Luanda - 3. AINDA A CONFERÊNCIA INTER-REGIONAL DO MPLA 

Essa conferência permitiu perceber que por força desse distanciamento geográfico ocorrido entre as várias frentes de luta que, sob o ponto de vista de ideológico, especialmente sobre o futuro de Angola que o consenso não fora alcançado.


Permitiu-se perceber das diferentes formas de estar, de ser e de visão imbuídos da proveniência social, raça, regional, etno-linguistica, etc dos militantes.
Permitiu de aperceber de manifestações de racismo, tribalismo e de regionalismo.

 

Permitiu-se perceber que as contradições já detectadas no seio da actividade clandestina, também e quase parecidas ocorriam no seio da guerrilha e dos outros fragmentos de actuação do MPLA:

• na própria sede do MPLA em Brazzaville,
• na clandestinidade em Kinshasa,
• nas representações noutros países.
Permitiu-se saber das profundas contradições entre os movimentos de libertação, mormente entre o MPLA e os outros (2) e inclusive de choques militares entre si que levaram a morte de militantes e guerrilheiros do MPLA.

4. BREVE INCURSÃO SOBRE A INDEPENDÊNCIA E SEU CONTEXTO

Julgadas estarem criadas as condições, mas não definitivamente ultrapassadas as questões:

• De fracturação do MPLA;
• De fórum ideológico que ali na conferência se percebeu que existiam;
• De organização e de funcionamento interno;
• E de coesão.

Partiu-se então para a execução dos aspectos inerentes a independência que se urgia e que passava pela:

• realização e entendimento com os outros movimentos de libertação;
• o entendimento com o novo governo Português para a independência;
• a instalação oficial do MPLA em Angola;
• e as acções rumo a independência.

Claramente foram definidos os seguintes slogans de educação, mobilização e de propaganda:

• de Cabinda ao Cunene, um só povo e uma só nação;
• a luta continua e a vitoria é certa;

Nesse período ocorreram os seguintes acontecimentos:

• O imergir e proliferação de dezenas de partidos políticos em Angola que pretendiam também participar no processo de negociação com as autoridades Portuguesas para a independência de Angola.


• O entendimento entre a UNITA, o MPLA e a FNLA (movimentos de libertação nacional) que até então nunca antes tinha acontecido;


• Entendimento entre os movimentos e o governo português para a proclamação da independência (acordos de Alvor) excluindo os partidos imergentes e declarando que só os movimentos que combateram com armas eram os únicos representantes legítimos do povo Angolano.


• A criação do ELP (exército de libertação de Portugal) constituído por ex. militares Portugueses e dirigido pelo Coronel Santos e Castro.


• Revolta nos musseques de Luanda contra a presença de comerciantes portugueses onde o incorretamente designado ´´lumpen proletariado´´ teve um papel decisivo na defesa, protecção e segurança dos bairros e das populações contra as investidas dos comerciantes portugueses brancos.


• O início da guerra em Cabinda para a independência desse território de Angola pela FLEC.

• Tomada pelas FAPLA de toda a província de Cabinda contra os separatistas da FLEC.

• MPLA, FNLA e UNITA abrem oficialmente sedes em Luanda e se espalham em todos os centros urbanos de Angola.

• Agostinho Neto fixa-se em Luanda, Jonas Savimbi no Huambo e Holden Roberto continua em Kinshasa e não vem para Angola.

• Forma-se em 31 de Janeiro de 1975 um Governo de Transição para a Independência no dia 11 de novembro de 1975 integrado por um Alto Comissário Português e (3) primeiros ministros, cada um pertencente a cada um dos movimentos que formavam o Colégio Presidencial.

Vários ministérios foram criados, cabendo (3) para cada movimento e igualmente (3) para o Governo Português.

Cada ministério tinha 2 Secretários de Estado representados por cada um dos outros 2 movimentos a que não pertencia o movimento do ministro.

