Luanda - “Aos angolanos lhes dissemos: “Daqui só nos levaremos os restos dos nossos mortos”, e todos juntos os trouxemos para os municípios do país, ou seja, a seus lares de origem.” Raul Castro.

Fonte: Club-k.net

A passagem do efectivo internacionalista cubano por Angola teve diferentes fases de desdobramento, de acordo com a evolução e a correlação de forças existentes no terreno. Ela começou com instrutores cubanos junto de guerrilheiros do MPLA ao longo dos anos sessenta mas conheceu um notável incremente no período que correspondeu a proclamação da independência nacional, em Novembro de 1975, sob pressão de invasões pelo Norte e pelo Sul.


Consumada a proclamação da independência nacional é obtido reconhecimento internacional pelo novo Estado, a presença cubana no país africano estava essencialmente virada para a defesa da sua soberania e da Independência, face a continuidade das agressões do exército sul-africano.


As forças da SADF entraram inicialmente em Angola na implementação da “Operação Savannah”, despoletada em Agosto/Setembro de 1975, progredindo rapidamente para o norte com o fito de chegar à cidade de Luanda controlada pelo MPLA e impedir a proclamação da Independência.


No dia 4 de Novembro de 1975, iniciava a contra ofensiva angolano-cubana baptizada por “Operação Carlotta”, em homenagem a uma escrava negra de uma açucareira em Matanzas que, no dia 4 de Novembro de 1843, liderou uma revolta de escravos, de acordo com o escritor colombiano Gabriel García Márquez, num artigo publicado na “Revista Inter-Continental”, em 1977.


Assim, começaram a desembarcar em Luanda unidades das FAR (Fuerzas Armadas Revolucionarias) e sobretudo das Forças Especiais do Minint (Ministerio del Interior) que seguiram directamente para as frentes de combate no apoio aos contingentes das FAPLA, culminando com a expulsão dos invasores racistas em Março de 1976.


Continuou a ameaça sul-africana com invasões regulares ao território angolano, culminando inclusivamente com a criação de uma zona tampão no sul de Angola, província do Cunene.


Em 1981, os carcamanos, como eram chamados então, os sul-africanos, iniciam a chamada “Operação Protea” e conseguem penetrar numa profundidade de 200 quilómetros em território angolano, apesar da tenaz resistência das FAPLA.


O Governo chefiado pelo Presidente José Eduardo dos Santos solicitou uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, mas, como sempre acontecia, as resoluções eram, de imediato, vetadas pelos Estados Unidos da América, no uso da sua prerrogativa de membro permanente do C.S.


Apadrinhada pelos EUA, a estratégia sul-africana visava a completa desestabilização política e económica de Angola e passam assim a conceder um apoio militar massivo às forças da UNITA, cujo bastião era a localidade da Jamba, no sudeste da província do Cuando Cubango, a partir de onde faziam a infiltração de uma poderosa guerrilha, expandindo-se para norte, em direcção ao Caminho-de-Ferro de Benguela e, a partir dali, para as Lundas e Malanje, procurando asfixiar a capital do país.


Em Julho de 1987, as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, FAPLA, como exército nacional, iniciam uma ofensiva de grande enverga-dura a partir do Luena e do Cuito Cuanavale contra os principais redutos da UNITA, nomeadamente Mavinga e Jamba.


Estão envolvidas as brigadas 16, 21, 47 e 59, equipadas com artilharia pesada e veículos de combate e aviação com os Mig-23 e helicópteros de ataque ao solo Mi 24 e Mi 25.

A ofensiva governamental conta com assessoria de militares soviéticos e avança inicialmente com relativo êxito. Mas a África do Sul responde com um movimento militar de grande envergadura em auxílio da UNITA, a partir das suas bases no Rundu e Ondangwa, no norte da Namíbia.


O objectivo é neutralizar o avanço das FAPLA. O que vem a suceder é uma verdadeira escalada militar sem precedentes que vem alterar perigosamente a correlação de forças no terreno de batalha, onde os combates são encarniçados, nunca vistos em África, após a II Guerra Mundial.


Estão em curso inúmeras batalhas no território que conforma o chamado “Triângulo do Tumpo”, quando o então Presidente José Eduardo dos Santos solicita nova ajuda militar, prontamente aceite pelo comandante Fidel Castro.


Inicia-se assim, uma gigantesca operação logística a partir de Cuba e dirigida pessoalmente por Fidel a 11 mil quilómetros de distância em direcção a Menongue e Namibe. Num espaço relativamente curto, chegam ao terreno em Angola cerca de 50 mil combatentes internacionalistas cubanos que aparecem nas frentes de combate com um aparato militar verdadeiramente impressionante.


Em 5 de Dezembro, o primeiro contingente cubano de 3 mil e 100 soldados chega ao Cuito Cuanavale e junta-se aos efectivos entrincheirados na defesa da pequena vila. Ao mesmo tempo que, num contra-golpe, em movimento de pinça, um considerável efectivo avança em tempo recorde para a província do Cunene, ameaçando progredir para a fronteira da Na-míbia e penetrar no território ocupado pela África do Sul racista.


Os Mig-23, tripulados por pilotos cubanos e angolanos, obtêm supremacia aérea na região de Ruacana e a África do Sul é obrigada a desengajar efectivos que operavam no Cuando Cubango para virem defender a fronteira com o Cunene.


No dia 23 de Março de 1988, trava-se uma batalha decisiva com a duração de oito horas. A África do Sul é obrigada a retirar os seus homens do Cuito Cuanavale. Os combates tinham começado em 15 de Novembro de 1987.


O conflito termina na mesa de negociações tripartidas em Nova Iorque e um acordo é assinado, contemplando um pacote envolvendo a retirada cubana de Angola, a Independência da Namíbia e o desmantelamento do sistema segregacionista da África do Sul.


O Governo angolano aceita assina r o Acordo de Paz de Bicesse com a UNITA e são marcadas eleições gerais para Angola em 1992, com a constituição de um exército nacional único, as FAA (Forças Armadas Angolanas). Mandela é libertado e, em 1994, torna-se o primeiro Presidente negro na antiga pátria do “apartheid”, a África do Sul.


Raul Castro revelou num discurso no Brasil em 17 de Dezembro de 2008 que a gigantesca operação militar internacionalista iniciada no segundo semestre de 1975 em Angola durou 15 anos. Durante esse tempo, 300 000 militares cubanos passaram pelo país africano e dezenas de milhares de oficiais; segundo a situação.


“Sempre houve entre 35 000 e 55 000 soldados cubanos; viveram-se situações dificílimas em diferentes etapas desses longos anos, e do nosso povo, todos os que participaram, militares, profissionais ou da reserva, foram com caráter voluntário a cumprir essa perigosa missão internacionalista, disse Raul, acrescentando que mais de dois mil cubanos deram sua vida em tão nobre missão.