Luanda - Na província angolana do Cuanza Sul, os municípios da Cela e Kilenda debatem-se com problemas relacionados com o transporte de doentes. A causa é a degradação das vias de acesso aos principais hospitais das localidades.

Fonte: DW

A má situação das vias de acesso, por onde até são obrigadas a circular ambulâncias com pacientes, está a gerar preocupação na província angolana do Cuanza Sul. Kilenda é um dos municípios onde a situação é particularmente grave. Aqui, os doentes têm mesmo que ser levados de trator até o hospital para receberem assistência.

"Muitos pacientes não chegam com vida", afirma o padre Justino Gonga, que exerce a sua atividade no município de Kilenda. "Muitos vêm de outros lugares recônditos e temos testemunhado muitas mortes por causa do péssimo estado das vias de acesso", adianta o padre.

Justino Gonga faz questão de dar exemplos concretos: "Na zona do Morimbo é um sofrimento terrível. Está mal mesmo. Os doentes são levados de trator e morrem pelo caminho. Esse troço, até para andar a pé, é complicado. E na comuna da Kissanga Kungo, além de falta de ambulâncias operacionais, os moradores também enfrentam problemas relacionados com a falta de qualidade das vias de acesso. E pacientes morrem pelo caminho, antes da chegada ao hospital."


Situação preocupa a população

Em declarações à DW o ativista dos direitos humanos Joaquim Teixeira confirma que o mau estado da estrada tem estado a "ceifar" a vida de muitos - uns porque sofrem acidentes e outros porque não conseguem chegar a tempo ao hospital para o tratamento médico:

 

"Esse hospital precisa de uma estrada bem cuidada. Quando um paciente está em estado crítico, muitas vezes já não tem hipótese de chegar ao hospital, [significa] que essa mesma estrada está a tirar a vida de muitas pessoas", explica Joaquim Teixeira.

 

"Muitas pessoas quando levam os seus familiares ao hospital também se acidentam. O governo tem de olhar - com olhos de ver mesmo - para essa estrada. Isso é urgente, se é que queremos deixar de ver pessoas a morrer antes de chegar ao hospital", apela.


Obras sem qualquer efeito

Entre a população, as queixas multiplicam-se. Um cidadão, frequente utente das vias danificadas, que não quis mencionar o seu nome, contou à DW África que, por exemplo, as mulheres grávidas passam muito mal quando têm que fazer no trajeto das suas aldeias para o hospital. "Foram feitas algumas obras", lembra o cidadão, mas essas obras "em nada teriam ajudado a população."

 

"Uma parturiente sai da cidade e chega aqui aflita. As obras feitas em nada valeram. Se houvesse uma inspeção séria para controlar e fiscalizar as obras, [a estrada] não estaria nessas condições! Como vê, a obra nem sequer terminou", lamenta.

 

Outro cidadão indignado com a situação é Zeca Dias, um taxista que muitas vezes trasporta pacientes das aldeias circudantes para o hospital do município de Kilenda. Em conversa com a DW África, desabafa: "As pessoas queixam-se muito do estado das estradas por ser uma via principal de acesso ao hospital. Um doente que tem 30 minutos a uma uma hora de vida poderiam socorrê-lo em menos tempo, mas perdem muito tempo na via. Isso é inaceitável! Pedimos ao Governo que preste atenção, por ser uma via de acesso para o hospital que fica longe da cidade.”


Administração local promete melhorias

Daniel Lupini, representante da administração local de Kilenda, contactado pela DW África, promete mudanças para breve, afirmando que "as zonas críticas vão ser beneficiadas":

 

"A administração municipal antevê vários projetos e dentro destes projetos serão tidas em conta todas as inquietações levantadas. Os estudos para as obras já foram feitos e temos uma carteira de projetos que vai abranger quase todos os sectores sensíveis para os munícpes da Kilenda", diz.

 

Já o administrador do município da Cela, Wako Kungo, contactado pela DW África, não quis pronunciar-se sobre o tema, remetendo-se ao silêncio.