Luanda - Ainda que a fingir, em face das interligações com os serviços de inteligência do chefe indígena, a fundação do jornal Folha 8 em meados de 1995 foi um marco importante da luta dos angolanos pela liberdade de imprensa.

Fonte: Club-k.net

Sabia do projecto, porque colaborava com a Mundovídeo, empresa de comunicação do William Tonet, por influência do Graça Campos, mas o meu envolvimento a sério com o jornal só acontece depois de ter sido despedido por João Melo, que entretanto me havia aliciado a deixar o Jornal de Angola para trabalhar na agência de publicidade que havia acabado de criar, a Movimento. Para tal, enviou-me ao Rio de Janeiro, em formação rápida. Poucos meses mais tarde, acabaria por me dispensar, para acomodar interesses pessoais de seus sócios brasileiros.


Com vergonha de regressar às Edições Novembro, não vejo outra solução que não fosse a de me tornar efectivo no Folhinha, em companhia do saudoso Pires Ferreira, a quem havia convidado a juntar-se a mim na empresa do João Melo. Fomos enxotados pelo poeta os dois.


Fiquei no Folha 8 durante cinco anos, o período mais conturbado da minha vida trabalhista. Ia bumbar sem saber se haveria de regressar vivo à casa. Aliás, julgo ter sobrevivido a três atentados (dois por acidentes de viação preparados e um por via daquele ensaio do saudoso Avô Kitoko, conforme já dei nota aqui). Era a hostilização por todo o lado. De resto, entre todos os gajos que passaram pelo jornal, incluindo o próprio dono, eu fui o mais prejudicado por isso: fui forçado a fugir da faculdade de direito da universidade Agostinho Neto pela guarda pretoriana da antiga primeira-dama, tendo sido pressionado como se fosse um grande perigo terrorista para ela. Quando tentei o regresso à escola, em 2000, após a sua saída, deparei-me com outro obstáculo sério: o sumiço do meu processo individual, situação que duraria oito anos.


Ao fim disso, quando fui «perdoado», já eu perdera a vontade de estudar, depois de vinte anos de guerrilha. Ainda me matriculei no terceiro ano, com dois «rabos» do segundo, mas o desânimo e a continuação dos embaraços laborais por pobreza falaram mais alto e lá desisti da academia.


O meu divórcio com o Folha 8 deu-se no início do milénio, quando o gajo do Kuiba Afonso , ingrato de merda, com medo de mim por ocasião dum movimento reivindicativo que até estava a ser liderado pelo António Quino, procedeu ao meu despedimento indirecto. Levei-o a tribunal, mas o sacana pagou o juiz e acabei perdendo a causa por «inadiplicênça», qualquer coisa parecida a retardamento mental, que, segundo o magistrado endoidecido, me impediu de explicar à instância ao que ia, eu que já tinha feito o segundo ano de direito e era editor há mais ou menos duas décadas.


Muita ingratidão do Tonet, porque cheguei a ser o salvador do seu jornal, quando o Graça Campos se foi embora bem chateado da vida dele, tendo eu segurado a publicação, com o apoio formal do Silva Júnior e do saudoso Pires Ferreira. Segurei aquela porcaria, até que ele encontrasse alguém, uma vez que não estava interessado no cargo. Até que surgiu o Victor de Carvalho, que era afinal um agente do Aldemiro, como se confirmou depois.


Eu acabaria por ir parar ao Angolense do Graça Campos, com quem transitaria para o Semanário Angolense, jornal do qual seria o terceiro e último director, depois dele o ter vendido, entre 2010 e 2016, onde julgo ter feito um trabalho heroico em prol da liberdade de imprensa, apesar de actuar sob «cafrique» do dono, que vocês sabem bem quem era.


Na foto, eu e o meu pessoal do Semanário Angolense, em Dezembro de 2014, salvo o erro, mas creio que sem o Ilídio Manuel, que era o meu editor-chefe, nem o Jorge Eurico, que nessa altura já havia saído, depois de ter sido editor de política. Deve haver gente aí que já morreu.