• Criam-se as bases para a formação das futuras Forcas Armadas de Angola com militares de cada movimento devidamente repartidos, da Polícia, Corpo de Policia de Angola ´´CPA´ ´com efectivos de cada movimento devidamente repartidos.

• É também preparado o Gabinete de Informação, GABINF e a Polícia de Informação Militar, PIM que se constituiriam no futuro Organismo de Informação e de Segurança da Angola independente, composto igualmente por membros de cada movimento de libertação em igual número e coordenado pelo Major Corvacho do exército português.

Do lado dos Movimentos de Libertação havia Chefes de Brigadas e respectivos oficiais.

• A Brigada afecta ao MPLA era denominada GABMPLA/DINF e tinha como Chefe José Aniceto Vieira Dias Rodrigues Mingas ´´Zé Mingas´´. Eu também integrava conjuntamente com:


o Burity
o Paulino Baptista (Mulele)
o S.Paulo
o Tino Peliganga
o Mário Venâncio,
o Julio Ramalhete
o Júlio Sobrinho (Juca Kiba)
o Caetano Amaral
o Pimpão


O GABDINF afecto ao MPLA funcionava na Rua Gil Vicente no Bairro do Café, cuja actividade consistia:

• informar sobre as violações do cessar fogo,
• conflitos entre os Movimentos de Libertação,
• motins,
• incidentes entre os Signatários do Acordo de Alvor,
• incidentes intracomunitários
• medidas de asseguramento e de protecção a população (patrulhas, mistas, apreensões, detenções, etc )

De salientar que dentro do GABINF/ do MPLA pontificavam já elementos que detinha alguma experiência que a luta clandestina exigia contra a PIDE/DGS nos domínios da:

• observação e contra-observação visual,
• secretismo,
• perseguição e contra-perseguição,
• análise e tratamento de informação, etc.

Durante 500 anos os angolanos viveram oprimidos e segregados pelas autoridades coloniais portuguesas.

Com os ventos da liberdade para a Independência inicia-se o inevitável:

• A entrada formal dos guerrilheiros dos movimentos de libertação nacional em todo o território nacional há muitos anos afastados e desajustados da realidade sócio-cultural de Angola.

• A vinda de exilados angolanos de várias partes do mundo e o regresso de outros há muito afastados da realidade sócio-cultural de Angola, transportando consigo hábitos e costumes adquiridos nesses países ou áreas de vivência, diferentes e mesmo em contradição com os hábitos e costumes daqueles que se mantiveram sob controlo dos portugueses.

• a proliferação de livros de matriz ideológica de diferentes concepções políticas e filosóficas e o ávido desejo de conhecimento e domínio especialmente pela camada estudantil.

• Acompanha esse movimento, o surgimento e aumento de comités de acção do MPLA que inclusive se concorriam do ponto de vista ideológico quem conhecia e dominava mais e melhor os fundamentos e concepções políticas, ideológicas e filosóficas.

• A vinda em massa dos exilados Angolanos para Angola trouxe também os problemas que entre si existiam e assim as dissidências do MPLA como a Revolta Activa e a do Leste continuaram as suas actividades no interior de Angola, tendo a revolta do Leste aberto uma delegação político-militar em Luanda.

• O início dos confrontos armados entre o MPLA e a facção Chipenda.


• Imediatamente depois, teve início os confrontos militares primeiro entre os militares do MPLA e os militares da FNLA em Março de 1975 (2) meses depois da entrada em funcionamento do Governo de Transição.

• Depois entre os militares da UNITA e os militares do MPLA.

• entre os militares da UNITA e da FNLA juntos contra os militares do MPLA.

• Entre os militares da UNITA e os militares da FNLA.

• Houve inclusive um confronto militar entre militares portugueses e militares do MPLA.


