Lisboa - Segundo observações, passou despercebida a iniciativa do Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, de condecorar com o título Honorífico de Herói Nacional uma dirigente do Bureau Político do MPLA, Celeste Elavoco David Adolfo, que já foi condenada por corrupção.

Fonte: Club-k.net

Este assunto veio à tona depois que o nome de Celeste Elavoco David Adolfo, que ocupa o cargo de administradora municipal do Andulo, foi citado nas últimas semanas pelo seu envolvimento em atos de intolerância política ao ordenar que as forças de segurança impedissem a realização de uma palestra organizada pela ONG Jango Cultural, na região sob sua jurisdição.


Logo após o incidente (em que a palestra foi impedida, alegadamente por falta de comunicação/autorização), os antecedentes da administradora foram trazidos à tona, incluindo a condenação a dois anos de prisão que ela cumpriu por corrupção quando era administradora da Kunhinga (localizada a 30 quilômetros ao norte da cidade do Kuito, província do Bié). A justiça angolana também a absolveu de outro processo em que ela havia sido acusada de inflacionar os custos na compra de suprimentos (frangos) para o hospital da Kunhinga.


Em abril de 2013, a então administradora municipal de Kunhinga, Celeste Elavoco David Adolfo, também foi acusada de ordenar ao chefe da repartição municipal, Paulo Nocas Salvado, que descontasse cerca de 1.143.000 kwanzas - equivalente a mais de 11.430 dólares americanos - de um total de 60 professores do ensino público. Eles supostamente haviam se ausentado do desfile de carnaval municipal realizado em 7 de fevereiro daquele ano.


Celeste Elavoco Adolfo havia instruído o responsável da repartição municipal da educação a enviar uma lista com os nomes dos professores afetados, cujos salários foram descontados pelo Banco de Poupança e Crédito (BPC), sem justificativa plausível.


Apesar de ter sido afastada do cargo, a dirigente foi posteriormente reabilitada politicamente e promovida a administradora do Andulo e membro do Bureau Político do MPLA. Por ocasião do Dia da Paz, celebrado em 4 de abril, o Presidente João Lourenço condecorou Celeste Adolfo com a Ordem da Paz e Concórdia, 1.º Grau, ao lado de nomes como Abel Chivukuvuku, Rui Mingas, Vicente Pinto de Andrade, Aldemiro Vaz da Conceição, Kundi Paihama e Isaias Samakuva.


As homenagens prestadas pelo Presidente João Lourenço no Dia da Paz de 4 de abril deste ano geraram controvérsia, principalmente devido à condecoração de António Carlos Jorge, que foi acusado de envolvimento na morte de Nito Alves em 26 de maio de 1977. Ele recebeu a medalha de mérito cívico e social de primeira classe por seu suposto contributo para a paz e reconciliação nacional.


Essa condecoração causou críticas e indignação em alguns setores da sociedade angolana, que a consideraram um insulto à memória das vítimas de 27 de maio e uma afronta aos direitos humanos. Alguns familiares das vítimas exigiram que o Presidente retirasse a medalha de António Carlos Jorge e pedisse desculpas públicas. Outros questionaram os critérios usados para selecionar os condecorados e acusaram o Presidente de tentar reescrever a história e legitimar os perpetradores do regime.

Por outro lado, alguns apoiadores do Presidente defenderam a sua decisão, argumentando que António Carlos Jorge foi um dos primeiros a pedir perdão por suas ações e colaborou com a Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP). Eles afirmaram que a condecoração foi um reconhecimento por seu arrependimento e contribuição para a pacificação do país. Também invocaram o princípio da presunção de inocência, uma vez que António Carlos Jorge nunca foi julgado ou condenado pelos crimes que lhe foram imputados.