Lisboa - Angola mudou muito nos últimos anos e abraçou a ideologia capitalista e a economia de mercado. Um passo que acaba por chocar com a matriz de esquerda do partido no poder, o MPLA, ao lado do qual Pepetela combateu enquanto era um movimento de libertação de Angola e que representou enquanto governante.
Fonte: Hugo Rodrigues/Luís Ene
Hoje, o escritor angolano não esconde o seu descontentamento pelo rumo que o seu país tomou.
Considerando existir, actualmente, «um ambiente favorável ao desenvolvimento económico de Angola», algo que se verifica «desde que houve a paz» e que leva a que comecem a surgir «infra-estruturas importantes» e até «mais algum emprego», Pepetela mostra-se preocupado com os desequilíbrios que existem na sociedade angolana.
«Não se sentem ainda as consequências sociais deste crescimento económico. Aparentemente, não está a haver desenvolvimento e sim enriquecimento de uma burguesia», que muitas vezes leva o dinheiro para além-fronteiras, disse. «Há uma diferenciação social que se tem agravado», resumiu.
Apesar de ser natural de Benguela, Pepetela fez de Luanda a sua cidade e escreveu, em tempos, sobre as belezas da capital angolana.
Mas as mudanças que a sua cidade sofreu devido aos fortes desequilíbrios sociais com que Angola se debate levam-no a ser assertivo na hora de descrever o que ela se tornou. «Eu não sou crente, mas partilho com eles uma noção: a do Inferno. Eu vivo no Inferno!», afirmou.
Luanda comporta, nos dias que correm, cerca de cinco milhões de habitantes, quando as infra-estruturas existentes foram concebidas para uma população de perto de 500 mil pessoas. «Há extensos bairros nos arredores sem água, luz ou esgotos».
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