Luanda - A História Registou (2): “Em Setembro de 1979, a caminho para Moscovo. . . o Presidente Agostinho Neto fez escala na Ilha do Sal. Encontrava-se fisicamente muito debilitado, pelo que não saiu do avião. E no interior do avião conferenciou com Aristides Pereira, a quem disse que padecia de uma doença muito grave e que as possibilidades de sobrevivência eram exíguas”. Pedro Pires, ex- estadista cabo-verdiano (pp.63-70).

Fonte: Club-k.net

Neto acabaria de facto por ser declarado morto aos 10 de Setembro de 1979, numa clínica especializada em cardiologia e doenças estomacais, nos arredores de Moscovo, por alegadas complicações no pâncreas. Durante muito tempo especulou-se e especula-se que Neto fora morto pelos russos que, alegadamente, estariam 'cansados' dele. Mas um antigo Presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires, desdramatiza a ficção mostrando que Neto, na realidade, já estava consciente de que a viagem de Moscovo de regresso à casa, seria numa luxuosa urna fúnebre russa: “Em Setembro de 1979, a caminho para Moscovo, onde iria ser submetido a tratamento, o Presidente Agostinho Neto fez escala na Ilha do Sal. Encontrava-se fisicamente muito debilitado, pelo que não saiu do avião. E no interior do avião conferenciou com Aristides Pereira, a quem disse que padecia de uma doença muito grave e que as possibilidades de sobrevivência eram exíguas”


Embora Lúcio Lara, o veterano ideológico e pressuposto braço direito e sucessor natural de Neto, lera para toda Nação a mensagem fúnebre do Comité Central do MPLA com lágrimas ininterruptas, José Eduardo dos Santos torna-se surpreendentemente qual “príncipe herdeiro”, assumindo com apenas 37 anos de idade, os destinos de Angola. Mas tão surpreendente não foi, pois Agostinho Neto já teria informado ao Bureau Político do Comité Central do MPLA-PT, que o seu sucessor chamar-se-ia o então jovem José Eduardo dos Santos, figura pouco conhecida em Angola e pelos angolanos naquela altura, apesar de já ter passado pelos Ministérios do Plano e Relações Exteriores.


Pedro Pires confirma uma vez mais esse segredo que para os angolanos naquela altura, pertencia aos deuses: “…Na altura à guisa de testamento, [Neto] disse ao Presidente cabo-verdiano que não deixasse esmorecer o plano de paz para a África Austral, por ele arquitetado. E que José Eduardo dos Santos seria o seu sucessor à frente do Estado angolano”.


A próxima abordagem em "A História Registou (3)", trazemos entre outros o depoimento de Luís de Assunção da Mota Liz , Magistrado Judicial, que forma nostálgica confessa “Era garoto, mas lembro-me perfeitamente da festa ”, referindo-se ao dia da proclamação da independência nacional. Traremos igualmente o depoimento de Pieter Wilhelm Botha, que para evitar que houvesse um 11 de Novembro na história de Angola, desabafa “Os Americanos prometeram-nos fechar o mar em volta de Luanda, para nós tomarmos a cidade. . .


Estivemos preparados para tomar Luanda. Mas os Americanos não cumpriram o que tinham prometido e deixaram-nos sozinhos. Estivemos tão perto que as nossas tropas podiam ver as luzes de Luanda”.


Siga-nos!(Estratos da obra: Angola- Caminhos e Desafios da Reconciliação e Reconstrução, da autoria de Orlando Ferraz)