Luanda - Foi com essa questão filosófica, que bem poderia parecer um trocadilho, mas que encerra uma tão tautológica million dollar question para qualquer comum dos angolanos que hoje vive completamente intrigado quanto ao nosso futuro próximo.

Fonte: JA

No fundo, há de facto, como coloca o Professor Doutor Carlos Feijó na sua intervenção no Fórum do Expansão para descontrução do crédito bancário a economia nacional, um ciclo de crises em que a matriz do problema parece ser basicamente a mesma, pelo menos dos últimos quinze anos, se considerarmos o primeiro crush do pós-guerra, em 2008, com a crise do sub-prime.

 

Eu sou um optimista ferrenho que acredita piamente nas soluções do positivismo científico e, por isso, acredito que Angola ainda dispõe dos fundamentais para encetar uma nova recuperação da curva de crescimento económico há que timidamente estávamos já a trilhar, considerando os números de 2021 e 2022.

 

Então, o acento tónico que vai sendo colocado sobre o sector bancário ou financeiro de uma maneira geral resulta de vários factores, sendo de destacar o facto de ser aquele em que se regista um nível de maior resiliência aos choques económicos a que vamos assistindo. Contra "marés e tempestades”, a banca angolana continua a apresentar resultados positivos, levantando-se muitas vezes os questionamentos sobre a sua capacidade de contribuir para a resolução do problema, pelo menos quanto ao financiamento ao sector produtivo em níveis mais sólidos e robustos.

 

Mas não tenhamos ilusões. Já não sei quem terá dito, mas a verdade é que muitas vezes a solução de um problema está no próprio problema. Então, tenho para mim duas premissas: o Estado é a causa e solução do problema. O Estado precisa aprender as lições dos seus erros e não poderá permitir-se o comportamento de um mau aluno. As lições do passado, como demostram os pronunciamentos recentes de Carlos Feijó e Aldemiro Vaz da Conceição, devem fazer escola para que possamos dar passos, saltos e avançar. O Estado não pode ser um casmurro trapalhão. E não me permito a lógica dos culpados. Abomino-a. Prefiro o foco na solução, aprendendo com o que nos correu menos mal.

 

Para minha segunda premissa, a descapitalização da economia nacional não se resume ao financiamento bancário. A descapitalização resolve-se com o dever patriótico que devem ter "aqueles que foram e/ou se capitalizaram por todos nós”, para ser politicamente brando ou correcto.

 

Os exemplos que a humanidade nos tem proporcionado, principalmente os países ocidentais nos mostram que estes não irão facilitar a circulação de capitais ilícitos em favor dos seus verdadeiros beneficiários quando estes estão fora da sua geografia. Por isso, é muito importante que os nossos afortunados capitalizados em desfavor da maioria percebam o quanto estão eles próprios e os seus capitais mais protegidos em solo pátrio do que no estrangeiro. Ninguém hoje tem dúvidas do quanto mais é importante investir aqui do que manter as suas fortunas num "garrafão bancário” em geografias que se apropriam posteriormente desses recursos que não beneficiam então quem deles se apropriou. De resto, as cartas há que muitos vão recebendo é um sinal inequívoco disso mesmo. A lógica de tudo levar deve dar lugar a lógica de investirmos localmente para que possamos viver tranquilamente em Angola, como em qualquer outro lugar desenvolvido.

 

A este propósito, um amigo dir-me-ia, há alguns dias: um americano é mais protegido nos Estados Unidos da América do que em qualquer outro lugar. E aí está o cerne do sentido patriótico destes mesmos que entenderam há seculos o valor do que é investir no bem-estar, na estabilidade de "instituições inclusivas” e na repartição da riqueza em prol de todos.

 

Ai sim, poderemos falar da salvação no lugar do suicídio. O positivismo precisa encontrar elementos da realidade que lhe deia corpo para todos os angolanos se sintam parte do problema, mas também parte da solução, concentrando-nos numa viragem estrutural no nosso modelo de Estado, de cidadania, de sociedade e de capitalismo, abandonando por isso a lógica de assistencialismo e predação para a lógica de inclusão, cooperação, meritocracia e sustentabilidade.

 

Finalmente, precisamos perceber que nesse momento, cada um de nós tem de se questionar, seriamente: Qual o contributo concreto nesta fase de crise, de modo que represente uma oportunidade para mudarmos o curso da nossa economia? E aí sim, é bastante pertinente a reflexão do Dr. Feijó. O destino é previsível e o momento é decisivo: ou há uma salvação geral ou um suicídio. Depende de nós, embora alguns tenham mais responsabilidades que outros.