Luanda - 5. O TRABALHO DOS COMISSÁRIOS POLITICOS


Por causa de muitas divergências e dissidências que ocorreram no MPLA, a educação ideológica e a disciplina (cartilha do combatente) eram determinantes para a:


• coesão,
• pureza,
• organização interna dos vários órgãos que integravam o Movimento
• e a convivência e relacionamento entre os militantes.
Para esse trabalho particular destaque tinha a figura do Comissário Político. Cabia-lhe pessoalmente dirigir o trabalho político e ideológico junto dos militantes e dos trabalhadores civis através da:


• Divulgação de informações e orientações dos órgãos superiores.
• Estudo político e ideológico de acordo o MPLA.
• Alfabetização.
• Ensino da História de Angola.
• Educação moral e cívica.
• Contra os factores de divisão (racismo, tribalismo e regionalismo).
Portanto o Comissário Político é aquele que não mistura a sua atitude com o seu estado de ânimo. Não pode. Ele é sóbrio.
• Que evita problemas.
• Combate a divisão.
• Os abusos dos Comandantes ou dos Mandos Superiores contra os inferiores.
• Transmite a coragem, a heroicidade e a determinação de lutar.
• Apazigua os ânimos.
• Moraliza o guerrilheiro.
• Promove divertimentos entre guerrilheiros,
• Resolve divergências.
• É o porta voz dos inferiores.
• Se pronuncia sobre os castigos (especialmente os fuzilamentos).
• Informa a direcção quando ocorrem desvios de orient.
É em suma um apostolo no sentido figurado do termo porque apregoa. Portanto é uma figura carismática porque está em contacto directo e permanente com o combatente. É o defensor do combatente
• Combate intransigente todos os factores que levam a divisão e a incoesão.
• Imbui o princípio de critica e de auto critica em lugar próprio e frente-a-frente.
• Denúncia e combate a intriga, as abordagens separadas, de grupo e com a ausência do observado.
Isso é que se supunha ser um Comissário Político.


Se para Comandante eram chamados os guerrilheiros com mais conhecimentos de guerrilha e com elevada coragem, audácia e determinação.


Para Comissário Político eram escolhidos os com mais conhecimentos académicos, com carisma, capacidade de diálogo, de persuasão, de conversação ou dikelengo e de factor de exemplo a seguir.


Normalmente os Comissários Políticos eram mais letrados do que os Comandantes. O que de muito uns tinham de ferocidade e bravura, os outros tinham de frieza, calma, compostura e conhecimento. Uma clara demonstração da unidade e luta de contrários segundo a filosofia marxista.

Um Comissário Político não é fofoqueiro. Um Comissário Político não fala á toa.


As FAPLA, a DISA, a Polícia e os restantes órgãos para militares tinham Comissários Políticos Nacionais, distribuídos em todos os escalões hierárquicos que dispunham.


6. A ACTITUDE DE ALGUNS NOSSOS RESPONSAVEIS ANTES E DURANTE O DIA 27 DE MAIO DE 1977


Analise-se alguns excertos de uma entrevista que o nosso Comissário Político Luís dos Passos que foi um dos lideres da insurgência concedeu no ano passado largamente distribuída nas redes sociais sobre um bocado do seu ´´eu´´ antes, durante e depois do 27 de Maio de 1977.


Há partes propositadamente sublinhadas para se ater melhor.


1. A então União Soviética estava de facto a dar apoio ao Nito Alves e até incentivava. Mas não avançava com nota em concreto
Mas quem fazia os contactos ou a ligação com os soviéticos. Era Nito Alves, Zé Van-Dúnem ou você?

Era o Zé Van-Dúnem, mas quem os levou para fazerem esse contacto fui eu.


2. Na Direcção Política das Forças Armadas eu tinha assessores soviéticos, um deles chamava-se Victor. Era quem eu levava sempre para falar com Zé Van-Dúnem e ele é quem dizia se estava bem, se estavam de acordo.


