Lisboa –  As autoridades argentinas bloquearam as contas bancárias do   embaixador cessante de Angola em Bueno Aires, Fidelino de Jesus Florentino Peliganga ‘Menha’, devido a situações que precisam de ser devidamente esclarecidas. 

Fonte: Club-k.net

Por conta deste embaraço, o diplomata, que no passado mês de Março foi nomeado para exercer as mesmas tarefas na República de São Tomé e Príncipe, vê-se assim de mãos atadas para regressar ao país.

 

Dentre os 16 chefes de missões diplomáticas a quem o Presidente João Lourenço conferiu posse, no Salão Nobre do Palácio Presidencial, em Luanda, a 7 de Março do corrente, o embaixador Fidelino Peliganga foi o único que não viajou à Luanda para a cerimonia. Alegando ter contraído Covid-19.

 

Passados dois meses, o governo angolano terá notado que algo de estranho estaria acontecer com o seu diplomata, que não conseguia abandonar a Argentina para ser empossado e seguir para a sua nova missão, na República de São Tomé e Príncipe.

 

As dúvidas do governo angolano foram dissipadas há poucas semanas, quando receberam uma nota das autoridades argentinas, notificando sobre o bloqueio da conta bancária do embaixador Fidelino de Jesus Florentino Peliganga.

 

A Argentina alega que registaram movimentações suspeitas na conta do embaixador angolano, provenientes de empresas privadas, sem que o mesmo pudesse justificar as razões que o teriam levado a receber dinheiro de entidades que nada tem que ver com Angola.

 

Fontes consultadas pelo Club-K disseram que o embaixador Fidelino Peliganga pode regressar a Angola a qualquer momento, mas que “o problema é que o mesmo não quer abandonar a Argentina sem que antes desbloqueiem as contas”. No entanto, as autoridades argentinas também não querem liberar as suas contas sem que o diplomata declare a proveniência dos fundos.

 

De acordo com as normas convencionais, os embaixadores, quando estão em missões de representação em Estados receptores, não podem envolver-se em negócios ou receber pagamentos indevidos.  A  missão diplomática na Argentina   foi antes  alvo de uma fiscalização  por parte de uma delegação da   Inspecção Geral da Administração do Estado de Angola (IGAE).

 

Coronel na reforma (NIP 2112789), Fidelino Peliganga faz parte do núcleo de antigos amigos de João Lourenço, que o chefe de Estado promoveu para altos cargos, mal chegou ao poder.

 

Ambos foram colegas de academia em Moscovo. A 15 de Maio de 2019, o Presidente promoveu o amigo a brigadeiro na reforma e no mês seguinte o elevou a embaixador na Argentina, Paraguai e Bolívia.

Apesar de na campanha eleitoral de 2017 ter prometido que iria combater o compadrio e o amiguismo, que caracterizam o regime alimentado pelo MPLA, o Presidente angolano terá desonrado as suas próprias palavras. Muitos dos antigos amigos que nomeou estão agora a desapontar ou a trair a sua confiança.

 

Em Setembro de 2021, viu-se obrigado a exonerar o seu afilhado de casamento e antigo ministro da Construção Manuel Tavares de Almeida, na sequência de reclamações e desfeitas do amigo.

 

Tavares não soube responder a questões sobre a não apresentação de obras de mais de 800 milhões de dólares que estavam sob sua alçada, e também o terá enganado sobre reabilitação de estradas na província de Malanje, que o Presidente da República julgava já estarem prontas para apresentar na campanha eleitoral.


Em finais de Fevereiro deste ano, o Presidente João Lourenço viu-se obrigado a convidar a sua comadre Exalgina Gambôa a apresentar a demissão do cargo de presidente do Tribunal de Contas, na sequência de denúncias de improbidade.

 

Em Março de 2020 suspendeu, por 14 dias, o seu amigo Eugénio Laborinho do cargo de ministro do Interior. Mais tarde, ouviu relatos de que o companheiro usava o gabinete de serviço para tratar de assuntos ligados aos negócios privados, envolvendo a sua empresa Labuta.

 

Em Janeiro, o amigo induziu-o a nomear Fernando Receado como director-adjunto do Serviço de Investigação Criminal (SIC), depois de graves denúncias de que o oficial tinha ligações ao narcotráfico, e de, no passado, ter conduzido operações pouco dignas para a imagem do Estado angolano, envolvendo casos de tortura a presos políticos e a activistas cívicos.