Morreram milhares de Angolanos agora não mortos pelas autoridades portuguesas, mas entre angolanos. Angola fica balcanizada (dividida) sendo:

• Todo o norte sob o controlo da FNLA (províncias do Zaire e Uíge),

• As províncias do Huambo e Bié sob controlo da UNITA.

• E as restantes províncias (Cunene, Huila, Namibe, Benguela, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Lunda que era só uma, Moxico e Cabinda) sob controlo do MPLA. Incluindo a sua capital Luanda.


Em cada área de ocupação por cada um dos movimentos a pergunta que se fazia era a seguinte: de que lado estás? Um clima de intolerância entre angolanos.
É suspenso por decisão do Governo Português a implementação dos Acordos de Alvor para a independência de Angola em 22 de agosto de 1975 devido as violações por parte dos movimentos.

A eclosão da guerra interna imediatamente passou para a sua internacionalização com a entrada em cena e às claras, de tropas invasoras vindas pelo norte (Zairenses hoje Congo Democrático) e Sul-Africanas pelo sul.

 

Com a entrada em cena das tropas estrangeiras, as tropas do MPLA são desbaratadas em larga extensão e se confinam somente nas cidades de Cabinda, Luanda, Dalatando, Malanje e Saurimo.

Entram em cena a pedido do MPLA as tropas Cubanas que impedem com as FAPLA a tomada da capital Luanda de um ataque em larga escala de tropas combinadas

• Da África do Sul.
• Da antiga República do Zaíre hoje actual República Democrática do Congo.
• Da UNITA.
• Da FNLA.
• Do ELP, Exército de Libertação de Portuga.
• De mercenários de várias nacionalidades.

Pelo MPLA o slogan era ´´a luta continua e a vitória é certa´´.

Para as tropas cubanas o slogan era ´´pátria ou muerte, unidos venceremos´´.

Ombreavam o mesmo juramento:

• a traição se paga com a morte.


• Ao inimigo nem um só palmo da nossa terra.

• O recuo se paga com a morte.

O inimigo daquela altura pretendia aniquilar o MPLA e ocupar Luanda antes da proclamação da Independência para se evitar o reconhecimento internacional e consequentemente o exercício da autoridade internacionalmente reconhecida pelo MPLA no quadro do principio ´´se reconhece a soberania e autoridade o que tem a capital em posse´´.

O confinamento do MPLA nessas (5) cidades obrigou a sua adaptação imediata no sentido do exercício de funções de Estado e de administração pública desses territórios e das suas populações agora com um elevado número de refugiados vindos dos territórios ocupados.

A actividade de Administração do Estado e consequente pagamento dos salários dos órgãos da Administração, o funcionamento das empresas e de outros serviços, o apoio aos milhares de refugiados nos centros de acolhimento, a garantia da ordem, tranquilidade e de segurança não parou.

Não houve desordem e muito menos vandalização próprio de lugares que ocorrem guerras e o país em estado de balcanização.

E nesse aspecto o MPLA através das FAPLA teve que adaptar o seu Departamento Informação e de Segurança, DIS á nova realidade que era ter (5) cidades sob controlo, com cerca de (3.5) milhões de habitantes, acoitadas por:

• uma guerra que visava a sua ocupação e acções de espionagem,
• de sabotagem económica,
• de exportação ilegal de equipamentos e máquinas industriais,
• de tráfego de diamantes e de divisas
• e outras.


Sendo o DIS um órgão virado para a segurança interna do MPLA e de recolha de informação para as acções de luta de libertação nacional, a sua adaptação imediata e urgente visou dotá-lo:

• de um serviço de informação e de segurança do, pelo e para o MPLA,
• para se dar resposta á actividade
o de sabotagem económica,
o de difusão ideológica contrária aos ideais do MPLA,
o do roubo de divisas,
o tráfego de diamantes,
o de espionagem militar,
o de sabotagem económica,
o de imigração ilegal,
o de controlo do movimento militar, etc.