3. Nito Alves não pretendia fazer nenhum golpe e eu já falei sobre isso noutras ocasiões. Não havia nada de golpistas nem de fraccionistas. Ele não planificou nenhum golpe de Estado. Nem sequer havia qualquer grupo organizado de fraccionistas. Isso não é verdade.


4. E hoje há provas que confirmam, que muitos dos Generais que passaram a reforma, quando tiveram conhecimento dessa manifestação de descontentamento, disseram claramente a Nito Alves que se “não for para um golpe não me meto”


5. Eu próprio também disse isso e defendi o mesmo. Mas depois que levei o Zé Van-Dúnem para falar com os soviéticos, envolvi-me e naquele dia foi preciso envolver-me ainda mais, até porque, de qualquer das formas, eu seria condenado.


6. É preciso ter em conta que a defesa, num caso de insurreição, é a morte e aquilo tinha que ser um contra-ataque constante.


7. E por isso, inicialmente, a manifestação foi adiada e sem dada de realização. O Zé Van-Dúnem, influenciado por outros camaradas oficiais como o Veloso e outros, por exemplo, que diziam que se tinha que fazer mesmo “porque as massas estão cansadas de tirar as armas e esconder”, decidiram sair no dia 27 de Maio.


8. Mas desde o primeiro instante que se estabeleceu que o exército só interviria se houvesse oposição armada da parte das forças aliadas à Agostinho Neto.


9. Não tinham grandes hipóteses, porque nesse domínio tínhamos tudo controlado. Os tanques estavam para sair do Soyo para Luanda, se para tal fosse necessário. As unidades anti-áreas ZT1 que foram para o Lubango, também estavam disponíveis. Os BM-21 também estavam disponíveis. Portanto todas as unidades que foram afastadas exactamente por causa disso, estavam dispostas a vir para Luanda. Se tivéssemos feito uma preparação melhor, teríamos o apoio dessas unidades, que tomariam Luanda se necessário, começando pelos sítios mais básicos.


10. A 9ª Brigada estava do nosso lado, bem como a unidade que estava ali a Che Guevara, no Grafanil.


11. Hoje tenho a felicidade de estar aqui vivo, mas fui eu que mandei tomar essa unidade, porque é lá que estava a logística militar. Quem deveria executar essa intervenção era a unidade que tínhamos no Cazenga, onde estava o nosso amigo Chandoca (+ um nome) mas não foi.


12. Outra unidade importante que se deveria tomar, era a Rádio. Quem tinha essa orientação era o capitão Diabo Negro – o comandante de uma unidade da Polícia Militar que funcionava em frente ao Instituto Makarenko, que deveria tomar também a unidade de comunicações, na baixa de Luanda.


13. Por isso é que na Rádio Nacional, quando as pessoas foram rechaçadas a caminho do Palácio antes de mandarmos tomar a 7ª Esquadra, continuou-se a apelar para que as pessoas fossem para Rádio, dizendo que a manifestação era lá.

Eu próprio fui ao Sambizanga buscar população – coitados muitos acabaram por ser mortos

- pus em dois autocarros voluntários para ir para a Rádio.


14. Não foi a 9ª Brigada como tal. Eu é que disse a população para entrar nos autocarros e ficar em frente à Rádio.


15. Eu estava pronto para varrer aqueles dois.
Caramba como hoje arrependo-me de não ter feito.
Era o Delfim de Castro, outro que era comandante da Guarda Presidencial,


16. na 9ª Brigada onde supostamente deveria estar a funcionar o estado-maior especial, não estava ninguém.


E quem deveria dar o sinal para começar a ripostar os cubanos, porque nós tínhamos capacidade de fogo, tinha que ser o Bakalof (+ nome verdadeiro), ou o Monstro Imortal, apesar de não estar tão envolvido, ou Nito Alves.


17. Então eu disse que tínhamos que eliminar essa força policial, que estava a vir na frente.


Então fomos até ao Palácio, corremos com a Polícia e com um BRDM e mais 10 homens tomamos a Rádio Nacional primeiro.
Fui eu quem disse para irem para lá,


18. não houve tentativa de golpe de Estado mas sim uma sublevação, de descontentamento, pela forma como já naquela altura o MPLA estava a gerir o país?

