptado pelo jornal.