Assim três unidades ligados ao DIS sob orientação do Presidente Agostinho Neto são criadas:

• O do Morro da luz para a:

o actividade operativa e de trabalho de campo na zona suburbana

o (maioritariamente negros) subordinados ao Comandante Nzagi (Eugénio Veríssimo da Costa)

• O da Kamuxiba para a actividade :

o operativa e de trabalho de campo na zona urbana e periurbana (maioritariamente brancos e mulatos) supervisionada por Comandante Iko Carreira.

• O do bairro Popular para a
o busca de informação operativa e sua análise
o (maioritariamente brancos e mulatos) supervisionada pelo Comandante Henriques Santos (Onambwé).
Salienta-se que todo o aparato do GABMPLA/DINF no Governo de transição passou a integrar a estrutura do Morro da Luz.
Esses órgãos que mais tarde se desdobraram para outros lugares foram decisivos na realização de acções que:

• impediram o assassinato do Presidente Agostinho Neto e sua família, quando se teve conhecimento detalhado do plano para o seu assassinato em sua residência no bairro do saneamento que seria realizado por colonos extremistas coligados com militares do exercito português e secretamente se lhe movimentou a si e sua família para as instalações seguras onde funcionou uma Estação de Comunicações do Exército Português no morro da Corimba.

• A descoberta de uma bomba e sua denotação sem causar vítimas ou danos materiais no Jornal ABC na estrada de Catete.

• A descoberta de uma bomba e sua denotação sem causar vítimas no Jornal Noticias na Maianga.

• A descoberta no porto de Luanda de mercadoria destinada a FNLA para guerra em Luanda, contendo viaturas pesadas e ligeiras e logística, que os elementos do DIS fazendo-se passar por elementos da FNLA conseguiram desviar em pleno dia para as instalações do MPLA no Morro da Luz.

• A descoberta de um plano para se desviar armamento do exercito português para a FNLA a partir do ASMA, hoje OGR e a acção frustrada do seu roubo com a prisão dos operacionais do grupo da Kamuxiba pelas tropas portuguesas.

• O bem sucedido roubo de armamento do Paiol do Grafanil de armamento das tropas portuguesas que era destinado para FNLA.

• A descoberta de um plano de fornecimento seguido de apreensão de (50) viaturas que se destinavam a FNLA que se encontravam no hotel trópico.

• A descoberta de um plano para se fazer chegar a FNLA de avultadas quantidades de escudos (moeda angolana daquela altura) e a sua apreensão no momento da entrega.

• A descoberta de um armazém clandestino da FNLA para apoio da guerrilha urbana em Luanda e o seu incêndio simulado.

• A descoberta de rede de espiões da CIA e de outras agências ocidentais com a capa de cobertura jornalística e sua expulsão de Angola,

• O rapto de alto dirigente da FNLA através do voo Huambo/Kinshasa desviado para Luanda.

• A acção decisiva na retaguarda inimiga que culminou com a destruição da ponte sobre o rio Dande no Porto Quipiri para atrasar o avanço das tropas coligadas FNLA, Zairenses e mercenárias para Luanda.

• Idem da ponte do Terreiro na retaguarda do inimigo.

• A descoberta de roubos de equipamento fabril para o Portugal.

• A neutralização do envio do arquivo da Polícia de Diamang para o exterior através de um ´´roubo´´ que se lhe antecedeu.

• E muitíssimo outras.

O DIS também partiu para as acções visando desmantelamento de organizações políticas e de comités do MPLA que não seguiam a sua linha política no quadro do distúrbio ideológico que provocavam no seio dos militantes, depois de medidas de persuasão e aconselhamento para não se prosseguir, não ter tido sucesso.
A denúncia, localização dos colaboradores da PIDE/DGS que levaram a prisão e morte de nacionalistas constituiu também uma das direcções de trabalho do DIS.
Na componente da mobilização, denúncia, educação e de combate ideológico contra essas manifestações, esse trabalho teve também a contribuição meritória e decisiva do nosso Comissário Politico Bernardo Alves Batista ´´Nito Alves´´.