Mas é isso mesmo.

7. O MEU COMENTÁRIO E APELO


Cada um tira as suas ilações e lições sobre esses excertos. Portanto são atitudes assumidas por um membro do MPLA, em nome do MPLA para defender o MPLA. Das FAPLA. Um nosso Comissário Político.


Num contexto marcado por desanuviamento político e espiritual em busca de uma genuína reconciliação, de perdão e harmonização nacional, algumas actitudes podem incitar ao reacender dos ânimos e por fim não só os problemas nunca serão resolvidos como se agravarão.


De viva voz Luís dos Passos admite que ele é o responsável pela mortandade que se seguiu. Fez o que um Comissário Político do MPLA não era permitido fazer. O seu maior mal foi para alem de sua desobediência as regras militares.


Vejamos: então se já não tem poder para ordenar o ataque ao grupo que se acercavam da 9ª brigada e precisava de ordem ou de nosso Comandante Nito Alves, nosso Comissário Politico Bakalof ou de nosso Comandante Monstro imortal, como é que decidiu dar e comandar os ataques de como ele mesmo disse, ás unidades militares e da polícia?


Somente por pura cobardia é que não o fez porque seria dizimado. Fugiu deixando as tropas ingenuamente mobilizadas por si á deriva e assutados.
Você deveria ter vergonha porque foi a sua atitude irresponsável que levou a morte de inocentes e hoje você admite e se vangloria de não ter morto inocentes que estavam no exercício de seu dever: o de repor a ordem e a tranquilidade violada e incitada por si.


Se como disse, alguns dos Comandantes que passaram a reforma só aceitariam participar se fosse para realizar golpe de Estado e não manifestação e que naltura estiveste de acordo, como foi que mudaste de ideias e levas á Embaixada Soviética, o camarada membro do Comité Central do MPLA e Comissário Político da 3ª região Comissário Politico Zé Vandunen para acertos?


Então se já sabias que não se teria o concurso dos Comandantes, que esses não iriam e também concordaste com tal posição, como é que mesmo assim levaste o nosso Comissário Político Zé Vandunen para esse encontro de concertação onde saiu toda a trama externa da sublevação?


Meça e reflita as consequências desse teu acto no destino inglório e triste que o nosso querido Comissário Político Zé Vandunen teve ao aceitar o teu convite para o encontro na embaixada da União Soviética?


Isso não se faz! Mas foi feito e deu o que deu.

Deverias também ter vergonha de ter ido mobilizar Comandantes e eles não aceitaram fazer o que pretendia. O que teria sido se aceitassem? Louvado seja Deus que os iluminou a não seguirem o teu trilho, mas sim o trilho que permitiu defender Angola da indivisibilidade, da soberania e pela paz. Eles aí estão. A paz aí esta graças ao facto deles não terem aceite o teu macabro convite.


Você não percebeu que ao dizerem que só entravam só se fosse para dar Golpe de Estado e não o fizeram, que estavam claramente a dizer de que lado estavam?


Pare com isso meu Companheiro. Chega!


Não alimentemos mais confusões e nem busca de razões porque ninguém as teve neste particular.


Não mais sujeitos ao regime de ´´boca fechada´´ desde que o Presidente João Lourenço assumiu a Presidência da República tu, eu e todos os protagonistas directos desse acontecimento somos chamados a falar sem chauvinismo e nem rancor.


Os membros da DISA, da Defesa e de outros sectores que lutaram contra a insurgência e restabeleceram a ordem nunca falaram sobre o assunto. Nunca foram interpelados para falar sobre o assunto. Agora o contexto mudou completamente. E vamos começar a falar de A á Z sobre o nosso eu, antes, durante e depois do 27 de Maio de 1977 não para encontrar culpados, mas sim pelo desejo de levar ao conhecimento da actual e futura geração o que realmente aconteceu para nunca mais voltar a acontecer.


Nunca se inicia algo que se sabe que vai acabar mal e nem é assim que se deve fazer – disse um poeta.


