Luanda - O cenário político angolano tem sido palco de intensas discussões e tomadas de posição, que refletem a complexa dinâmica do nosso ambiente político em lidar com uma iniciativa de destituição do titular do poder executivo.
Fonte: Club-k.net
A recente entrevista do Deputado e Advogado Esteves Hilário ao Novo Jornal, na qual ele declara seu voto contra a iniciativa de destituição do Presidente João Lourenço, apesar de alegadas violações constitucionais, revela nuances éticas de alguns atores políticos do país.
A lealdade partidária é um pilar fundamental em qualquer sistema político. No entanto, a postura do Deputado Hilário levanta questionamentos sobre os limites dessa lealdade. Optar por votar contra a destituição do presidente, mesmo em face de alegadas violações constitucionais, sugere um compromisso inabalável com seu partido, acima de tudo com o seu líder.
Essa fidelidade canina, como alguns podem interpretar, pode ser vista como uma demonstração de unidade interna, mas também pode levantar preocupações sobre a capacidade do partido de realizar uma análise crítica das ações do seu líder máximo.
A busca do Professor e Advogado Esteves Hilário em se estabelecer como um potencial líder da nova geração de políticos do MPLA é notável, até porque os “delfins” do regime não andam alinhados sobre um possível terceiro mandato de João Lourenço. Com a indisposição de Adão de Almeida e à coleção de erros cometidos pelo Marcy Lopes, o recém Deputado procura se lançar como candidato à altura dessa herança.
Ao se posicionar como alguém que está disposto a defender o presidente mesmo em meio a controvérsias, ele busca consolidar sua imagem como alguém alinhado com a liderança do partido. E essa jogada estratégica pode ser vista como uma tentativa de consolidar sua influência e relevância no cenário político interno do MPLA.
A tentativa do Deputado Esteves Hilário em ridicularizar a UNITA pela sua iniciativa de destituição do Presidente João Lourenço, reflete uma tática de descredibilização da oposição (chegando a chamar à oposição de esquizofrénica).
E ao menosprezar a iniciativa da UNITA, ele procura reforçar a imagem de coesão partidária no MPLA, mostrando que o partido está unido por trás de seu líder. Essa estratégia visa não apenas diminuir os esforços da oposição, mas também acentuar uma imagem de estabilidade e controle interno, coisa essa que não parece muito acertada para o momento.
É interessante notar que, apesar das alegações de unidade e coesão, a baixa mobilização e engajamento dos militantes em torno das decisões políticas do executivo, têm levantado dúvidas sobre a eficácia real dessa coesão. A desconexão entre a liderança e a base militante pode sugerir que a fidelidade partidária de alguns representantes não é necessariamente reflexo da opinião geral dentro do MPLA.
O posicionamento público do Deputado Esteves Hilário oferece uma janela para entender as complexidades da política angolana. Sua fidelidade partidária e estratégia política refletem o equilíbrio entre lealdade e análise crítica, bem como a busca pela consolidação de poder interno sem o temor do julgamento moral da sociedade.
Contudo, a desconexão com a base militante e as questões não abordadas na entrevista podem indicar que a narrativa de unidade pode não ser tão sólida quanto parece. A evolução dessa situação requer uma análise contínua e cuidadosa das dinâmicas políticas que se seguirão ao decorrer do processo de destituição do Presidente João Lourenço.
Emerson Sousa.
Escritor e Analista político.