Os militares do DIS estavam preparados e treinados para acções operativas desde:

• Domínio de explosivos, armas e munições.
• De línguas internacionais.
• De desembarque, assalto e de reconhecimento,
• De escuta rádio.
• De perseguição e de contra perseguição, observação visual e contra observação.
• De informação e de análise.
• De informação e contra informação.
• De desinformação e de contra desinformação.
• De propaganda, contra propaganda e de contra-contrapropaganda.
• Desenhadores.
• Topógrafos.
• Cartógrafos.

Para tal e para integrarem o DIS para além dos provenientes da guerrilha e dirigidos pelo Comandante Eugénio Veríssimo da Costa ´´Nzaji´´ foram admitidos cidadãos que tinham como principal requisito:


• serem do MPLA, destemidos, fervorosos e combativos  e que pudessem exercer missões de inteligência á todos os níveis de conhecimento e franjas sociais.
Esse DIS era completamente diferente do DIS vindo da guerrilha e motivo de admiração e de espanto pela sua capacidade de espionagem e de contra espionagem reconhecido pelos inimigos, especialmente pelos sul africanos tidos na altura como a potência militar em África número 1.

O DIS possuía operacionais que tinham:

• Treino de comandos do exército português.
• Treino de comandos da guerrilha.
• Domínio das técnicas de informação e análise que pertenceram ao serviço de Centralização e Coordenação de Informação de Angola, SCCIA.
• Militantes do MPL tarimbados na luta clandestina.
• Na guerra de guerrilhas.
• Alguns quase licenciados.
• Estudantes.
• Até analfabetos, mas conhecedores de guerrilha urbana e dos musseques.
• De jovens que se destacaram na defesa dos musseques.
• De pessoas que dominavam técnicas de rádio, escuta e línguas internacionais.
• Homens e mulheres.
• Mais velhos, a maioria jovens e alguns miúdos de ate 15 anos de idade.

Foi desse embrião que foi proposto, desenhado, apresentado e aprovado o desde então e até agora símbolo, bandeira e galhardete da República Popular de Angola de então e República de Angola hoje.


Alguns do grupo dos Macombe, naturalmente entraram no DIS devido ao seu caracter próprio e consequentemente ideal para as necessidades daquela altura.
Todos os órgãos do MPLA (OMA, JOTA. Comités de acção, etc) selecionaram pessoas para integrarem o DIS.


Das FAPLA e UNTA (União Nacional dos Trabalhadores Angolanos) também vieram pessoas para a integrarem.

Foram também incorporados militantes da FNLA, da FLEC e da UNITA que tinham sido feitos prisioneiros ou desertados, após um processo de reeducação aceitaram num ambiente de grande família e de vivência conturbada por causa da guerra de agressão também integrar o DIS.


Estende-se aos Camanguistas (traficantes de diamantes) e outros detidos que após passarem por um processo de reeducação, também foram incorporados no DIS.
A presença dos Cubanos foi aproveitada para a realização em larga escala de cursos intensivos de espionagem e de contraespionagem para esses novos efectivos.
A componente política e ideológica integrava também os cursos. Mas a legislação e outros regulamentos atinentes a actividade não faziam parte no curriculum de formação, o que veio a ser determinante em comportamentos futuros.


Os Comissários Políticos das FAPLA tinham um papel crucial na escolha, selecção e enquadramento de militares para o DIS devido a sua própria natureza funcional. Se diziam sim, era sim para todos. Se diziam não, era não para todos. Eram a autoridade do MPLA nos órgãos militares.


E assim duma maneira geral todos nós provenientes do Campo de São Nicolau pertencentes ao MPLA uns foram para as FAPLA e outros para diversas estruturas do MPLA. Dentre os incorporados nas FAPLA alguns foram selecionados para integrar o DIS.


