Luanda - Em nome da minha família e em meu nome pessoal tenho o dever patriótico de prestar a nossa homenagem ao General José Antero Kufuna Yembe, conjurado do Muangai, que nos deixou definitivamente no dia 10 de Março de 2023, na Cidade do Luena.

Fonte: Club-k.net


Neste momento conturbado queiramos expressar os nossos profundos pêsames e endereçar as nossas mais sentidas condolências à família enlutada, sobretudo, á sua viúva, que sempre esteve ao lado dele nos momentos mais difíceis da travessia do dveserto, como consequência do final da guerra-civil – em 2002.


O malogrado Kufuna Yembe foi um nacionalista abnegado, um antigo combatente e veterano da pátria, um cabo de guerra mais destacado e mais temido, que sempre esteve na primeira linha de luta pela independência nacional e pela democracia plural.

 

Lembro-me que, em 1967, de regresso ao interior do país, vindo de Lusaka, com Samuel José Chiwale, Moises Njolomba, Eduardo André Sakuanda, Júlia Mukumbi e Rev. Francisco Kafunga, fomos recebidos por Kufuna Yembe e por Zeca Directo Katali nas margens do rio Lukula, um afluente do Rio Luanginga, próximo da fronteira da Zâmbia.

 

No fundo, eles ficaram com a responsabilidade de garantir a segurança do corredor entre o rio Lungué-bungo e o rio Luanginga, na perspectiva do regresso do Egito (Cairo) do Presidente Dr. Jonas Malheiro Savimbi e do Secretário-Geral Miguel N’Zau Puna.

 

Aliás, foram eles que nos conduziram para as áreas do Lungué-bungo, perto do Caminho de Ferro de Benguela, onde se ergueu a Base de Apoio das Terras Livres de Angola, onde se iniciou a estruturação das primeiras unidades de guerrilhas e de onde se progrediu para o Planalto Central, para as Lundas e para o Kuando Kubango.

 

Nesta altura, de 1967-1968, todos os corredores onde penetraram os 11 comandantes da UNITA, treinados na Academia de Nanking, na China, estavam em pleno desmoronamento. O único espaço mais estável e mais seguro foi este corredor, acima referido.

 


O malogrado Kufuna Yembe fez parte do «núcleo duro» dos quadros político-militares, treinados no interior do país, que assumiram integralmente a luta de libertação nacional, já que, uma boa parte dos comandantes treinados na China e na Tanzânia, no Campo de Kongwa, estavam presos, mortos ou retiraram-se para Zâmbia.

 

Em 1969, no rescaldo do regresso do Cairo do Jonas Malheiro Savimbi, Kufuna Yembe neutralizou e desbaratou a operação militar dos Flechas, sob o comando do Tiago Sachilombo (natural do Huambo e treinado na China), na localidade do Chilongoi, ao longo do rio Luanginga.


Essa operação militar estava enquadrada na Estratégia do Exército Colonial Português e da PIDE que visava aliciar os comandantes da UNITA, infiltrar as unidades de guerrilhas, penetrar nas áreas sob o controlo da UNITA, localizar a posição do Jonas Savimbi, invadir a área, capturá-lo ou matá-lo.


A operação do Chilongoi foi muito complexa e de grande envergadura, que exigiu muita inteligência, astucia, habilidade e rapidez para iludir e surpreender o inimigo, e pô-lo em debandada, abandonado todo o seu armamento.

 

Ao longo da luta de libertação nacional e do período que seguiu o 25 de Abril de 1974, Kufuna Yembe foi um dos melhores comandantes da UNITA, que palmeou o país – do Sul ao Norte. O Kufuna Yembe foi uma personalidade muito forte, carismático, corajoso, frontal, astuto, leal, disciplinado, firme, intransigente e persistente.

De facto, o Kufuna Yembe foi um soldado, por excelência, aprumado, que sabia aplicar eficazmente a Arte de Guerra, mesmo nas condições difíceis e desfavoráveis. Na verdade, ele foi feliz, ter-se trilhado uma longa caminha sinuosa e gloriosa, cheia de odisseia e de epopeia.

 

Somente fico mais triste quando está em evidencia o facto de que, os que fazem uma História não fazem parte da mesma História. Essa é uma realidade inequívoca, dura, amarga, e tão claro como água, que ofende a consciência do Homem.

 

É neste contexto da vida humana que a História é distorcida diante os factos da História. Mas, como a História é implacável, ela sempre emerge do fundo do Mar, e se afirma de modo intransigente. Paz à Sua Alma. Descanse em Paz! Glória nas Alturas.

Luanda, 11 de Março de 2023