Luanda - É hilário e, ao mesmo tempo, curioso que, no dia 30 de Junho, o Presidente da República tenha apelado que não se propague a mentira, a intriga, a intolerância e o ódio nas redes sociais. Concordo em toda linha.
Fonte: Club-k.net
Todavia, é por demais consabido que João Lourenço não permite, por exemplo, que os órgãos de Comunicação Social públicos, sob seu acérrimo controlo, sejam o espelho da moralidade, da transparência, do pluralismo político e da promoção do Estado de direito democrático.
João Lourenço não permite que os órgãos de Comunicação Social públicos promovam a reconciliação entre os angolanos. Mas permite, verbis gratia, que militantes do partido no poder e funcionários da Presidência da República desfiram livre e impunemente ataques vis e cobardes, escudados em pseudônimos, contra quem escapa ao controlo da esfera ideológica actuante e reivindica por uma melhor governação do País.
O apelo do Titular do Poder Executivo (TPE) é incoerente por dizer uma coisa e fazer outra. É que ele diz uma coisa e faz uma outra diametralmente oposta. Mais ou menos do tipo “façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço”.
O que é que João Lourenço mandou fazer? Mandou - de acordo com o jornal “O Crime” - criar, de forma clandestina, por intermédio do Ministério do Interior, nas antigas instalações da Direcção-Geral do Serviço de Investigação Criminal (SIC), localizada no bairro Popular, em Luanda, uma cela especial para deter, interrogar e torturar todos os indivíduos que o criticam nas redes sociais.
Segundo fontes do jornal “O Crime”, nesta altura encontram-se detidos nas referidas celas mais de 15 indivíduos que, nas redes sociais, terão criticado o Presidente da República e o sofrível desempenho do seu Governo.
Os detidos - destaca o referido jornal - são submetidos a um interrogatório realizado pelos efectivos do SIC e do SINSE. O mesmo implica tortura psicológica e física.
A pergunta é: como é que João Lourenço tem a moral e a (grande) lata de pedir que os cidadãos que desaprovam a sua governação não usem as redes sociais como meio de contestação e luta para verberar contra o acentuado desrespeito dos Direitos Humanos que se assiste hoje em Angola?
Estou certo e seguro que se pudesse, João Lourenço mandaria comprar tesouras para “cortar” todas as redes sociais existentes, de sorte a relaxar a sua memória e dormir em paz.
O uso das redes sociais não deve ser interpretado como meio de propagação da mentira, da intriga, da intolerância ou do ódio.
É bom que João Lourenço saiba, de uma vez por todas, que as redes sociais são, hoje, em Angola, o último reduto da Liberdade de Imprensa, de Expressão e de Opinião da Sociedade Civil e da oposição política.
As redes sociais são, hoje, no caso de Angola, tribunas das liberdades que João Lourenço tenta, a todo custo, suprimir. Por isso, a luta, nas redes sociais, deve prosseguir . E tenho para mim que a vitória, esta, será certa.
Não venham depois, o Presidente da República e os seus sequazes, com um lenço branco, flamejante, na ponta de uma vara pedir “paz”, quando o País está com fome devido a sua má governação.
Que o Presidente João Lourenço não diga, depois,“aqui de’l rei”!