Lisboa - Nelson Dembo, mais conhecido como Gangsta, tornou-se nos últimos meses no maior rosto da oposição ao MPLA. Agora, diz correr perigo de vida e já fugiu de Angola.

Fonte: TSF

"Estou com a vida em perigo. Eu sinto isso. Tenho família que já foi coagida, as minhas irmãs foram levadas ao SIC [Serviço de Investigação Criminal Angola]. Foram levadas elas e os filhos, no sentido de tentar tirar delas o ponto de localização onde eu estava", denuncia o ativista em declarações à TSF.


Gangsta tem liderado vários protestos contra o governo de João Lourenço e tinha convocado mais uma manifestação para o dia do trabalhador. Chegou a estar preso acusado de instigação à rebelião. Acabou por ser libertado com medidas de coação, mas decidiu não as cumprir e viveu escondido em Luanda durante várias semanas.


A vida clandestina não era fácil: "Paranoias permanentes. Mas depois eu penso que a espiritualidade te consegue concentrar. E vamos conversando com algumas pessoas que são amigas muito, muito próximas e elas acabam por te passar uma palavra de conforto, de calma e de alento."


A oposição ao partido que governa Angola não é novidade, nem Gangsta deixa que seja esquecido. "O cancro maior que temos é o MPLA. Não é problema de João Lourenço. Pensava-se que era José Eduardo dos Santos, pensava-se que era Agostinho Neto. O MPLA é a base fundamental de subdesenvolvimento e de toda essa miséria, de toda essa força de repressão, desde dia 11 de novembro de 1975 e ela foi oficializada com o 27 de maio", argumenta.

O dia 27 de maio de 1977, quando Nito Alves, então ministro da Administração Interna, tentou um golpe de estado para derrubar a liderança de Agostinho Neto, mas falhou. João Lourenço prometeu reconciliação às famílias das vítimas, mas, acusa o ativista, também esse processo foi fraudulento.


"Como é que ele faz a entrega de ossadas falsas às famílias de pessoas que são vítimas de um assassinato em massa protagonizado pelo próprio MPLA em 1977. Isso é grave. Não está preparado para ser Presidente", acusa Gangsta.

Contra o poder instalado no país, Nelson Dembo tem organizado vários protestos: "Porque não sou um indivíduo que vem de uma força político-partidária. Eu sou um indivíduo que vai emergir das misérias e mazelas sociais populares. As pessoas olham para mim como um representante. Isso também gera em mim um nível de maior responsabilidade, principalmente moral e ética."


Com a taxa de desemprego oficial a rondar os 30% e uma economia assente muitas vezes no trabalho informal, Nelson Dembo sustenta que a falta de regulação é o maior estorvo ao desenvolvimento de Angola


"Uma população que vive do mercado informal acima dos 75%. Isso é um grande problema. Os níveis de pobreza são extremamente graves", destaca o ativista.
Por isso mesmo decidiu cobrar a João Lourenço uma promessa antiga: "No seu primeiro mandato, poderia ter arranjado 500 mil postos de emprego. De lá para cá não se efetivou."


E assim decidiu convocar mais um protesto. Mas o aproximar da data estreitou a malha das autoridades.


"Com a campanha do dia 1 de maio, eles viram que há necessidade de se retirar esse jovem da rua", revela o ativista.