Luanda - Quem passa por Talatona ou baixa de Luanda provavelmente já deve ter observado a requalificação dos jardins e a nova imagem que estes têm conferido a capital.
Fonte: Club-k.net
Os jardins comparticipados ou patrocinados como se têm chamado, vão surgindo em alguns lugares da capital e têm dado o ar da sua graça, benefíciando à cidade e os seus cidadãos, na melhoria da qualidade de vida, redução da poluição sonora, absorção das águas das chuvas, servindo de habitat para animais, de contemplação, inspiração para idosos, crianças, atletas, amantes e poetas.
A urbanização das cidades deve garantir um equilíbrio entre a transformação da natureza hoje necessária a vida humana assim como a preservação de partes desta mesma natureza para a sua continuidade.
Os jardins, parques urbanos e florestas devem fazer parte das cidades, e devem ser projectados para conferir qualidade de vida aos homens e a continuidade das diferentes espécies vivas do nosso habitat.
Os homens, foram feitos para viver na natureza, não obstante transformarem-na em cinza betão, é nos jardins, na beleza das flores e no verde das folhas que encontram a esperança e alegria da vida, o ar que respiram, a paz, a saúde física e mental e a humanidade.
Hoje é possível ver músicos em duetos com as flores na gravação dos seus clipes. Noivos dividindo o amor com as rosas e palmeiras, nas fotos tiradas nos jardins hoje floridos. Os povos, dos bairros "Paraíso" e "Maluecas" da vida, descendo à marginal e bairros nobres para se Iludir nas fotos, flores e na beleza dos jardins rejuvenescido diferentes dos paraísos onde vivem.
Existem estudos que indicam que em cidades com muitos jardins há um menor nível de stress nos seus habitantes assim como menor tensão na vida urbana. As pessoas são mais sensíveis às causas humanas e as crianças que vivem em locais com mais vegetação, têm menor sensibilidade a alergias.
Reconhecemos que o Governo tem feito um trabalho de louvar mas, como não a bela sem senão, para os mais atentos torna-se visível que esses jardins, requalificados, só têm dado o ar da sua graça nas zonas nobres da cidade. Não tem sido visível jardins com tanta beleza e requintes nos bairros do Rangel, Cazenga, sambizanga, Viana ou kilamba kiaxi.
Para uma sociedade onde todos são iguais perante a lei, parece que alguns são mais iguais entre si.
A humanização dos espaços é tão necessária nas zonas nobres quanto nas zonas menos nobres de Luanda. Os cidadãos dos bairros menos nobres também padecem dos mesmos problemas derivados da vivência urbana: o stress, e precisam de igual forma de espaços urbanos que funcionam como escape à essa vivência agitada das cidades. Aqui os jardins trariam mais cor e qualidade de vida aos musseques populosos.
É visível a falta de jardins e espaços urbanos de descompressão que permitam as pessoas contemplar, conviver ou mesmo a prática desportiva em ambiente natural na maior parte dos bairros de Luanda. Num período em que muitos fogem as pressões e depressões da vida é na prática desportiva e na contemplação da natureza que muitos encontrariam forças para recarregar as baterias.
Gostaria de desafiar o governo de Luanda e as instituições que têm apoiado a construção dos jardins nas zonas nobres à fazerem-no também no Paraíso, Sapu, Rangel, Zangos e outros, mudando a areia musseque por jardins com a mesma qualidade paisagística das zonas nobres, para que os cidadãos que aí vivem tenham também a alegria de ver a esperança e o amor nas flores e nos bairros em que vivem, sem terem a necessidade de descer à Mutamba, Talatona para contemplar os "Jardins proibidos" nos musseques dos povos esquecidos.
By L. Cunha,(Arqto, Urbanista e paisagista)