Devido a investida no sentido de dividir Angola, com a guerra da invasão a norte e sul ,a direcção do MPLA em Dezembro de 1975 envia para a antiga União Soviética, hoje Rússia, secretamente, sem as autoridades coloniais se aperceberem e muito menos os serviços de inteligência inimigos e de outros países cerca de (1500) homens para a formação de uma brigada militar. Eram guerrilheiros provenientes de todas as frentes de guerrilha. Eram dirigidas pelos Comandante Ndozi, o Comissário Político Fenómeno e o Chefe do Estado Maior, Ndalu, respectivamente provenientes da 2ª região, 3ª região e 1ª região.


Durante (8) meses que ali estiveram verificou-se alguns comportamentos individuais, mas não tanto esporádicos de laivos ideológicos de racismo, tribalismo e de regionalismo que não se deu importância. Respícios do colonialismo, assim se pensava.


Nesse grupo numeroso integravam meus amigos e companheiros de prisão da cadeia de S. Nicolau e de treino na 2ª região (Cabinda).


Esse grupo não é senão o que formará o núcleo da 9ª Brigada de Infantaria Motorizada das FAPLA que secretamente entrou em Angola a partir da Barra do Kwanza no dia 8 de Novembro de 1975 e foi directamente para a celebre batalha de Kifangondo e dali para o avanço e retoma de todo o norte de Angola.


Em Setembro de 1975 sai secretamente num navio Cubano de Angola cerca de 300 militares das FAPLA com destino á Cuba. Durante (7) meses são sujeitos a intenso treino militar para a formação do novo exército angolano, (não mais de guerrilha, mas sim regular, força aérea, marinha e exército) e do futuro Organismo de Informação e Segurança.


Integram esse grupo militares de todas as regiões político-militares, provenientes da guerrilha, ex. presos da cadeia de S. Nicolau (alguns meus amigos e companheiros), jovens da luta de clandestina, etc.

Ocorreu também aí algumas cenas de racismo, tribalismo e de regionalismo. Dirigiu esse numeroso grupo o Comandante Orlog da 3ª região Militar e o Comissário Político Bagé da 1ª região.

Termina formalmente o período que eu chamo de pré-independência (Agosto á 11 de Novembro de 1975), quando o MPLA confinado em (5) das (18) províncias proclama a independência de Angola e forma o novo Governo.

Destaca-se nesse Governo a indicação do nosso Comissário Político das FAPLA, Alves Bernardo Baptista ´´Nito Alves´´ para Ministro da Administração Interna, a 5ª pessoa na hierarquia do Governo antecedido do Ministro da Defesa, Ministro das Relações Exteriores, 1º Ministro e o Presidente da República.


(18) dias depois é criada a DISA integrada por todos aqueles que já vinham exercendo actividade no DIS do MPLA.


Verificou-se para surpresa da grande maioria que nem a Polícia nem a DISA faziam parte do Ministério da Administração Interna. A Polícia ficou subordinada ao Ministro da Defesa e a DISA ao Presidente da República. O Ministério da Administração Interna tinha como gestão os Comissariados Provinciais, Municipais, Comunais e órgãos do pode popular.


Um dos trabalhos de mérito realizado pela DISA foi de ter conseguido ´´trazer´´ o arquivo da PIDE/DGS de Lisboa, que continha a lista do aparato de seus informadores angolanos, normalmente denominados ´´bufos´´.


Preparando a DISA para desencadear medidas tendentes a levá-los á barra dos tribunais, o Presidente da República Dr. Agostinho Neto ordena o encerramento e arquivamento desse dossier para o bem da reconciliação nacional e a libertação de todos os ´´bufos´´ detidos naquela altura.


