Luanda - No fim de semana, uma vigília em homenagem ao rapper Azagaia foi inicialmente reprimida pela polícia em Luanda. Ativista Hitler Samussuku diz que "está na hora" de o Estado angolano permitir o direito à manifestação.

Fonte: DW

No sábado (11.03), a polícia angolana reprimiu inicialmente uma vigília em homenagem ao rapper moçambicano Azagaia, que morreu na semana passada em Maputo.

 

Os ativistas dizem que comunicaram a realização da vigília à polícia e a atividade não foi autorizada. Mesmo assim, dezenas de jovens foram para as ruas de Luanda homenagear o músico. "Depois de perceberem que as pessoas tinham chegado em massa", as autoridades "não conseguiram controlar a situação", conta o ativista Hitler Samussuku em entrevista à DW África.


O membro do Movimento Hip-Hop 3ª Divisão critica a postura da polícia angolana, que, segundo diz, tem "violado sistematicamente o direito de reunião e manifestação, consagrado na Constituição". E diz que "já está na hora" de o Estado começar a aceitar esse "princípio democrático".

 


DW África: No sábado, que razões apresentou a polícia angolana para reprimir a vigília?

Hitler Samussuku (HS): O comandante da esquadra disse que os jovens que pretendiam concentrar-se naquele local para fazer a vigília careciam de uma autorização do governo provincial, porque ele depende de órgãos superiores. Enquanto não tiver ordens superiores, ele não permitiria a concentração de jovens para fazer a vigília.


DW África: Não tinham comunicado às autoridades a vossa intenção de fazer vigília?

HS: A morte de Azagaia foi na quinta-feira (09.03) e, no dia seguinte, começámos a elaborar uma carta para endereçar às autoridades com o propósito de informar sobre a nossa pretensão de realizar uma vigília. Eles sugeriram-nos fazer chegar a carta a uma esquadra mais próxima, tendo em conta que nós não tínhamos informado o governo provincial.


O responsável pela esquadra disse que não iria garantir nenhuma segurança, antes pelo contrário. Ainda assim, depois de algumas horas, voltou a ligar para nós, pedindo para reunirmos às 09h00. Estava na reunião o comandante da esquadra, mas este recebeu um reforço de alguém que exercia funções de chefia ao mais alto nível, no comando municipal daquele perímetro onde nós pretendíamos organizar a manifestação. E esse senhor é que disse que iria reprimir a vigília.

 

DW África: Mas acabaram por conseguir levar avante a vigília, apesar da forte presença policial...

HS: Deixámos bem claro que, independentemente das ameaças que a polícia estava a fazer, iríamos concentrar-nos naquele espaço. Quando eram 17h00, o espaço já estava totalmente inundado com agentes da polícia. Nós tentámos entrar no largo e eles não permitiam. Levou muito tempo. Perto das 19h00 apareceu um outro responsável da polícia, que procurou dialogar connosco e depois permitiu que ficássemos lá das 19h00 às 21h30.

 

Ou seja, nósconseguimos fazer a vigília depois de muita resistência contra a polícia. Conseguimos reunir mais de duzentas pessoas naquele espaço e conseguimos cumprir aquilo que estava agendado. Depois de perceberem que as pessoas tinham chegado em massa, em grupos, vinham de todos cantos, eles não conseguiram controlar a situação, mas no início foi muito difícil.

 

DW África: Acredita que o facto do músico moçambicano Azagaia ter sido uma voz crítica e influenciado movimentos cívicos poderá ter motivado esta repressão?

HS: Não necessariamente. A nossa polícia tem sido alérgica a qualquer tipo de manifestação ou concentração ligada a jovens ativistas. Incomoda-os tudo o que estiver ligado aos ativistas. Têm alergia a este tipo de iniciativa. A polícia tem violado sistematicamente o direito de reunião e manifestação que está consagrado na Constituição da República de Angola, que o Presidente João Lourenço jurou cumprir e fazer cumprir. Então, as nossas autoridades devem começar a aprender a lidar com estas coisas, porque a manifestação faz parte dos princípios democráticos. Está mais do que na hora de começar a aceitar isso.