Luanda - DISCURSO DE TOMADA DE POSSE DO NÚCLEO PROVINCIAL DO BIÉ DO JANGO CULTURAL

BIÉ, 19. AGOSTO. 2023

Por: Luís de Castro, Presidente do Jango Cultural.

Minhas Senhoras e meus Senhores,


Começo por parabenizar a direcção ora empossada, de quem esperamos uma postura exemplar e irrepreensível, nesta circunscrição do país, no que diz respeito à cidadania activa.

 

A nossa expectativa é que, o Núcleo Provincial do Bié do Jango Cultural, seja um instrumento de apoio ao governo local e verdadeiro factor de mudança da massa juvenil, e não só, com vista uma governação inclusiva dos actores da sociedade civil.

Caros Companheiros,

A nossa missão é bastante espinhosa... Tudo porque Angola transformou-se, nos últimos anos, num país de incerteza.


Ou seja, se durante o consulado dos ditos Marimbondos, os angolanos viveram uma ilusória estabilidade socio-económica, caracterizada pelo saque desenfreado de dinheiro público para os paraísos fiscais; Nos últimos 6 anos, Angola e os angolanos estão mergulhados num mar de incertezas.

Dito de maneira mais simples, estamos diante de velhas práticas, mas com novos protagonistas que continuam a transferir "rios de dinheiro" para engordar economias da Europa e outras geografias, através do PIIM e das adjudicações directas.

Os discursos massudos e repetidos do Presidente da República e dos seus seguidores dos distintos departamentos ministeriais e governos provinciais demonstram "incerteza"...

A condução dos destinos de Angola assemelha-se a um camião contentorizado que carrega uma diversidade de recursos naturais e humanos, capaz de garantir qualidade de vida e desenvolvimento sustentável. Mas o pior defeito está no facto do "motorista" insistir trocar o pneu a descer uma subida, numa velocidade de 100 quilómetros/hora.

O nosso foco é fiscalizar, de forma enérgica, essa estirpe de gestores públicos que padecem da síndrome de enriquecimento ilícito.

Caros activistas defensores de direitos humanos,

Angola é um país que tem tudo para dar certo, mas a ganância de gente que se apregoa como donos da terra e únicos que podem governar, de forma vitalícia, continua a arrastar o país para lama.

Os recursos humanos representam o principal activo de uma sociedade. Mas, a Educação no país ainda não é libertadora.


O regime continua a privilegiar o modelo de reprodução de ideias, desde o ensino primário até o Superior, de modo a não estimular o espírito crítico e inovador.


Prova disso é que as raríssimas excepções de estudantes brilhantes que resistem as armadilhas do sistema educacional não são valorizados; ao ponto de um vencedor de "Olimpíadas Nacional de Matemática" tem como prémio CEM MIL KWANZAS, ao passo que o vencedor do concurso de Kuduro recebe casas, viaturas e milhões de Kwanzas.
São indicadores que revelam um "país de pirâmide invertida"...

A “Angola real” revela que a assistência médica e medicamentosa ainda é uma miragem.
Muitos serviços hospitalares só funcionam na plenitude apenas nos "noticiários", porque ainda existem pessoas continuam a morrer por falta de médicos, ambulâncias ou medicamentos.

Os projectos habitacionais estão longe de atender a demanda; ao passo que não existem políticas de incentivo à auto-construção dirigida.


Como se diz na gíria, "se as obras do PIIM páram por falta de dinheiro, não se pode esperar que um simples funcionário público construa a sua casa com dignidade, só para não citar um desempregado".

A agricultura seria um sector estratégico para desenvolver a economia nacional e emprego directos à milhões de jovens angolanos. Mas quem tem a voz de comando na tomada de decisão tarda a perceber o óbvio.

Caros compatriotas,

O drama do desemprego e da pobreza sufoca, cada vez mais, os angolanos. Por essa razão, a sociedade civil, e a juventude em particular, deve condenar o agravamento do estado de pobreza a que estão sujeitos milhões de angolanos, face às mais variadas políticas públicas fracassadas.

Hoje percebemos que a actividade de zungueira e mototaxista está enquadrada na política de implementação dos 500 mil empregos.

A falta de emprego e oportunidades de negócio continua a ser o principal calcanhar de Aquiles da juventude angolana. Em consequência, a depressão vai tomando conta da camada juvenil, e muitas vezes o suicídio tem sido a saída encontrada para muitos.

Caros compatriotas,
A comunicação social pública, instrumentalizada pelo partido no poder, tem sido um dos adversários da juventude.


É comum venderem uma realidade de um país mirabolante, onde a economia angolana cresce todos os dias; os investidores estrangeiros estão a dinamizar a economia e gerar empregos; entre outros disparates que ofendem a moral e o estômago dos angolanos.

Prezados companheiros de luta,
A actual situação económica e social do país é dramática. A economia nacional está estagnada...

Os vários programas concebidos para relançar a economia serviram apenas para cumprimento da agenda de enriquecimento dos promotores.

Basta olhar que, os titulares dos sectores da agricultura e pescas, economia e planeamento têm sido exonerados e indiciados por crimes de corrupção, apesar de serem ilibados de responsabilização criminal.

É com lágrimas nos olhos que assistimos as desigualdades sociais, num país rico com milhões de pobres.

A situação socio-económica em Angola tem se degradado de forma assustadora.

Enquanto que para meia dúzia de privilegiados "a fome é relativa", para maioria dos 33 milhões de angolanos, a fome é efectiva. Os factos falam por si, hoje muitas famílias disputam restos de comida nos contentores.


É necessário medidas económicas assertivas que atendam os interesses da população e não continuar a beneficiar a "máfia das importações" que beneficia altas figuras do aparelho do Estado e do Bureau Político do partido no poder;

É necessário devolver o poder ao verdadeiro titular: o povo.
A única certeza que muitos jovens têm é desistir desse país; arranjar mecanismo de consiguir um visto e emigrar. Todavia, não podemos alimentar a ideia de que temos de abandonar o país por causa de incompetência de quem governa.

Diante dos factos acima mencionados, o apelo que dirijo aos jovens é o seguinte: "é hora de definirmos uma agenda política para o país, onde a juventude esteja no centro da mudança".

Jamais podemos esperar que o bem-estar dos jovens angolanos esteja a depender, única e exclusivamente, de alguém que há 48 anos continua adiar o futuro da principal força motriz da sociedade.
Se a fome e a miséria continuar a dominar o dia-a-dia das populações, correr-se-á o risco de assistir nos próximos dias convulsões sociais em todo país.

O cansaço político de quem governa há quase meio século é tão evidente que não consegue enxergar que o povo deu "cartão vermelho" nas últimas eleições, e neste momento "mudança" é a palavra de ordem... "A JUVENTUDE QUER MUDANÇA".

MUITO OBRIGADO...