LUANDA — O desabamento do edifício 76-78 da Avenida Comandante Valódia em Luanda, na madrugada de sábado último 25 de Março, segundo dados oficiais terá sido resultante do esgotamento da capacidade resistente dos elementos estruturais do mesmo. Embora não hajam vítimas mortais, os antigos moradores, 18 famílias prontamente desalojadas, lamentaram na ocasião as perdas materiais.

Fonte: VOA

Especialistas ouvidos pela Voz da América na capital angolana chamam atenção para o mau uso de muitas infraestrturas, o envelhecimento acelerado dos edifícios, a falta de manutenção e o excesso de cargas, factores que estimulam a perda de capacidade de resistência, o surgimento de fissuras nas paredes e lajes entre outros elementos que podem contribuir para sua queda repentina.

 

A falta de manutenção em edifícios antigos torna-os vulneráveis e expostos, diz o Engenheiro Civil, António Cambundo, para quem as infiltrações também afectam as estruturas e fazem com que as armaduras fiquem corroídas, deixando de atender as funções para quais foram construídas.

 

«Há também outros factores que podem contribuir para tal, que é o recalque. Quando o solo de fundação perde as capacidades de resistência, produz recalque nas estruturas e assentamentos diferenciados. Isto por si só causa cisalhamento, cria fissuras, trinca aliado a isto a sobrecarga e esforço adicionais são factores que combinam para que as estruturas colapsam”, afirmou.

 

Outro factor que não deve ser descurado do ponto de vista técnico é a drenagem, uma patologia muito comum muitas vezes diagnóstica nos edifícios contruídos no período colonial.

 

Para o Engenheiro Civil Celestino Lanzi, em grande parte dos edifícios coloniais as tubagens estão embutidas uma vez que ocorre vazamento nas paredes feitas de alvenaria a água na medida em que procura caminhos resulta na humidade das paredes o que pode forçar a desintegração dos elementos de conexão do betão.

 

Segundo o especialista «o betão que é utilizado depende da classe de exposição» e para o caso do edifício 76-78 da Avena Comandante Valódia, «como era edifício antigo já apresentava algumas fissuras nos elementos estruturais”.

 

“ E estas fissuras foram deixando à vista as armaduras e estas combinadas com betão conferem maior resistência aos elementos estruturais principalmente a compressão», explicou o engenheiro para quem «se estas armaduras sofrerem ataques que provocam oxidação da armadura rapidamente assiste-se à perca da capacidade de resistência e fazer com que o edifício perca a sua estabilidade».

 

O acréscimo de elevadas cargas à estrutura, as obras de movimentação de terra e reservatórios de água acima do recomendado, aliados à falta de manutenção preventiva e periódica são factores que sobrecarregam a estruturas e que terão originado a queda do edifício em Luanda, de acordo com o Engenheiro de Construção Civil, Martins Fabião.

 

«Foi feito um aumento de carga na estrutura. Nalgumas vezes colocam-se reservatórios de mais de 5 mil litros de água, fazem-se obras de movimentação de terras nos arredores com recurso a máquinas cujas vibrações afectam as fundações das estruturas», referiu o especialista.

Sobre o excesso de carga que sobrepõem as estruturas, segundo o Engenheiro Civil António Candumbo comprometem o funcionamento dos elementos estruturais de uma infraestrutura, principalmente quando esta não tem manutenção.

«Para termos uma ideia, um metro cubico de água pesa uma tonelada Multiplicando isto pelo número de reservatórios num edifício já podemos imaginar o peso que isto traduz. Pensando também um pouco na situação dos geradores que produzem cargas e esforços não previstos no acto do dimensionamento do edifício. Todos estes factores combinados reduzem o tempo de vida e aceleram a degradação da estrutura», disse

Existem alterações que impactam as estruturas de forma negativa e, as consequências podem ser desastrosas como as que se observou há uma semana em Luanda. ~

O Engenheiro e Desenhador Projetista, José Miranda cita o aumento de compartimentos em mutis edifícios em Luanda e não só, que resultam em stress sobre a fundação e sobre os pilares que os assegura.

Os cuidados em cada etapa das obras são fundamentais para se evitar desabamentos e, a pós a sua finalização é importante a manutenção permanente de modos a garantir a vida útil das infraestrtuturas.

Sobre o edifício que desabou na capital angolana, o Laboratório de Engenharia de Angola aponta como possível causa da queda do prédio, a rotura numa tubagem da rede de distribuição de água de um edifício vizinho. O também Professor de Técnicas de Construção Civil, José Miranda, fala em negligência do LEA e crítica o seu modo operandi em relação a necessidade de acções técnicas de prevenção.

«Há alterações nos edifícios que podem causar sobrecargas nos edifícios. Há moradores que o fazem sem consultar um especialista», disse

A construção de compartimentos não previstos por cima de edifícios deve ser proibida e as autoridades devem ser implacáveis na tomada de medidas, adverte o Engenheiro Civil Celestino Lanzi para quem deve haver também a responsabilização criminal de quem autoriza construções não contempladas no projecto inicial de algumas infraestruturas.

«As diferentes entidades que fazem a gestão patrimonial dos bens públicos ou privados, em primeira instancia, devem ser responsabilizadas, porque a construção de mais dois ou três andares nos terraços não são feitas de noite, mas sim de dia. Agora se foram feitas por meio de uma licença deve-se responsabilizar quem autorizou tal licença porque aquele carregamento não esteve programado», advertiu.

É preciso que se estabeleçam normas que proíbam e inibam a prática de construção desornada e fora dos parâmetros técnicos e legais em edifícios antigos, apela o Engenheiro Civil Martins Fabião, para quem « o acréscimo de compartimentos põe em causa não apenas o tempo de vida útil dos edifícios, mas também a vida das pessoas que frequentam tais estruturas».

O incidente que ocorreu no último final de semana não é o primeiro, nem o único. Em Março de 2008 o edifício de sete andares que acomodava a extinta Direcção Nacional de Investigação Criminal, - actual Serviço de Investigação Criminal - também desabou em circunstancias estranhas e até agora ainda não devidamente esclarecidas.

O director nacional de Infraestruturas Urbanas, Fernando Francisco, revelou em recente entrevista à imprensa que existem muitos edifícios no país com sinais avançados de degradação, o que representa um perigo eminente de desmoronamento a qualquer momento. Por esta razão, os especialistas apelam a realização de manutenção periódica dos prédios. O Engenheiro e Desenhador Projectista José Miranda, alerta que as operações de manutenção não se reservam apenas aos velhos edifícios, mas também aos novos “para evitarmos a situação que ocorreu o edifico da Avenida dos Combatentes”.

A prevenção é o melhor caminho, por isso o Engenheiro Civil António Candumbo apela que as autoridades trabalhem em colaboração com as diversas instituições especializadas na matéria para atempadamente serem diagnosticadas as patologias e indicam o estado actual dos imóveis.

Para o Engenheiro Martins Fabião, é preciso um aturado trabalho de sensibilização sobre a manutenção das infraestruturas, o seu uso e as consequências das possíveis alterações fora das normas.

Trabalhos de fiscalização sobre o estado técnico dos edifícios, assim como a responsabilização de quem autoriza alterações ou aumento de compartimentos sobre os imóveis, são acções necessárias para prevenir acidentes no futuro, segundo o Engenheiro António Candumbo.