Luanda - Angola não tem sabido acompanhar a dinâmica mundial de produção audiovisual, de modo geral e, do continente de modo particular. Calculam-se ganhos resultantes da ficção e do cinema acima de USD 4 mil milhões.

Fonte: VOA

Mas, os problemas de base constituem um forte handicap para o desenvolvimento do país neste sector. Tais problemas, dificultam a instalação da indústria audiovisual, como explica Renata Torres, artista e produtora.


«Assim como tudo o resto nós temos ainda muitos problemas de base, obviamente o que dificulta o desenvolvimento da indústria cinematográfica. m termos de produção, só para termos uma ideia, para conseguirmos locações, para filmar em alguns espaços…Tem muitos espaços vazios que não são usados, mas que também não são cedidos para uma produção», referiu a também atriz para quem a ficção ainda não é vista como uma indústria que pode gerar receitas.

A ausência da indústria de ficção em Angola deve-se a falta de interesse e de políticas públicas seja de incentivo à criação nacional como de financiamento à iniciativas locais, o que obriga a paragens forçadas na produção nacional, conforme afirmou Sofia Buco, Actriz, Activista Social, Apresentadora e Produtora de TV.

«As vezes as paragens não são satisfatórias e soam muito estranho. Parece que há uma ala que não está preocupada em ter os nossos conteúdos nas nossas televisões, por que é só notar o número de novelas mexicanas, novelas, novelas chinesas nas nossas estações».

A UNESCO publicou em finais de 2021 um Relatório sobre “A Indústria do Filme em África: tendências, desafios e oportunidades de crescimento”.

Segundo o documento, a produção e distribuição de filmes é um dos sectores mais dinâmicos no mundo e que em África, com recursos as tecnologias de informação e comunicação tem vindo a crescem, gerando anualmente um rendimento de cerca de 5 mil milhões de dólares e emprega cerca de 5 milhões de pessoas. Com investimentos no sector esse rendimento e empregos poderiam ser quatro vezes mais, refere o relatório.

Para o actor e produtor angolano, Sílvio Nascimento, os outros países já perceberam que investimentos na produção cinematográfica e na ficção trazem benefícios vários para o ecossistema cultural, promovendo o turismo, a apreciação da cultura nacional, assim como diferentes bens e serviços locais.

«Os outros países estão a anos-luz de nós, já perceberam que investir na ficção traz benefícios e já perceberam a importância de verem os seus produtos na TV para estes fazerem o ecossistema cultural. A produção de novelas é uma forma diplomática de elevar o país. Deve fazer parte da diplomacia cultural do país. Devemos fazer dos actores embaixadores do turismo para o país. Está a faltar investimentos no sector.

Todo um país que se quer desenvolver deve pensar também na ficção, diz o Produtor Executivo das telenovelas “O Rio” e “Mahinga”, da Diamond Films. Gregório de Sousa cita as produções de novelas em países como a Turquia para referir que as mesmas são resultantes de uma política de Estado, o que não acontece em Angola.

As produções da Diamond Films já resultaram em mais de 4.600 postos de trabalho temporários e 300 empregos fixos, o que, contas feitas, tem impacto directo em centenas de famílias.

«As três produções, das quais duas são para DSTV neste momento empregam mais 300 pessoas, em empregos directos e os empregos indiretos são variadíssimos. Só para ter uma ideia, “O Rio” gravou mais de 4.600 cenas, se tivermos um figurante para cada cena nós teremos mais de 4.600 pessoas envolvidas só na produção da telenovela o “O rio”. É possível através da produção gerar empregos e dar alguma satisfação às famílias», referiu.

A ficção pode gerar rendimentos dignos desde que que sejam projectos contínuos, diz o Produtor Executivo que lamenta não haver em Angola um incentivo, tão-pouco clientes de produtos audiovisuais, não restando alternativa para sua produtora, senão vender para empresas estrangeiras distribuidoras de canais de TV por assinatura, mesmo que a um preço muito abaixo do praticado no mercado.

É preciso olhar para arte e para produção de telenovelas nacionais com responsabilidade, por isso Sofia Buco defende que se criem incentivos sejam de iniciativas privadas ou públicas.

«É preciso sentar com patrocinadores e dizer-lhes que vantagens podem obter patrocinando telenovelas. Empresa nenhuma vai continuar a gastar o seu dinheiro ou a patrocinar produtos senão estiver a sentir algum tipo de retorno. Enquanto esta imagem não mudar, enquanto as pessoas continuarem com palavras bonitas e, na execução aplicarem métodos feios, vamos continuar com estes problemas», defendeu.

A solução para obtenção de financiamento para ficção passa pela implementação da Lei de Mecenato. O produtor e actor Sílvio Nascimento entende que sem isto resolvido “é enfadonho” bater sempre na mesma tecla.

«As empresas privadas precisam olhar para Angola com responsabilidade sociocultural. Nós precisamos de dinheiro para fazer filmes novelas», frisou.