Luanda - O Executivo de João Lourenço reconhece "falha" no Canal do Cafu, destruído pelas chuvas, menos de um ano após a sua inauguração. Engenheiro culpa o Estado pela "fraca qualidade" da obra feita na província do Cunene.

Fonte: DW

O Canal do Cafu, construído na província do sul de Angola e que foi inaugurado pelo Presidente angolano, João Lourenço, em abril de 2022, já está danificado.

 

O Instituto Nacional de Recursos Hídricos do Ministério da Energia e Águas informou no domingo (05.02) que devido às fortes chuvas que ocorreram nos últimos dias na cidade de Ondjiva, capital do Cunene, uma das secções do Canal Condutor Geral do Cafu sofreu um deslocamento de placas.

 

Trata-se de um canal com 165 km de extensão, que foi pensado para aliviar os efeitos da seca no sul de Angola. Tem uma capacidade para transportar 50 milhões de litros de água e terá custado ao Estado angolano cerca de 140 milhões de dólares.

 

Mas como é que as chuvas danificaram o canal, menos de um ano depois da inauguração? Em declarações à DW, o engenheiro Jerónimo António diz que houve problemas de construção. E não terão faltado avisos.

 

"As obras do canal não são aceitáveis, não têm qualidade, e fomos alertando o Governo para isso, sobretudo quando vimos que faziam o reboco da parede com cimento normal, com talocha normal", disse o engenheiro alegando que o Canal do Cafu "não tinha condições para aguentar o peso da água que passa pela extensão".

"Culpa é do Governo"


A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição em Angola, pediu, entretanto, explicações sobre o que aconteceu no Canal do Cafu, e requereu a comparência dos ministros da Energia e Águas e da Construção e Obras Públicas no Parlamento.

 

O jornalista culpa o Governo e o empreiteiro pelo que aconteceu. Segundo Anselmo Leite, faltou vontade para fazer vários estudos e aplicar o material necessário para o sucesso do projeto.

 

O profissional disse ter constatado que não usaram materiais apropriados que garantam a resistência da construção por muito tempo.

 

"Senão vejamos: nós temos tido vários deslizes de solos, e com aquela qualidade de areia que estava aglomerada nos arredores do Canal do Cafu, qualquer chuva tinha a capacidade de romper aqueles barreiras e as águas danificarem as placas do canal", observou.

Falhas na fiscalização

O engenheiro Jerónimo António, que é membro fundador da Câmara de Comércio e Indústria no Cunene, acredita que os problemas no Canal do Cafu se terão agravado com a ocultação do que se estava a passar na obra.

 

A fiscalização terá falhado, refere o engenheiro, e é preciso impedir que casos do género se repitam no futuro. O Presidente da República, João Lourenço, terá um papel a desempenhar.


"Na verdade, não é o Presidente da República que faz a fiscalização nas obras, mas [apelo] ao Presidente [João Lourenço] para trabalhar com uma entidade independente, que vele por estas questões de fiscalizar as obras que gastam tanto dinheiro público", comentou.

 

O ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, assegurou esta terça-feira (07.02) em entrevista à Televisão Pública de Angola (TPA) que o Estado não vai pagar os danos. Será a empresa empreiteira a assumir os custos da reparação do Canal do Cafu, criando condições "para que eles não se verifiquem mais", disse o governante.

 

Baptista Borges reconheceu que houve uma "falha", mas garantiu que o Canal do Cafu irá "cumprir o seu papel" no combate à seca no sul de Angola.