Luanda - Na viagem recuada no tempo , numa espécie do rebobinar dos filmes que carrego na minha memória, lembrei-me das várias dimensões daquele homem afável, agradável, sério, ouvinte , frontal e honesto.

Fonte: Club-k.net

Filho de Isaack Pena (de feliz memória) e de Judith Chinakussoki Malheiro Savimbi Pena (irmã mais velha de Jonas Savimbi).


Era sobrinho do Pai Jonas com os seus irmãos Loth Pena, Salupeto Pena e Arlindo Pena “ Ben Ben” cujas as vidas esfumaram-se na luta política por dias melhores para Angola.


Como parte de uma linhagem de gerações de Patriotas depositária de uma identidade comum e decidida a mudar o status quo vigente no nosso País, a vida de Kacyke confunde-se com a história da UNITA e de Angola dos últimos 30 anos, cujas as páginas mais belas da sua epopeia também foram escritas com letra de ouro por este ilustre filho que já mora no além.


Na família , Kacyke deixa um grande vazio porque era um Pai, primo, mano , tio , sobrinho, com quem se podia contar sempre, para qualquer coisa e em todas as circunstâncias.


Unificador e conciliador, Kacyke tinha a paciência de gerir os equilíbrios necessários e dizia sempre : Epata ocumba, civokiya ko ocisola-O que fortifica os laços familiares não é somente a consanguinidade, mas sobretudo a amizade e o amor.


Ainda lembro-me do escorrer incessante das suas lágrimas sempre que me contasse as circunstancias trágicas em que separou-se do Pai no dia 05 de Fevereiro de 2002 nas matas do Moxico. Segundo ele , depois de alguns dias de relativa acalmia na base onde se encontravam , as unidades das Forças do Governo atacaram-lhes de surpresa e o tiroteio se fazia exactamente em direção aos aposentos provisórios do Pai e na azáfama tudo o que conseguiu foi dizer: Oh Pai parta agora daqui….Oh Malan tirem o Pai daqui…… e ainda viu o Pai a correr evacuado e protegido pelo seu reduto de guarda costas que lhe foram fiéis até a morte.


Na refrega do fogo cruzado a tentar salvar um dos últimos telefones satélites, Kacyke cai e é capturado juntamente outros companheiros por homens sob o comando de um oficial de nome “ Valentía” que tinha sua fotografia em mãos( sinal de que o oficial dispunha de informação classificada e actualizada do teatro onde estava a operar). Feito prisioneiro, foi interrogado vezes sem conta para ver se sabia do paradeiro do tio, e de forma corajosa como nos filmes( segundo Kacyke) , respondeu firmemente que há muitos meses que não tinha visto seu tio.


A seguir foi transportado para o Luena /Luanda d’onde receberia a notícia do 22 de Fevereiro de 2022.


Aquele cenário gravado na memória de Kacyke fazia-o chorar amargamente porque tinha sido a última vez a ver o seu tio Jonas.


Porém, com todos esses embates, Kacyke nunca desistiu e continuou a luta seguramente inspirado nos seus antepassados que jurando à bandeira da dignidade do seu povo, preferiram a morte à desonra, trazendo o ditado umbundu segundo o qual : Īnsē okufa, momo etombo livala- Entre a morte no campo da honra e a humilhação, escolho a morte!

Kacyke continuou a lutar pela vida e pelos ideais em que acreditou até que a morte atroz e impiedosa, arrancou-lhe do nosso convívio.


Ficam as lembranças e a saudade de um homem que marcou profundamente e de forma muito positiva as nossas vidas e que vai a enterrar no Santo campo da Lopitanga ao lado dos seus no dia 25 de Abril de 2023, 49 anos depois do “ Coup d’Etát” dos capitães em Portugal, cuja a ação também resultou dos esforços dos seus antepassados na luta contra a dominação portuguesa.


Como “ Ngongo” ( nosso falecido irmão mais velho ) em Abril de 1975 desta vez parte Kacyke como mais uma oferenda no altar do sacrifício que desde os nossos antanhos temos consentido por ti oh nossa querida Angola!


A tua despedida não é um simples adeus, mas também a reafirmação , como sempre conversamos , do nosso juramento em continuarmos a trabalhar apesar de todas as provações, para que esta causa que nos tem custado tanto triunfe.

Mano Kacyke, acredite que venceremos e que neste dia cantaremos todos( vivos e mortos) que Há vitória p’ra nós!

Deus te conceda o eterno descanso que tanto mereces!