Imortalizemos todos, mas todos que pereceram nesse problema. Que cada um faça uma introspecção onde foi que eu errei. Eramos todos amigos e camaradas e famílias entre si.


Tu, eu, e todos os outros de cada lado da contenda pertencemos a mesma escola de então: o da vitória ou morte pela Independência, soberania e integridade territorial. O da luta continua e a vitória é certa.


O que teria acontecido aos que combateram a insurgência, caso fossem derrotados, tendo em conta a doutrina da intransigência e de irascibilidade
que nos caracterizava a todos nós naquele período?


Já pensaste o que aconteceria? Não se trata de nenhuma justificação pelo que de mal ou de exagero se fez em resposta, mas sim para se perceber que estava em conflito pessoas da mesma escola de estar e fazer política.


Tu próprio Luis admites. A escola era a mesma. ´´quem com o ferro mata com o ferro morre´´. ´´Olho por olho´´. ´´Dente por dente´´. Já sabias que o fracasso do que se estava a fazer se pagava com a morte. Era essa a doutrina. E por isso havia e se assinava juramentos em que isso era bem evidenciado. E esses juramentos eram assinados em público e perante um Comissário Político como tu.


Antes demonstraste sempre exemplo e zelo. E por isso te seguíamos. Tinhas capacidade de mobilização e de convencimento. Aguerrido como eras no comando dos combates lá te seguíamos o exemplo.


Desde o CIR Kwenha Kuangungu em Malanje. Na frente do Mussende com falecido Comandante Ivady, o nosso falecido Camache como ele escrevia e não Camacho como se diz; o nosso amigo hoje General Zumbi.


Por isso te gostávamos e te admirávamos. Só o teu nome era uma garantia de confiança. Assim muitos te seguiram quando os mobilizaste, mas para o que não se podia nem se devia fazer. Onde estão eles? Será que não pensas nisso?
Contra quem os familiares dos militares que no decurso dos acontecimentos do 27 de Maio se devem queixar por:


• terem saído das unidades militares em estado de prevenção,
• terem atacado estabelecimentos civis e militares,
• furtado armamento para entregar a civis,
• montado barricadas e postos de controlo
• tudo isso sobre teu comando que hoje publicamente admites e te enalteces.


e acabaram por ser presos ou morrer por causa de ordens de superiores hierárquicos que não deviam dar e previamente sabiam que não deviam fazê-lo?
Contra quem os familiares desses que morreram se devem queixar? Devem se queixar?


Acabemos com isso! Já possuímos idade e maturidade á todos os níveis para perceber as coisas.

Paremos com a intriga! A maldita intriga!


Nós africanos somos facilmente levados pela intriga.


Tu próprio dizes que os Russos intrigaram. Eu acrescento que não foram os únicos. De um país ocidental também veio intriga.


E tu como Comissário Político falhaste.

Não culpes as Autoridades pelas mortes que ocorreram.


A perplexidade e a indecisão que se seguiu depois do desencadeamento das
acções e consequências da insurgência apanhou atónitos, perplexos e depois assustadíssimos t,odo o mundo. Houve suicídios. Não era para se ser assim naquele e nos outros dias. Nunca se deveria ser assim.


Até do lado dos insurgentes. Não era para ser assim. Assim disseram alguns quando vieram livremente se apresentar ou se render alguns ainda vivos.
Era tudo para ser resolvido pacificamente e sem envolvimento externo. Afinal uns dias antes do 27 de Maio, o Presidente Agostinho Neto almoçou com os nossos Comissários Nito Alves e José Vandunen numa tentativa de reconciliação e apaziguamento. Nesse encontro foram feitas promessas.
Afinal nada disso deu certo.

A intriga e a intransigência ultrapassaram a serenidade e a harmonia. Houve ainda a derradeira medida:

• preparar umas casas em Viana e colocar sob residência vigiada, tu, os nossos comissários Nito Alves, Jose Vandunen, Bakalof.


