Luanda - Foi com as palavras que o então Primeiro Ministro sul-africano Balthazar Johannes Vorster terá aconselhado a um amigo seu, a respeitar a influência de Kaunda quando se tratasse de assuntos africanos e assim não só Angola e os angolanos, mas também o mundo o testemunharam. Tudo começou quando Kenneth Kaunda, com a chegada de Marcelo José das Neves Alves Caetano ao poder em 1968, decide um ano depois, aproximar-se ao regime de Pretória no sentido talvez, de imprimir mais dinamismo e proximidade entre os dois regimes, na altura com forte influência na região austral do continente africano, no respeitante aos movimentos de libertação nacionais, mormente em Angola, Moçambique, Namíbia, Zimbabwe e na própria África do Sul. “Eu escrevi a Vorster em 1969 acerca de alguns encontros que mantivemos com as autoridades portuguesas e ele respondeu.
Fonte: Club-k.net
“Se quiser perceber a África vá à Lusaka” Ernesto J. Mulato
Escrevi outra vez e ele respondeu. Depois ele atacou-me publicamente e eu [em retaliação], decidi publicar as cartas … O meu amigo Nyerere apoiou-me na decisão de publicar as cartas. Penso que o Vorster ao atacar-me, tinha o propósito de me desacreditar no congresso do meu partido UNIP e na cimeira da OUA. Queria ferir-me politicamente. Então eu disse aos meus amigos que ia dar uma lição à aquele homem. Algum tempo depois um amigo meu encontrou-se com Vorster e este disse-lhe “Se quer perceber a África, vá á Lusaka”. (Pág.173-178 )
Cruzei-me com a História
Esse “gigante” africano, com quem tive a honra de me cruzar e dialogar, quer queiramos ou não, teve um papel bastante preponderante na história de Angola, conforme detalhadamente narrado nesta obra. Ao ler a obra “ Savimbi: a Key to Africa” de Fred Bridgland, marcou-me uma passagem, sobre a qual Kaunda de certeza me poderia ajudar a desenvolver, nomeadamente da ordem de prisão que o mesmo terá ordenado á desfavor de Jonas Savimbi, quando este escalara Lusaka, de regresso de um périplo no estrangeiro. A resposta foi um sorriso seco seguido de „ A vida e as circunstâncias obrigam-nos muitas vezes a trilhar caminhos indesejados, mas que só Deus saberá os explicar“. Não satisfeito com a resposta, anos depois repeti a pergunta, desta feita dirigindo-a ao veterano e companheiro de primeira hora de Jonas Savimbi, nomeadamente o Mais Velho Ernesto Mulato que sem rodeios respondeu: “Confirmo que sim, ele (Jonas Malheiro Savimbi) foi preso quando regressava de um périplo a países como a China e a República Árabe Unida do Egipto, cujo documento de viagem era da Zâmbia, no dia 1 de Julho de 1967, por seis dias. Foi libertado por intervenção do Presidente Nasser, foi assim deportado para o Cairo. Razões de sua prisão: os guerrilheiros da UNITA tinham atacado os CFB que era propriedade dos Ingleses e foram estes que pressionaram Kaunda” (Pág.177 )
(Estratos da obra: ANGOLA - Caminhos e Desafios da Reconciliação e da Reconstrução, a ser lançado no próximo dia 04 de Março nos arredores de Colónia/ Alemanha).