Luanda - A História Registou (3): “Era garoto, mas lembro-me perfeitamente da festa ” (Luís de Assunção da Mota Liz, Magistrado Judicial).

Fonte: Club-k.net

Às 00H00 do dia 11 de Novembro de 1975, tal como há 10 meses fora decidido em Alvor, é proclamada, embora unilateralmente por António Agostinho Neto, a República Popular de Angola. Agostinho Neto se auto-proclama em nome do Comité Central do seu MPLA, perante a África e o mundo, Presidente da República de Angola. Com este gesto de má-fé, cobardia política e traição por um lado, mas de emoção e júbilo por outro lado, Agostinho Neto põe fim a quase cinco séculos de domínio colonial português, no entanto abre uma nova era negra na história de Angola: uma segunda Guerra de Libertação Nacional, visto que a UNITA e a FNLA, co-signatários de Alvor, não terem reconhecido o Governo chefiado por Agostinho Neto e considerarem Angola como colónia Soviético-Cubana. Um “garoto” na altura, Mota Liz, descreve assim suas emoções: “Era garoto, mas lembro-me perfeitamente da festa, do júbilo, embora num clima meio de terror, porque em 1975 estava no Norte e havia tropas zairenses e outras forças a recuar. Tivemos de fugir: eu, a minha mãe e os meus irmãos. Confesso que pessoalmente tive sentimento de grande medo. [...] Ao mesmo tempo tinha a sensação de liberdade, porque era a independência e antes das confrontações havia a mensagem da independência, da liberdade. Nas organizações de pioneiros festejamos, entusiasmamo-nos, convertemo-nos em heróis, mantendo a vigilância com armas de bordão”.


“Os Americanos prometeram-nos fechar o mar em volta de Luanda, para nós tomarmos a cidade. . . Estivemos preparados para tomar Luanda. Mas os Americanos não cumpriram o que tinham prometido e deixaram-nos sozinhos. Estivemos tão perto que as nossas tropas podiam ver as luzes de Luanda”. (Pieter Willem Botha)


Entretanto, esse depoimento do antigo governante sul-africano, mostra que o júbilo de Mota Liz, mais tarde vice-Ministro angolano da Administração do Território bem como o de outros tantos milhões de angolanos, inclusive meu próprio, poderia ter-se convertido num grande pesadelo e a história de Angola certamente teria tomado outro rumo, caso se concretizasse o plano da África do Sul, então regime constitucionalmente segregacionista racial.


Na ânsia de travar os êxitos político-diplomáticos do MPLA com a proclamação da Independência, a UNITA e a FNLA tentaram desesperadamente criar no planalto central angolano, Huambo, uma Angola II, a chamada República Democrática do Povo de Angola (RDPA) que viria mais tarde a cair no esquecimento e ignorância nacional e internacional.


Ernesto Joaquim Mulato, companheiro de luta de quase todos os tempos de Jonas Malheiro Savimbi, opina: "A criação da RDPA foi mais uma insistência teimosa de Holden Roberto, o Presidente Savimbi sempre se opôs a tal ideia e acreditou em contrapartida em negociar com o MPLA... Sabíamos que este Governo (da RDPA) não tinha pernas para andar".


Para a edição nr. 4 da série "A História registou", iremos ao encontro de uma histórica entrevista de Jonas Malheiro Savimbi à BBC de Londres e a VOA, entrevista essa que mexeu com o país, imprensa privada onde nem mesmo os veteranos jornalistas Emanuel da Mata, Paulo Julião, Reginaldo Silva & Co. não escaparam.


“Eu tenho sido envolvido por ter sido a pessoa que deu a cassete [à Ecclésia] com a entrevista com Jonas Savimbi”, Reginaldo Silva.


" ... Os angolanos podem se entender, Angola é para toda a gente, agora só a mania de Luanda, que só o importante é o do Norte, não pôde ser, eu não aceito".J. M. Savimbi


Siga-nos!(Estratos da obra: Angola- Caminhos e Desafios da Reconciliação e Reconstrução, da autoria do politólogo angolano Orlando Ferraz)