Luanda - Não é muito comum, no nosso meio, haver um alinhamento entre as universidades e as instituições públicas e privadas ligadas à produção, serviços e regulação.

Fonte: JA

Por isso, saúdo de forma muito efusiva os recentes acordos de cooperação, com este diapasão, assinados recentemente pela Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, com a Universidade Agostinho Neto e a Universidade Católica de Angola.

Há um claro distanciamento com a extensão universitária e a sociedade ou o mercado, o que não nos permite, na maioria dos casos, aprender com os nossos erros, evitando-os. Pelo contrário, ficamos, muitas vezes, com a ideia de que somos useiros e vezeiros em repetir os mesmos erros do passado. Exactamente porque ignoramos o saber os estudos que são produzidos ao nível da academia; exactamente porque não damos valor ao que estas instituições produzem e quantas vezes nem os relatórios e pareceres internos são tidos em conta, subalternizando-se aos meros interesses e agendas que levam ao "mais do mesmo”.

Continuando nessa lógica, lembro-me da expressão latina que diz: "Non videmus manticae quod in tergo est”, qualquer coisa como "não podemos ver a carga que carregamos nas costas”. Aqui sim, queremos um espelho, quiçá um divã, sem que isso se traduza no caminho fácil de derivações para a fulanização.

Trago, igualmente, essa reflexão porque recentemente, recebi das mãos do amigo e insigne Professor-Doutor José Octávio Serra Van-dúnem um livro-relatório intitulado "Efeitos Económicos & Sociais do Confinamento Social”, produzido pelo Centro de Estudos Jurídicos, Económicos e Sociais (CEJES) da Universidade Agostinho Neto. Trata-se de uma análise sobre as consequências do confinamento social imposto pelas sucessivas declarações do Estado de Emergência no País.

É importante, por isso, que possamos, sempre que possível, parar e analisar o resultado dos nossos processos e perceber em que medida estes devem servir-nos de lições a ser extrapoladas para situações similares ou equiparadas numa lógica do "governar com” e não do "governar para”. Essa auto-avaliação é válida para as políticas públicas, gestão empresarial e mesmo na vida particular.

Tomo então a liberdade de reproduzir aqui, alguns excertos, com abordagens apresentadas por diversos painelistas em fóruns realizados nas redes sociais:

- "A pobreza tem obrigado as famílias a violarem os critérios de biossegurança na luta pela sobrevivência” (Kamia Madeira);

- "Há uma disputa entre a liberdade, enquanto direito adquirido e a necessidade de confinamento social, para controlo da pandemia; (...) Grande parte das famílias angolanas não permitem que elas cumpram na, íntegra, com os critérios do estado de emergência” (Prof.Doutor José Octávio S. Van-dúnem);

- "É preciso elevar o nível tecnocrático da administração pública; (...) é urgente o aumento da capacidade dos sistemas de saúde e a melhoria dos sistemas de protecção social” (Alexandre Ernesto);

- "É importante aceitar o novo normal e tirar partido dele. As famílias têm de aprender a lidar com este convívio forçado em ambientes fechados” (Noelma Viegas d´Abreu);

- "Uma boa parte da rejeição das tele-aulas que o ministério controla, por via da TPA, decorrem da falta de hábito e da pouca paciência dos pais em fazer o devido acompanhamento; (Isaac Paxe)

- "Não podemos deixar o debate sobre a descentralização na mão dos políticos... é necessário o envolvimento das famílias; As famílias estão em crise económica e financeira e, as comunidades, estão em crise de liderança; A única forma que temos de aproximação entre as demandas locais e o poder político é com a descentralização; (Belisário Alexandre dos Santos)

É claro, para mim, que se trata de um documento rico e que nos deixa subsídios relevantes de aspectos sobre os quais precisamos lidar com atenção tendo em vista evitar os prejuízos económicos e políticos decorrentes do confinamento nos termos em que assistimos. É verdade, por exemplo, que o número de casos esteve abaixo das projeções, situação "global” no continente africano, mas talvez seja prudente olhar para o número de mortes e perceber as suas razões.

Outro senão, e muito debatido hoje noutras geografias têm a ver com o surgimento de vários casos de patologias clínicas e sociais decorrentes das vacinas. Não é demais perceber em que medida nos encontramos, uma vez que já se sabe de muitos casos e mesmo resultando em mortes decorrentes dos males da vacinação.

Mas quando falo dos relatórios, estudos e outros pareceres que podem ser feitos com auxílio das academias, estou a pensar principalmente na solução dos nossos problemas também em termos económicos e sociais.

Ou seja, durante a última semana, decorreu em Luanda mais um fórum internacional sobre petróleo e gás. Eu julgo que, se o petróleo é a nossa principal fonte de divisas e o motor da nossa economia, por muito que isso não seja o desejável é, todavia, a realidade, então deveríamos prestar uma atenção diferenciada. O sistema de ensino deveria estar orientado para aí. Os media deveria prestar-lhe uma atenção muito maior e não apenas na lógica dos barris e do preço nas bolsas internacionais. A economia deveria estar orientada para tirar um maior proveito do petróleo. Portanto, como bem dizia o Ministro de Estado para a Coordenação Económica, na abertura do certame, não haverá diversificação, se esta não começar primeiro no petróleo. Ou seja, quando olhamos para a cadeia de valor da indústria petrolífera, rapidamente percebemos que não tiramos a máxima vantagem das oportunidades que pode proporcionar. Mas como se diz, nunca é tarde para começar. Ou no nosso caso, não será tarde para acelerar o passo uma vez que o tempo de vida do petróleo vai-se mostrando cada vez menor.