Luanda - 1 . Nas empresas estatais angolanas (igualmente noutras em cujo capital o Estado tem participação), existe uma estrutura secreta, cuja definição é QPE-Quadro do Pessoal Estratégico, à qual está cometido o encargo de recolher e canalizar para a PR informações de carácter “sensível” sobre aspectos-chave da vida interna e actividade das mesmas, conduta dos seus quadros, etc.

Fonte: AM


Os indivíduos que integram os QPE, escolhidos por estritos critérios de lealdade e confiança, não se conhecem entre si, como tal, e menos ainda por outros trabalhadores – regra aplicada aos PCA’s ou DG’s. Por norma são quadros de direcção, devidamente preparados, mas também podem estar agenciadas empregadas de limpeza.


Do ponto de vista conceptual e de funcionamento os QPE das empresas são equivalentes a estruturas, igualmente secretas, existentes nas unidades militares e de segurança. Cabe-lhes alimentar e fazer chegar à PR um fio de informação privilegiada – paralelo ao que chega por vias normais, que assim é comparada e aquilatada.


A DG’s e PCA’s das empresas estatais foram sempre conhecidas suspeitas da existência de “informadores”, mas não propriamente de redes organizadas. Em reuniões de trabalho ou de despacho os mesmos notavam amiúde que informações por eles prestadas acerca da vida das empresas não eram inteiramente novas para os seus interlocutores ou estes dispunham de outras.

2 . A organização do poder em Angola e seu “modus operandi” apresentam características nitidamente “securitárias” – em geral de inspiração soviética e cubana, implantadas no seguimento da independência do país, mas que na sua essência não se alteraram muito, nem mesmo depois da liberalização política iniciada em 1991.


José Eduardo dos Santos é apontado como principal cultor desta realidade, para a qual também é remetida a sua longevidade no poder. Os princípios basilares da mesma são o secretismo e vigilância, aos quais obedecem evidências como a criação de estruturas paralelas de poder destinadas a controlar as instituições ou a sobrepor-se às mesmas.