Lisboa – Morreu na madrugada desta quinta-feira, 6, em território de Cabinda, o antigo padre Católico, Jorge Casimiro Congo, em condições ainda não esclarecidas.

Fonte: Club-k.net

Bastante popular em Angola, Jorge Casimiro Congo, que no passado dia 28 de março completou 71 anos de idade, tornou-se figura central por ter sido o primeiro elemento civil em território de Cabinda (parte das cidades) a levantar abertamente e em público a discussão sobre a autodeterminação daquela região ao norte do país. Fê-lo num período em que acabava de regressar de Portugal, onde frequentou seminário em Braga.

 

No consulado do governador José Amaro Tati que durou entre 1995 a 2002, Padre Congo tornou-se voz activa sendo a entidade que criticou abertamente o assassinato de um jornalista António Casimiro  que fora morto, alegadamente a mando de dois influentes empresários Tótó e Nascimento, mas que na versão popular atribuía-se aquela morte como sendo do interesse da ala empresarial  do então responsável máximo da província. Antes do assassinato, o jornalista recebeu ameaças de um alegado  membro da inteligência Francisco Raul Rocha. 

 

Participou também em 2003, na constituição da muito ativta AssociaçÃo Cívica de Cabinda (Mpalabanda) que viria a ser extinta pelo Tribunal em 2005 por alegada subversão à ordem constitucional e atentatória ao estado unitário.

 

Desde então, o Jorge Padre Congo passou a ser visto como uma ameaça para as autoridades angolanas, sendo diversas vezes perseguido e emboscado pelas forças de segurança por pregar direitos dos leigos. Foi excomungado pelo Vaticano e encabeçou a uma outra congregação, neste caso a Igreja Católica das américas tornando-se seu representante em Cabinda.

 

Em 2014, denunciou que a Polícia angolana havia cercado a sua residência na região de Lândana - município de Kakongo, a pretexto de que teria planeado manifestações.

 

Seria na governação do general Eugenio Cesar Laborinho que a perseguição contra o padre atenuou. O então governador convidou-o, em 2017, para ocupar a pasta de Secretário Provincial da Educação, Ciência e Inovação no seu governo.

 

Jorge Casimiro Congo, é formado em germânica pela Universidade Urbaniana de Roma - Teologia e Línguas Antigas. Quando regressou do exterior chegou a ser professor do núcleo da Universidade Lusíada no enclave. Tem colaboração em vários projectos educacionais em Portugal tais como a elaboração de uma gramatica em língua portuguesa.

 

Enquanto responsável da educação no governo de Cesar Laborinho, revolucionou o ensino no enclave. Avançou com reformas no sector e as crianças em algumas escolas passaram pela primeira a vez a usar uniformes com os tecidos africanos a semelhança de países como Quênia e Gana.

 

Jorge Congo, não ocultava o seu desejo de ver Cabinda como uma região autonomia em pleno. Durante um entrevista a VOA em 2015, revelou que tinha muitos desejos para Cabinda. O último é que os cabindenses deixassem de ter nacionalidade angolana virtual, porque para o padre o povo de Cabinda não tem direitos nem é visto como angolano por quem não é do enclave.


"já tive muitos. Primeiro, fui sempre defensor da independência, depois aceitei sempre uma solução intermédia que fosse boa para ambas as partes e concedesse ao povo de Cabinda uma vida melhor, direitos. Mas agora estou preocupado também que Angola nos dê a nacionalidade. Temos uma nacionalidade virtual. Isto aqui é horrível. Não temos direitos nenhuns. Por exemplo, eu vivo em Lándana, perto de uma campo de futebol e criámos uma equipa chamada Real Lándana, fomos obrigados a acabar com a equipa, fomos perseguidos só porque criámos uma equipa com o nome Real Lándana! Não temos liberdade", disse.

 

Questionado onde estava 11 de Novembro de 1975, Jorge Casimiro explicou que "Era refugiado na actual República Democrática do Congo - porque senão seria morto. Os meus colegas que estiveram connosco no seminário e foram para as matas pelo MPLA queriam matar-nos porque sabiam que pensávamos diferente. Naquela altura não comprendíamos porque devíamos ser angolanos. Defendíamos a independência de Cabinda."