Luanda - É do conhecimento de todos que Jinga Mbandi nasceu entre 1582-1663. Mas ninguém sabe qual deverá ter sido o seu rosto. Tudo o que existe sobre ela são imaginações. Em 1830, o pintor francês Achille Devéria conhecido pelos seus quadros eróticos, decidiu criar um retrato imaginário de Jinga, com o seio esquerdo de fora, e com fisionomias não africanas.

Fonte: Club-k.net

A partir do século XIX e XX, o retrato imaginário de Achille Devéria passou a ser divulgado como representação da rainha da Matamba. Mais tarde em 1967, surgiu um outro retrato imaginário concorrente da autoria do luso angolano Albano Neves de Sousa (1921 - 1995), que pouca visibilidade teve.


Um ensaio do historiador português , Alberto Oliveira Pinto, “Representações culturais da Rainha Njinga Mbandi no discurso colonial e no discurso nacionalista angolano” indica quatro possíveis fenômenos que terão contribuído para que o retrato imaginário do pintor francês Achille Devéria se tornasse mais usado para representar a Rainha da Matamba, em detrimento do retrato de Albano Neves de Sousa.

A saber;


1.Surgimento da imprensa em Angola em 1845, levando com que mais tarde, depois de 1920, jornalistas nativos passassem a usar a imagem de Achille Devéria para auxiliar os seus escritos.


2.Dias antes do “4 de fevereiro de 1961”, o conego Manuel das Neves realizou missa na Sé de Luanda, pela alma da Rainha Jinga Mbandi, e exibiu o retrato francês de Achile Déveria. O mesmo retrato circulou dois anos antes em panfletos a quando do “processo 50”.


3.Em 1985, Manuel Pedro Pacavira, um dos integrantes do “processo 50” publicou um romance intitulado “Jinga Mbandi”, com o retrato de Achile Déveria na capa.


4.Na sequencia da reformas politicas de 1992, os livros da 4 classe passaram a ilustrar a imagem do pintor Achile Déveria para representar a Rainha da Matamba.
Até aos dias de hoje retrato imaginário de Achile Déveria tornou-se na representação mais popular de Jinga Mbandi. Em 2003, as autoridades angolanas encomendaram uma estatua da Rainha com o rosto que fora imaginado pelo pintor francês.

 

O historiador Alberto Oliveira Pinto, no seu ensaio considera que o retrato imaginário do luso angolano Albano Neves de Sousa, chega a ser “mais realista mas muito menos conhecido” onde sobressaem, “além dos estereótipos do nariz achatado e dos lábios grossos atribuídos à raça negra, dois olhos encovados que parecem carregados de ódio” comparado ao do retrato do pintor francês que atribui feições europeias (nariz, lábios e etc) a Rainha da Matamba.

 

JOSÉ GAMA