Um desânimo e mesmo contestação de alguns sectores em especial os ligados a luta clandestina ocorreu, porquanto foram a partir dos bufos infiltrados pela PIDE/DGS (órgão de repressão política do governo português) que os grupos clandestinos foram descobertas e desmanteladas as suas actividades e desse modo levado a deportação, cadeia e morte de muitos angolanos.


No dia 1 de Agosto de 1976 é efectuado o primeiro patenteamento militar e o nosso Comissário Político Nito Alves é patenteado ao grau de Major, a terceira patente da hierarquia militar com alguma contestação e discórdia porquanto alguns não se achavam ter recebido a patente merecida enquanto outros não estavam de acordo com patentes atribuídas a outros comparativamente superiores ás suas. Não se deu importância porque se consideravam essas actitudes como respícios do colonialismo.

Em Janeiro de 1977 realiza-se o segundo patenteamento militar com alguma contestação e discórdia nos mesmos termos que o patenteamento anterior. Igualmente não se deu importância aquelas manifestações.

Voltando á DISA saliente-se que foram incorporados muito bons cidadãos.

Mas também se incorporou pessoas que:

• dado o seu perfil psicológico,
• carácter,
• educação,
• inexperiência profissional  e juventude


nunca na DISA deveriam estar em situação de normalidade política e social, conforme a doutrina de espionagem e de contraespionagem ensina e o exercício do poder e da autoridade acautela e mesmo a linha política do MPLA assevera.


Uma observação:

• A doutrina impõe certas regras e cuidados na incorporação de membros, devido a natureza própria que o exercício de autoridade directa lhes permite impor sobre as pessoas, o nível de informação classificada a que tem acesso e que causam estragos as vezes letais e fatais, se não se observar esses procedimentos.
Consciente de que:

• a urgente e acelerada criação da DISA fruto do contexto e da realidade politico-sócio-cultural que se vivia não permitia a observância dos princípios e procedimentos que a doutrina de espionagem e de contraespionagem obriga, mormente, em relação a selecção e enquadramento de pessoas,

• e perante alguns problemas surgidos no funcionamento da DISA inerentes a postura de alguns de seus membros junto aos cidadãos, devido a sua juventude, imaturidade e inexperiência, de deserções para o estrangeiro,   e mesmo de manifestações contrárias a linha política e ideológica do MPLA, etc


Próprios da forma como se teve de ás pressas, de se criar esse organismo para se fazer face á empolgante pressão militar interna e externa contra a soberania e Independência de Angola e a guerra levada a cabo pela UNITA e pela a FNLA, foi decidido:


• Levar a cabo um vasto movimento de formação de quadros quer no país como no exterior e com a introdução de cadeiras de legislação e de regulamentos para alem das cadeiras específicas.

• E ao mesmo tempo proceder-se á um amplo processo de avaliação de ´´quem é quem´´ com vista a filtragem do organismo da presença de toxinas, gorduras e de indisciplina. (se começaria no 2º semestre de 1977).

Um curso de especial de Pessoal e Quadros ministrado por cubanos ocorreu e pela primeira vez são ministradas aulas de legislação e de regulamentos militares para assim cada membro conhecer da razão de ser do Estado Angolano, da DISA, deveres e direitos e legislação atinente.

Terminado o curso e quando se preparava para se desencadear o plano de acção infelizmente isso não aconteceu.

(1) ano e (6) meses aproximadamente depois da independência, em pleno processo de guerra contra a invasão e divisão de Angola e de reconstrução económica e social de Angola, ocorre na madrugada de 27 de Maio de 1977 uma insurgência militar liderada pelo nosso antigo Comissário Político Bernardo Alves Baptista. ´´Nito Alves´´ contra o Governo da República Popular de Angola que foi frustrada, de até agora triste memória,  pela dimensão,  fúria dos acontecimentos do ataque e da resposta,  das vítimas inocentes  e pela injustificável razão que se apregoou para se desencadear e para se responder.


(CONTINUA)