Luanda - O líder do Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe já está em liberdade e diz que não vai baixar os braços após dois anos na prisão. O ativista angolano quer dialogar com o Governo de João Lourenço.

Fonte: DW

Nas primeiras declarações aos jornalistas desde que foi libertado, há uma semana, José Mateus Zecamutchima, o líder do Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe, acusou o Estado de o ter detido por motivos políticos.

 

"Fui preso político e estou nas vestes de preso político. Ninguém me pode chamar de malfeitor, porque têm de apresentar provas do mal que fiz. Sou preso político. Isso não tem outro nome", afirmou em conferência de imprensa, esta quinta-feira (09.03), em Luanda.

 

O líder do Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe foi detido há dois anos, acusado de associação criminosa, rebelião armada e ultraje ao Estado.

Ativista demarca-se do caso Cafunfo

O caso remonta a janeiro de 2021, quando ocorreu uma manifestação em Cafunfo, na Lunda Norte, a que se seguiram confrontos entre a polícia e os manifestantes, supostamente ligados ao Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe. Até hoje, o que aconteceu não foi completamente esclarecido. A sociedade civil denunciou, na altura, um "massacre" de mais de 100 pessoas; as autoridades disseram ter agido contra um "ato de rebelião" e contaram seis mortes.

 

José Mateus Zecamutchima insiste que o Protetorado "não é uma organização de malfeitores" e que não teve nada a ver com os acontecimentos em Cafunfo.

 

"Como é que podia preparar uma rebelião estando a viver em Luanda?", questiona. "Foi o povo das Lundas que se manifestou contra a pobreza e a miséria absoluta que vivem. O Governo estava consciente que eu estava em Luanda, conheciam a minha casa e o Governo sabia que eu não estava lá", acusa.


A luta continua

Zecamutchima foi agora libertado no âmbito da lei da amnistia. Assegura que não ficou abalado com o processo judicial e promete continuar a lutar pela autonomia das Lundas. A causa por que luta é maior do que ele, diz o ativista.

 

"O Protetorado é um património do povo Lunda Tchokwe e de Angola. É um património que não termina comigo. Eu vivi 24 meses difíceis na cadeia, mas os companheiros continuaram a trabalhar aqui fora. Não era eu a conduzir, mas eles conduziram. As pessoas passam, mas a instituição não vai passar", garante.

Recado a João Lourenço

O líder do Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe diz estar aberto ao diálogo com as instituições para se encontrar caminhos para o "bem-estar do povo" das Lundas.

 

"A Sua Excelência, o Presidente da República, que agora está a mediar o processo dos Grandes Lagos, na República Democrática do Congo, o único recado que tenho é o diálogo. Nós, o povo da Lunda, queremos dialogar", afirma.

 

O presidente do partido Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes, que esteve na conferência de imprensa de Zecamutchima, esta quinta-feira, disse à DW que "é natural" que os protestos possam continuar enquanto o Governo não corrigir as assimetrias em Angola.

 

"Essas regiões, sobretudo as Lundas, que produzem diamantes, não veem o impacto disso na vida das comunidades. Naturalmente, isso cria revolta no seio das populações, pois há uma pobreza imensa. É natural que os grupos se organizem, é natural que haja reivindicações políticas avançadas sobre a autonomia administrativa, sobre autonomia financeira. E o Estado, como não é democrático, não sabe dialogar, só sabe reprimir", aponta Vieira Lopes.