Luanda - Texto de  apresentação de Celso Malavoloneke proferido no CEFOJOR, em Luanda, a quando do lançamento do livro do jornalista  Adebayo Vunge.


Fonte: Club-k.net


Distintos convidados;



Caros colegas;



Antes de mais, gostaria de apresentar os meus agradecimentos ao colega e amigo Adebayo, pela oportunidade que me dá de tecer umas poucas, certamente menos dignas palavras em redor da obra que hoje se nos apresenta. Da mesma forma que não escondo o quanto me honra o convite, não escondo também a consciência da grandeza da responsabilidade que é resumir com a fidelidade possível um trabalho resultante de uma profunda e rigorosa investigação científica. Faço a tentativa, escudado no consolo que as inevitáveis lacunas serão afinal a base da motivação dos presentes para embarcar no prazer que eu experimentei quando li a obra.



É que, posso garantir-vos, o Adebayo, a pretexto de reflectir sobre a credibilidade dos media em Angola, aproveitou para fazer um verdadeiro passeio investigativo e científico pelas malambas desta forma mwangolé de fazer Comunicação Social. Diria mais: O Adebayo utilizou esse pretexto para fazer – e dizer – muitas coisas. Vou aqui enumerar apenas algumas.



Em primeiro lugar, e às cavalitas com a Ciência – não nos esqueçamos que trata-se de uma obra origináriamente concebida como Monografia de Licenciatura – o autor começa por escalpelizar os conceitos mais correntes do jornalismo actual: O Agenda-setting e o newsmaking, o pseudo-acontecimento, a noticiabilidade ou valor-notícia, os vários tipos de notícias, desde as hard news às hot news, passando pelas soft news... enfim, e aproveitando-se da sua reconhecida capacidade como docente universitário de Jornalismo, o Adebayo dá uma lição de muita sapiência sobre os fundamentos teóricos desta profissão.



Ainda a pretexto da credibilidade da media em Angola, ele aproveita – de esquebra, como soe agora dizer-se – para dar um passeio pela História e estórias dos media em Angola, como diria o saudoso Sebastião Coelho. Mas não faz apenas isso. Recorrendo a autores de reconhecida idoneidade, desde os angolanos Carlos Erverdosa, o já citado Sebastião Coelho e Júlio de Castro Lopo, a clássicos como Jurgen Habermas, o Adebayo faz uma compilação interessante do seu pensamento e, de uma forma bastante original, faz uma tentativa, bastante conseguida, diga-se de passagem de situar teóricamente a nossa comunicação social. Como que a dar-lhe uma roupagem escolástica. Como que a tentar definir os contornos de uma escola angolana de jornalismo. Tanto assim é que, depois de explicar os cinco modelos clássicos de jornalismo – autoritário, o revolucionário, o comunista, o do Jornalismo para o Desenvolvimento e o ocidental – não tergiversa e propõe o lugar onde, do seu ponto de vista, situa-se a nossa maneira intremuros de fazer comunicação social: algures num processo nem sempre pacífico de transição onde se todos concordamos que o ponto de partida foi o modelo comunista, já não é tanto assim quanto ao ponto de chegada: algumas vezes escorregamos mais para a esquerda onde tocaríamos no jornalismo para o desenvolvimento; outras vezes, e não poucas vamos de esquindiva lá mais para a direita onde andamos às bolandas com o modelo ocidental. O modelo ocidental que nos querem impôr com ele!



E finalmente, como não podia deixar de ser, o Adebayo vira-se para a nossa realidade, e a ela aplica os axiomas teóricos e conceptuais que arrumou nas etapas anteriores da obra. E para isso, seleccionou dois acontecimentos mediáticos que, hoje por hoje, são incontornáveis qualquer estudioso que se interesse pela nossa media: A matéria “Os Nossos Milionários do jornal Angolense – antes de se transformar em Semanário Angolense – e a do Pretenso Cárcere Privado de Ngola Kabangu da TPA.



E é aqui que, envolto no manto do rigôr científico a obra do Adebayo levanta uma série de questões. Fiel à irreverência própria da essência científica, Adebayo toca aspectos sensíveis, alguns deles ainda tabu nesta conjuntura que estamos com ela: desde a polémica exigência do mínimo de um curso superior para aceder à profissão de jornalista ao verdadeiro papel que estes exercem face à democratização quase total da Informação proporcionada pela INTERNET. Desde a questão do quanto as duas matérias foram na realidade um facto que pela sua dimensão merecia ser mediatizado, ou se a media é que transformou o rato numa montanha. E em caso disso sob que motivações. E nessa passada, o Adebayo inevitávelmente ataca de frente o eterno problema da relação de amor e ódio entre a Comunicação e o Poder. Enfim, uma sopa que a todos os títulos vale a pena degustar. Convido por isso os presentes a levar à boca a primeira colherada, na certeza que comerão até lamber o prato...!



Apresentada a obra, cabe aqui agora apresentar o Autor. Conheci o Adebayo nos bancos da universidade onde eu, velhote já a meio da casa dos trinta, o fui encontrar, ele rondando o início dos vinte anos. Chamou-me a atenção a seriedade, quase sisudez com que empenhava-se nos estudos, o que valia-lhe na altura a atenção e respeito especial de professores como a saudosa Gabriela Antunes, e os Drs. João Melo, Amelia Borja, Albino Carlos e Manuel António, entre outros. Excusado é dizer que o Adebayo era um aluno brilhante, já naquela altura incomumente preocupado não só em adquirir o Conhecimento, como em ampliá-lo e partilhá-lo.



Por isso não estranha que logo após a sua formatura tenha entrado para a docência universitária, e por isso não estranha que, apesar dos múltiplos afazeres que a necessidade de sobrevivência nos impõe, o Adebayo vá já na sua segunda obra. O que, se nos ativermos que apenas formou-se em 2007, é caso para dizer que é obra, já que escrever não é para quem quer, mas para quem sabe. Para a nossa própria vantagem, auguramos que o Adebayo nos brinde com mais e muitas obras, cuja qualidade a sua reconhecida capacidade nos garante à partida.



Muito obrigado pela vossa atenção.


Celso Malavoloneke