Luanda - O novelista russo Fiódor Dostoiévski escreveu e publicou a obra “Crime e Castigo”. Foi em 1866.  Se Dostoiévski estivesse na Angola de 2023 e tivesse que verter para o papel o abuso à Liberdade de Impresa que ocorreu contra jornalistas na “Rádio Lumbamba”, não tenho dúvidas que daria o seguinte título ao seu escrito: “Crime apoiado pelo Poder político”.

Fonte: Club-k.net

Vem este introito a propósito do facto de o Bureau Político do Comitê Central do MPLA ter emitido uma declaração a por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.


Li o documento e confesso que fiquei “meio assim, sei lá” em relação ao seu conteúdo.


O partido no poder reprovou, na referida declaração, todas as manifestações que impedem os jornalistas de exercerem o seu trabalho de forma livre, plural e independente, permitindo que os cidadãos formem, de modo diversificado a sua opinião, na perspectiva do usufruto de um direito plasmado na Constituição da República de Angola.


Mas o Bureau Político do Comitê Central esqueceu-se de condenar e demarcar-se do crime de abuso de Liberdade de Imprensa cometido de forma flagrante, abusiva e em directo por “Sua Excelência” Francisco Lumbamba, no Cunene, contra os jornalistas que dobram, quotidianamente, a espinha na emissora de que é alegadamente proprietário.


E também se esqueceu de condenar, demarcar-se e pôr fim ao abuso de Imprensa praticado de maneira permanente nos órgãos de comunicação públicos, sob controlo cerrado do Executivo.


Francisco Lumbamba e os órgãos de comunicação públicos fazem-no em nome do MPLA e com a certeza absoluta da sua impunidade. Cometem crimes (sem castigo) em nome do partido no poder.


Esperava (ao menos isso) uma demarcação da direccao do MPLA em relação às palavras de “Sua Excelência” Francisco Lumbamba e a assumpção pública do fim do abuso de imprensa praticado todos os dias pelos órgãos de comunicação públicos.


A referida omissão significa que o MPLA cauciona as palavras de “Sua Excelência” Francisco Lumbamba e as práticas dos órgãos de comunicação social públicos; ou seja, o MPLA consente o acto praticado pelo político e empresário que fez fortuna no âmbito do processo das “dívidas públicas falsas” já atempada e firmemente denunciadas pela ministra das Finanças. E também consente e participa das práticas violadoras da Liberdade de Imprensa dos órgãos de comunicação social públicos.


Seja como for, a não alusão à atitude de “Sua Excelência” Francisco Lumbamba no documento do MPLA, a propósito do Dia da Liberdade de Imprensa, traz-me à memória dois ditados: 1) Quem cala consente; 2) É tão ladrão quem vai à horta, como quem fica à porta.


Quer dizer que “Sua Excelência” Francisco Lumbamba agiu no estrito cumprimento e respeito escrupuloso da cartilha do MPLA, tal como também acontece na prática dos órgãos de comunicação social públicos. Nada foi e é inocente e muito menos desavisado na prática dos órgãos de comunicação privados públicos controlados pelo partido no poder.


Isso quer dizer que a atitude de “Sua Excelência” Francisco Lumbamba pode servir de e (vai) servir de paradigma para outros políticos e empresários militantes do MPLA espalhados pelas demais províncias do País.


Neste dia consagrado à Liberdade de Imprensa reprovo, de forma firme e intransigente, o facto do Bureau Político do Comité Central do MPLA apoiar o crime de “Sua Excelência” Francisco Lumbamba e os crimes praticados nos órgão de comunicação públicos.