Luanda - Aumentam cada vez mais as reclamações de cidadãos sobre a falta de durabilidade dos projetos. Na província do Bengo, por exemplo, há uma estrada que quase todos os anos é alvo de uma intervenção, por causa dos buracos.

Fonte: DW

Os buracos tornaram-se já tradição na principal via de Caxito, a EN100. A estrada é intervencionada quase todos os anos, sobretudo em momentos que antecedem um grande evento. Mesmo assim, está constantemente esburacada e das duas uma: ou os condutores se desviam dos buracos, se não vem trânsito de frente, ou têm mesmo de passar por eles, aos solavancos.

Os residentes perguntam - como é que é possível? "Na maioria das vezes, são obras que não têm qualidade", lamenta o estudante Jorge Adão. "Um exemplo prático é essa estrada, que sempre tem sofrido alteração, está muito próxima da cidade. E é ver como fazem os passeios, os esgotos, está uma brincadeira. Até quem não entende de construção civil dá conta que é um improviso".

Este é um problema comum noutras zonas do país. Aliás, num relatório de junho de 2020, o Banco Mundial assinala que 64% das estradas angolanas estão em má ou péssima condição.

Não é por falta de investimento: entre 2008 e 2018, o Governo angolano gastou em média cerca de 2,1 mil milhões de dólares por ano no setor, sobretudo na reabilitação ou repavimentação de estradas. Mas os recursos não têm sido usados de forma eficiente, conclui o Banco Mundial. Se tivessem, seria possível construir "três vezes mais quilómetros de estradas nacionais".


Porque é que as estradas não duram muito em Angola?

Dois problemas apontados com frequência são a má qualidade do material usado e a falta de estudos prévios. Em 2018, o então diretor-geral do Laboratório de Engenharia de Angola fez um alerta: "De nada vale reforçar as estradas em estado de degradação com mais uma camada de betão, quando a base já foi mal feita", disse Rui Marques, citado pelo Jornal de Angola.

Outro grande desafio é a própria execução das obras, e isso não se aplica apenas às estradas, refere o jornalista Manuel Godinho, que já prestou assessoria a órgãos da administração local.

"O país tem uma classe política que toma decisões que, por vezes, não se apoia nas melhores opções técnicas, pois temos técnicos - também por culpa de vários interesses, entre eles o económico, outros até de natureza política – que vão sugerindo a configuração de determinadas obras, mesmo quando elas acabam de ser erguidas, e depois não atingem o desejável", considera.

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O docente universitário Amílcar de Armando diz que é preciso maior fiscalização e rigor na contratação pública: "Independentemente das empresas que ganham os concursos públicos serem de A ou B, pelo menos façam bem o trabalho, que haja uma fiscalização que permita que o trabalho seja bem feito".

Ainda assim, por vezes a política parece ter precedência. Ainda no ano passado foi inaugurada a ponte que dá acesso ao bairro do Quirindo pouco antes das eleições gerais, apesar de a obra não estar totalmente concluída. O diretor provincial do Instituto de Estradas, Fernando Ribeiro, admitiu isso mesmo recentemente.

"Havia a necessidade de se criar um impacto político por causa desta situação e permitiu-se que a ponte fosse inaugurada na altura", explicou.

A DW contactou o Gabinete Provincial das Infraestruturas do Governo Provincial do Bengo, mas não foi possível obter uma reação.