Luanda - 100 dias fora de casa e a viver de favores em casa dos outros. Há cem dias, exactamente no início da tarde do sábado 22 de Abril de 2023, os moradores do Lote 1 no Bairro Prenda, Rua dos Sertanejos, depois de prontamente notificarem as autoridades sobre o estrondo verificado no seu edifício, fruto do estado de esforço ressentido por um dos seus pilares, abandonaram por livre iniciativa e de forma ordeira o seu edifício.

Fonte: Mira do Crime 

Foi se verificando em seguida a chegada, por ordem de hierarquia, dos menores aos maiores, das autoridades policiais e civis desde o agente policial em serviço ao vice-governador para área técnica. Foram consertos atrás de consertos entre tais autoridades diante do desespero e ansiedade dos moradores, até que ao início da noite a administradora do Município de Luanda convocou os moradores para um ponto de situação.


Um pequeno feixe de esperança surgia para nós quando no início da sua abordagem a administradora fez questão de salientar que o senhor governador tem exigido maior HUMANIZAÇÃO no tratamento dos problemas dos luandenses. Com isso, os moradores aceitaram a recomendação da Administração de Luanda para que cada um se alojasse temporariamente aonde pudesse, com a esperança de que na Terça-feira a seguir, como fora prometido, se apresentasse uma solução definitiva para a situação.


Dias depois fomos então surpreendidos com a proposta da administração de alojar os moradores no projecto habitacional Maye-Maye, um projecto de casas sociais que está a sete táxis de tudo o que é a vida dos moradores do lote 1 e que está totalmente desprovido de qualquer serviço básico.


Importa aqui lembrar que casas sociais são imóveis de construção simples e qualidade mínima que, de alguma forma, o Estado entrega às pessoas que não têm condições para aceder a uma habitação digna.


Pronta e unanimemente os moradores rejeitaram a proposta, que é no mínimo injusta por inúmeros motivos, e apresentaram como contraproposta outros projectos habitacionais que, como é do conhecimento público, tem espaços suficientes para alojar as 41 famílias do lote 1.


100 dias se passaram e tudo o que nos dizem os nossos SERVIDORES PÚBLICOS da Administração Municipal e do Governo Provincial de Luanda é que ambos NÃO TÊM COMPETÊNCIA para apresentar uma solução viável para o Público Luandense do lote 1.

Eu já tinha perdido a conta dos dias passados, mas uma moradora do nosso prédio desde 1975 e com mais de 80 anos hoje disse-me:


" Quando você dorme na cama alheia, você conta os dias para voltar à tua cama"


Quanta humanização meus senhores...


Neste momento não sei o que cheira pior. Se são as arcas das nossas casas que exalam a podridão que já se embrenhou nas nossas coisas abandonadas no edifício tomado agora pelos ratos, ou se é o descaso das autoridades que se dizem SEM COMPETÊNCIA para advogar em favor de quem deveriam proteger.


*Morador do Lote