Luanda - Recentemente o site “Club-K” deu à estampa um artigo intitulado “Ascensão de quadros com conexões à UNITA no Governo de Lourenço”, postulando - com base em análises por si feitas - que João Lourenço é o dirigente máximo da história do MPLA com mais conexões com figuras do partido que tem o "Galo Negro” como símbolo.
Fonte: Club-k.net
O tema está na boca do povo e a gerar um escarcéu de bradar aos céus. Não sei se é para tanto, mas que está a suscitar debates interessantes, lá isto está. Há quem questione as motivações da abordagem do assunto pelo “Club-K”; há quem defenda a tese de que o tema é um “não-assunto”. Sobre o tema, confesso que me sinto dividido. Sinto-me como se estivesse num trapézio sem rede para porfiar os meus argumentos face à questão. Todavia - se me é permitido filosofar e sequentemente emitir a minha opinião de forma “socrática” - , eis, a seguir, o meu juízo.
Desconheço as motivações que terão levado o Titular do Poder Executivo e Presidente da República a escolher quadros da ou com ligação ao maior partido na oposição para integrarem o seu Executivo ou a fazerem parte do seu “inner circle”.
Se o fez por afecto e afinidade adquiridas na sua infância e adolescência por ter convivido com muitos membros de destaque da UNITA, não está certo; aliás, cria desânimo aos militantes do MPLA que aguardam pela sua vez. Decerto que os militantes do partido no poder sentem-se preteridos e frustrados pelo seu próprio presidente.
A nomeação de quadros angolanos para o Executivo com ligação à UNITA contradiz uma afirmação de João Lourenço que determinou, aqui há uns anos, numa entrevista colectiva, que quem fosse da oposição não poderia esperar mais do que um cargo de director na Função Pública. Não mais do que isso!
Se a elevação de quadros com ligação ao partido fundado por Jonas Savimbi, obedece ao emprego do princípio da meritocracia, então João Lourenço terá direito a minha reverência política e cidadã. Não sou de todo avesso à ideia de se ir buscar valências técnicas ou académicas de outras forças políticas ou mesmo da Sociedade Civil. Pelo contrário!
É meu juízo que já lá deveria ir o tempo em que a ocupação de destaque na Função Pública era condicionada à apresentação de provas de militância activa no partido no poder. Tenho para mim que quando diante de um quadro angolano competente, a sua opção ideológica é o pormenor menos importante e por isso mesmo deve ser delegada para as calendas gregas.
Se os “escolhidos” de João Lourenço para o aparelho do Estado estão, de facto, para servirem a Pátria com zelo, dedicação e competência, estou certo e seguro que constituirão uma mais-valia para o País e o bem-estar do colectivo.
Quero assumir, publicamente, que a escolha de quadros com ligações à UNITA e à Sociedade Civil para desempenharem funções no Executivo, não é, de todo, um “presente de grego”. Encaro-a como uma oportunidade soberana para mostrarem o que (não) valem para o País.
Nota: “Presente de grego” é uma expressão popular usada para representar o recebimento de algum presente ou dádiva que traz prejuízo para quem a recebeu, ao contrário do que era esperado.