Lisboa - O secretário geral da UNITA faz um "balanço negativo" dos oito anos de paz em Angola e acusa o governo angolano de não cumprir os acordos estabelecidos em 2002 e de travar a reconciliação nacional.


Fonte: Lusa



"O balanço é negativo porque há acordos que não foram cumpridos. Os militares, na maioria, foram deixados ao deus dará", disse Abílio Camalata Numa à Agência Lusa, em Lisboa.



"A agenda de reconciliação nacional não progrediu e agora, com a aprovação da nova Constituição, deixámos de ter um debate mais profundo, mais realista e mais consensual entre as partes", acrescentou o antigo general das ex-Forças Armadas de Libertação de Angola.



Numa, que se encontra em Lisboa com uma delegação da UNITA para transmitir a entidades políticas preocupações sobre a situação em Angola, acusou o atual governo angolano de ser "muito mais arrogante".



Há uma parte que está muito saudosista com o sistema de partido único, e é a isso que a UNITA tem que dizer que não", frisou.



"Os processos democráticos em Angola ficaram desequilibrados com as eleições de 2008, que foram uma fraude, como se provou posteriormente. Gostaríamos de prevenir que essa fraude não se voltasse a repetir", afirmou.



Camalata Numa lembrou que "Portugal tem uma importância fundamental nas relações com Angola", pelo que também pode ser "um árbitro que pode ajudar a que os angolanos encontrem caminhos de consolidação das suas instituições democráticas, civis e políticas".



"As pessoas têm se convencer que há muitas pessoas, sobretudo as da UNITA, a fazerem um sacrifício enorme para que a estabilidade se mantenha. Ao assumirmos em 2008 o ónus do resultado das eleições fraudulentas, quisemos dar uma lição a África, de que as eleições no continente africano não são só guerra", explicou.



Antes de chegar quinta feira a Lisboa, a delegação da UNITA esteve em Bruxelas, onde Camalata Numa avisou Portugal que não se deve concentrar apenas nas relações com o MPLA e o atual governo angolano, relegando para segundo plano a UNITA.



O dirigente partidário lembrou que "Portugal não é só o Governo" e que a UNITA tem "muitos amigos e portas abertas" no país.


"O papel de Portugal em Angola não devia ser visto na dimensão imediatista porque Portugal tem uma relação muito mais profunda do qualquer outro estado. Portugal deve olhar também para o futuro de Angola. Nesta dimensão há muitos atores, entre eles a UNITA", salientou.


A UNITA, afirmou, "vai continuar" a ser o partido "que as pessoas conheceram, que se vai adaptando com as novas realidades e o novo sistema que a globalização impõe e com certeza faremos parte do futuro de Angola".


"A UNITA tem muito apoio em Portugal. Estivemos um pouco ausentes e sentimos isso nas instituições e amigos que estamos a visitar em Portugal, onde há de facto muito carinho e amizade", disse, acrescentando que as reuniões têm sido "frutuosas".


A delegação da UNITA avistou-se com o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, João Gomes Cravinho, com o presidente do parlamento, Jaime Gama, com o PS e o CDS-PP e ainda com o cardeal patriarca de Lisboa, José Policarpo.


"Obtivemos alguns conselhos, muitos dos quais nos vão ajudar. Os encontros têm sido benéficos para a UNITA e para Angola, porque procuramos todos apenas o denominador comum da estabilidade, mas dentro do quadro das instituições democráticas transparentes", reiterou.