Luanda - As relações internacionais são relações de poderes entre os Estados, são relações de alianças, são relações em que os interesses estatais falam mais alto na busca da concretização dos programas e projectos nacionais, seja na esfera econômica, social, política, diplomática, cultural e na esfera estratégica: cooperação civil-militar.

Fonte: Club-k.net

A política externa de um governo é tão importante quanto traçar políticas públicas e governamentais que visam realizar programas concretos que satisfaçam as necessidades dos cidadãos: empregabilidade, acesso sanitário, maior oportunidade juvenil, assistência às famílias, valorização dos técnico-profissionais e dos quadros do País, que através das suas habilidades, qualificações e competências possam elevar o nível do Etado em termos de crescimento e desenvolvimento.


Há duas semanas atrás num encontro virtual com o grupo dos Doutorados (Ph.Ds em Ciências Políticas, Diplomacia, Relações Internacionais, Projectação Internacional, Direito Internacional, Defesa e Segurança, Economia Internacional, Competências Internacionais) realizamos mais um debate habitual, convidei pra este debate alguns membros do denominado “Elite Intelectual Diplomática”, uma organização anônima que existe desde 2021, o debate foi sobre «a função de um diplomata e sua actuação na arena internacional».


O debate foi bem conseguido, independentemente das posições contrastantes (o que é bom para a ciência e para academia) a minha posição foi clara e pragmática, disse aos presentes que um diplomata deve ter as seguintes qualidades e competências:


1) dominar questões constitucionais: entender e observar o ordenamento jurídico do País onde actua como representante do seu Estado, para melhor exercer o seu trabalho, sem atropelar e sem violar as leis ordinárias locais.


2) dominar questões de direito internacional: entender com precisão as convenções, protocolos e tratados internacionais, que regem o sistema internacional e toda dinâmica político-diplomática. Entre todas as normas internacionais, um diplomata deve obrigatoriamente ter conhecimentos sobre as Convenções de Viena, sobre as Imunidades Diplomáticas e Consulares, Carta da ONU, Tratados sobre a UE, Tratados sobre a UA e os Protocolos de Genebra sobre o Direito Internacional Humanitário.


3) conhecimento sobre intelligence: não se faz diplomacia sem ter conhecimentos aceitáveis sobre Defesa e Segurança. Uma das funções de um diplomata é proteger seu Estado através de informações privilegiadas que pode colectar no exterior em prol dos interesses nacionais. Mas a colecta de informações confidenciais exige técnicas profundas para obtê-las, falo de técnicas que exigem profissionalismo e especialização, ou seja, um diplomata quando colecta um dado, tal dado deve ser verídico, o diplomata não deve em momento nenhum fornecer uma informação “falsa ou inventada”, caso contrário colocaria o Estado numa direcção complexa nas suas relações com outros governos, organizações e organismos regionais e internacionais.


4) projectação internacional: todo e qualquer diplomata deve saber como projectar programas estratégicos de tipo econômico (diplomacia econômica), de tipo cultural (diplomacia cultural), de tipo estratégico (diplomacia militar e diplomacia de defesa), de tipo científico (diplomacia científica), projectos que atraem financiamentos e potenciais empresários e investidores estrangeiros.

 

5) relações públicas: ser diplomata não é distanciar-se das pessoas, não é viver nas “sombras”, muitos diplomatas interpretam mal o “ser reservado” e o ser “escondido”, não existe diplomacia sem relações públicas, o diplomata não precisa gostar das pessoas para tratá-los bem, apenas precisa ser profissional, qualificado e competente, este é o segredo, o diplomata precisa entender bem questões sobre psicologia (psicologia social, psicologia institucional, psicologia das organizações, psicologia da mediação e da negociação), isto é básico no campo diplomático.

 

6) protecção/assistência aos próprios cidadãos: isto faz-se através da mediação diplomática e da mediação consular: socorrer cidadãos nacionais perante situações de necessidades e de complexidades, situações burocráticas e jurídicas; colocar-se à disposição da própria comunidade empregando recursos, meios e instrumentos possíveis, porque em diplomacia a grandeza de um País mede-se também pela forma como seus representantes prestam assistência aos seus cidadãos no exterior.


7) intercâmbio cultural: organizar periodicamente programas de aproximação com outros povos e comunidades: workshops, meetings, convênios, seminários, conferências, debates sobre questões nacionais e internacionais, promovendo a própria cultura (música, dança, culinária, vestimentas), divulgando ao máximo as potencialidades do País (isto faz-se usando também o denominado comunicação política e diplomática). Havendo programas concretos os resultados são uma questão de tempo.


Além desses sete pontos, durante o encontro falei da questão das formações continuadas por parte dos diplomatas (programas conjunturais breves mas intensivas) que podem ser realizadas nas academias (diplomáticas, policiais e militares) ou a nível interno das próprias embaixadas e consulados sob a gestão de um académico-profissional de mais alto nível das áreas político-diplomáticas. Toquei também no ponto sobre a necessidade de aperfeçoamento sobre intelligence e sobre a capacidade de se falar em público (sem ajuda do PC ou slides) que um agente diplomático deve ter.


O debate durou quase 5 horas, muita coisa ainda ficou por se dizer, mas não se debate tudo num único dia, portanto, a Diplomacia e Eu, temos uma ligação permanente, imutável e incondicional, isto faz-me pensar o quanto as Relações Internacionais manifestam-se sempre do mesmo jeito, sempre com o mesmo efeito e finalidade: pragmatismo, dinamismo, tecnocracia, profissionalismo, resultados, sobretudo resultados porque sem resultados todo resto é inútil diplomaticamente falando, os resultados passam através de programas e da realização de projectos, projectos concretos, eficazes e eficientes dotados de tecnocracia e racionalidade.


N.T: Membros da Elite Intelectual Diplomática uma vez perguntaram-me se podiam fazer uma visita de cortesia aos diplomatas da nossa Embaixada em Roma, disse à Eles que isto estava fora de questão, conhecendo bem os membros da Elite é bom evitar, eles são detalhistas, minunciosos, altamente profissionais e calculistas, alguns deles são funcionários de organizações internacionais, outros são funcionários dos órgãos de Defes e Segurança, e a Elite organiza periodicamente formações para os membros.


Projectação Internacional
Diplomacia e Cooperação ao Desenvolvimento
Diplomacia e Segurança
Diplomacia e Economia
Diplomacia e Academia
Diplomacia e Política
Diplomacia Presidencial
Conselheiro de Segurança Nacional
Competencias Internacionais

Por: Leonardo Quarenta – Tecnocrata-diplomático
Ph.D em Direito Constitucional e Internacional
Mestrado em Relações Internacionais, Diplomacia, Mediação e Gestão de Crises
Formação em Conselheiro Civil e Militar
Formação em Geopolítica de África: O Papel da CPLP para a Segurança Regional