• Preparou-se a acção, mas uma fuga de informação deixou abaixo essa medida. No interior da DISA e secretamente jorrava também o sangue da discórdia e de divisão:

o A falsa existência de (2) DISA´s:
 a DISA dos brancos e mulatos,
 e a DISA dos pretos.


A DISA apercebeu-se do movimento secreto de militares a partir do Soyo, Cabinda, Lubango, Ambriz e Malanje para Luanda para a realização da insurgência. Nunca se preparou para o pior. Nunca sequer se pensou na ousadia da insurgência, porque os problemas que se dizia existir eram de fácil e ainda por cima de rápida solução: um Congresso do MPLA.

A pergunta que se fazia entre uns e outros de que lado estás, era um sinal indicativo de cisão.

Mas mesmo assim partiu-se para algumas medidas operativas:

• descompactar a 9ª brigada em várias direcções.

• Esconder os rotores dos motores BRDM´s na 9ª brigada para evitar que fossem usados os blindados..


O que seria se todos os BRDM´s tivessem saído para a insurgência?
Mas tu descobriste e mandaram vir (4) rotores do Soyo para os únicos BRDM´s que foram usados. Se os restantes BRDM´s que existiam saíssem?...


Esses (4) BRDM´s (carros blindados equipados com metralhadora pesada) que saíram não foram suficientes e daí o início do fracasso.


A nossa Comandante Vérinha e Zeca Ndongo, esperaram pelos outros BRDM´s durante o ataque á cadeia de São Paulo que os insurgentes fizeram e tiveram a tenaz resistência de bravos soldados da DISA ali e até prisioneiros se alistaram para ajudar na defesa. Morreram nesse ataque (2) defensores da Cadeia de S. Paulo e os insurgentes tomaram-na depois de 4 horas de combate.
Foi um terror na cidade: FAPLA contra FAPLA. Tiros por todo o lado.


Tu és um dos que levaram militares e civis a morrerem com o teu acto para a desobediência militar e até pegaste como dizes camiões e foste levar a população do Sambizanga para a tomada da Rádio Nacional.


E depois tu mesmo dizes teres pena que muitos deles morreram. Que militar és tu, que Comissário Político foste tu para fazer uma coisa dessas, contrária a ética do cargo e dos regulamentos militares?


Insurgência militar em direcção ao Palácio do Presidente com mortes. Isso é o quê?


Retirar armamento para atacar uma instalação militar ou policial é o quê?
Roubar armas dos quartéis e distribuir aos civis para se sublevarem é o quê?
Sequestrar e fazer reféns Ministros e comandantes militares é o que?


Passear pela cidade depois da tomada da radio nacional em cima de um blindado retirado de uma unidade militar que não lhe pertencia ostentando a mão com o sinal de vitória, é o quê?


Furtar documentos secretos que foram encontrados em locais onde naturalmente não poderiam estar é o quê?


Montar postos de controlo em toda a cidade com militares amotinados que estavam sob ordem militar de prevenção absoluta é o quê?

Desobedecer o estado de prevenção e aquartelamento é o quê?


É o quê isso, de maltratar e humilhar um insurgente em condição de detido?
É o quê isso, quando pessoa levada por sentimentos de complexo de inferioridade intelectual ou de posição, inveja e cobiça prende, acusa e humilha inocente só porque não pertence a sua região ou província?


É o quê isso, quando levado por sentimentos de complexo de inferioridade decorrente de sua apresentação, beleza, carisma ou de contendas passadas e simplesmente para intimidar e ganhar autoridade e notoriedade prende, e humilha inocente só porque mantinha relações de amizade com envolvidos na insurgência?


É o quê isso, quando se ostenta e exibe autoridade e prepotência em nome da vitoria obtida sobre os insurgentes?


Quem foi que não conseguiu conter o descontrolo alargado que a resposta á insurgência permitiu, fazendo acontecer os abusos de poder, de autoridade e de perseguição que se seguiu?


Se (2) irmãos se desentendem o amigo de ambos se esforça por uni-los. Não tira partido nem de um ou de outro. Mas se um ataca o outro irmão sem aviso como é que esse amigo fica perante os (2)?

