Lisboa – As autoridades angolanas orientaram o seu embaixador nos Estados Unidos da América (EUA), Joaquim do Espírito Santo, a regressar de vez a Luanda, enquanto aguardam pelo o “agreement” de Washington para acreditação do futuro representante do Estado angolano na capital americana.

Fonte: Club-k.net

AFASTAMENTO INÉDITO

 
Oficialmente, o governo de Angola ainda não anunciou publicamente sobre a exoneração de Joaquim do Espírito Santo.

 

Em meados de Janeiro deste ano, Joaquim do Espírito Santo viajou ao Canadá para apresentação das cartas credenciais, porém, duas semanas depois foi chamado a Luanda, onde lhe foi comunicado pessoalmente pelo ministro das Relações Exteriores, Téte António, que estava dispensado das funções que ocupa.

 

Ao longo da semana passada, os funcionários da missão diplomática em Washington D.C. receberam uma circular a comunicar-lhes que estava “terminada a missão ordinária do embaixador”, e que estavam convidados a participar de uma cerimónia de confraternização na residência oficial do mesmo, que teria início às 13h00 do último sábado.


A retirada ‘brusca’ de Joaquim do Espírito Santo de Washington D.C. é citada por analistas que acompanham as relações entre Luanda e EUA como algo inédito na diplomacia angolana, já que se retira um embaixador num momento em que Luanda aguarda pelo agrément do futuro chefe da missão, Agostinho de Carvalho dos Santos Van-Dúnem ‘Gugu’.


Espírito Santo deve regressar a Luanda no próximo dia 7 de Abril e, durante esse período, a embaixada angolana deverá ser dirigida por um encarregado de negócios, Fernando M'Bachi.

 

A saída de Joaquim Espírito Santo é associada ao avolumar de vários episódios, dentre os quais a má prestação, quer no plano da execução da política externa na capital americana, como na gestão administrativa e financeira da embaixada.


Em Dezembro de 2022, o Presidente João Lourenço visitou Washington D.C. e, no seguimento de uma reunião com os funcionários da embaixada, foram levantadas várias reclamações desfavoráveis contra o embaixador, com realce para as senhoras, que se queixaram de supostos assédios.


Soraia Brandão, uma antiga secretária de Joaquim Espírito Santo, afastada por este, chegou a fazer chegar, em finais do ano passado, uma exposição com conteúdo comprometedor ao Gabinete Presidencial em Luanda, denunciando episódios por que havia passado às mãos do chefe da missão diplomática nos EUA.


Em consequência disso, a relação laboral entre a ex-secretária e o embaixador azedou de tal maneira, resultando em “falta de consideração”, o que teria levado Soraia Brandão a escrever para o Palácio Presidencial.


A Joaquim Espírito Santo é-lhe também atribuído problemas de relações humanas; dos 32 funcionários que integram a embaixada angolana em Washington D.C., somente 12 compareceram no seu almoço de despedida, no último sábado.


Há informações segundo as quais Joaquim Espírito Santo hostilizava o ministro-conselheiro Fernando M'Bachi, que é o número dois da embaixada, e que também teria se incompatibilizado com o secretário das Relações Internacionais do MPLA, Manuel Domingos Augusto. Acusam-no, igualmente, de ter declarado uma ‘guerra fria’ à adida de imprensa, Maida Augusto Wanuque, filha de Manuel Augusto.


Espírito Santo chegou a propor, prematuramente, ao ministro Téte António o afastamento da adida de imprensa, como forma de se vingar de Manuel Augusto, que, ao tempo de ministro, o havia afastado do cargo de director para África, Médio Oriente e Organizações Regionais, por alegada “inobservância dos procedimentos da cadeia de tomada de decisão interna, que lesou o bom nome e imagem de Angola com países com os quais mantém uma histórica relação diplomática”.


Segundo apurou o Club-K, os problemas de relações humanas atribuídos ao embaixador são, igualmente, verificados junto do corpo diplomático acreditado nos EUA; os diplomatas da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) em Washington D.C. removeram-no de um grupo do WhatsApp dedicado à abordagem de interesses do organismo.