É o quê, isso que…?
É o quê, isso que…?


Realmente sobre ´´é o quê isso que…´´ tem milhares de respostas e todas certas.


Mas o porquê que aconteceu já não? Não há questão nenhuma que responda á essa pergunta sobre o porquê que aconteceu. Para se saber das causas sim, há respostas. O Porquê significa a razão e isso não houve e não e nunca houve, há ou haverá razão sobre os acontecimentos do 27 de Maio.


Esqueçamos isso e sejamos para agrado de Deus o que nos fomos antes.
Demos força para a manutenção e continuidade de encontros entre antigos militares da DISA e representantes de insurgentes do 27 de Maio que já começaram a acontecer com regularidade e afectividade e com muitos bons resultados para se desanuviar esse ambiente porque afinal só perdemos por isso, com vista ao nosso grande encontro que não tenhamos dúvidas: vai acontecer porque é o único caminho a seguir.


Não há outro como certos intriguistas de ´´ouvir dizer´´ pretendem.
E logo depois e com frontalidade e sem respício de ressentimento ou de mágoa passaremos então a escrever a história desse acontecimento para ´´não mais voltar a acontecer´´, segundo o poeta.


Voltemos a nos apertar as mãos e vamos lá outra vez a lembrar os nossos tempos do Liceu Salvador Correia, do Centro Social de São Paulo, na Maxinde, no Cir Calunga, nos prédios do Kaputo, no avanço no Bié pelo Cuemba, na Chipeta (ainda há pessoas que se lembram de ti naquela época), no Mussende (realmente eras um bom bazuqueiro) e muitas coisas lindas de se lembrar.
Vamos chorar juntos quando nos lembrarmos dos que pereceram nessa confusão criada por intriga internacional e de ambição humana.


Vamos trabalhar juntos para que não sejamos nós os que sobreviveram dessa situação e em que alguns foram reabilitados e compensados com benesses como os únicos a merecê-lo.


Certo sim é a reabilitação e a compensação de kz 23.800 que mensalmente o Estado nos gratifica como antigos combatentes, por nossa participação nas várias lutas que ocorreram: contra o colonialismo e entre nós. Mas isso não atingiu á todos nós que ainda vivos merecemos.


Matar alguém é uma experiência inesquecível, porquanto tira-se o que ele tem e o que ele teria. Se tira também aquilo que outros teriam tido daquele que morreu. Pensemos nisso quando apregoamos a vingança como justiça.


Por isso vamos ter atenção aos familiares (órfãos, viúvas/viúvos e netos) de todos os que pereceram por causa dessa situação. Estamos todos comprometidos com esse dever sobre essas pessoas.


Vamos trabalhar em conjunto no sentido de identificar e encontrar as vítimas vivas dessa situação: os órfãos e as viúvas e os netos dos perecidos para;

• se lhes repor a autoestima,

• lhe fornecer a verdade deduzida e não induzida

• e por fim acolhê-los para a integração social nesse nosso país.
O que aconteceu para esses é extremamente injusto. Que não se olhe para eles não de uma forma de se ter pena, mas de uma forma de se lhes compensar primeiro com o reconhecimento que foi um erro clamoroso de parte a parte e segundo a mobilização para apoio e integração social dessa franja de afectados.


A história deve ser contada não por aqueles que ouviram falar ou leram sobre ela. Os protagonistas de todos os níveis estão ainda aí e eu sou um deles e isso deve ser feito com base num encontro frontal e amistoso entre todos nós.

E assim se saberá coisas que:

• afinal não foram tanto assim como se diz,

• foram mesmo assim,

• nunca antes se disse e/ou

• foram completamente contrárias de como se diz.

• E a intriga.


Estamos juntos e estou pronto, tal como outros, no espírito que o nosso Comandante-em-Chefe nos ordenou para a harmonia, reconciliação e perdão nacional a nos abraçar e conversar sobre o ´´ 27 de Maio de 1977 – para não mais voltar a acontecer´´ conforme o poeta disse.

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FIM

GABRIEL TAVARES KALUBUATA ´´GTK´´