Luanda - No alto da minha ignorância, encho-me de brios para defender Patrícia Faria, cidadã angolana de mérito, no meio da multidão enfurecida por causa das decisões tomadas pelo Conselho de Disciplina da Federação Angolana de Futebol (FAF), na apreciação dos indícios de viciação de resultados e corrupção desportiva, suscitados no áudio vazado nas redes sociais.
Fonte: JA
O futebol em Angola é factor de unidade nacional e veículo de afirmação de soberania. Não arma de arremesso, da qual certos indivíduos lançaram mãos, num lamentável julgamento público e assassinato de carácter, para investir contra uma mulher de princípios e valores, com o arrojo de se colocar, inclusive, em causa a sua competência enquanto operadora do Direito.
Escrevo em defesa de Patrícia Faria por duas razões. Primeiro, pelo facto de a cidadã gozar dos direitos ao bom nome, à honra e à reputação, à imagem e à reserva da intimidade da vida privada e familiar (…), plasmados no artigo 40.º da Constituição da República, como limites à "Liberdade de expressão e de informação”. Segundo, por conhecê-la enquanto estudante da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, na qual várias vezes coincidimos no "corredor da morte”, o nome carinhosamente dado aos exames orais.
Logo, é de todo descabido o questionamento da sua formação e a competência como jurista; sobretudo por quem não domina o básico do "métier”, no entanto convencido da condição de justiceiro, após a leitura, às pressas e de forma enviesada, de conceitos encontrados nos motores de busca da "Internet”, e, de igual modo, o deguste de "postas de pescada” distribuídas com o rótulo de verdadeiros tratados jurídicos, no cosmo cibernético.
Ainda que tenham sido cometidos os aludidos erros processuais, ninguém tem o direito de investir contra a reputação da senhora, pelo simples facto de ter chancelado, enquanto presidente, uma decisão colegial. Apenas o fanatismo clubístico e o oportunismo no aproveitamento do caso para a descarga de frustrações podem justificar a grosseira agressão à honra da compatriota, tudo quanto sei cumpridora das obrigações fiscais.
Em total despropósito, chamou-se à colação o facto de Patrícia Faria ser cantora, no caso uma excelente intérprete da música angolana, dona de sucessos com mais de 20 anos, talvez a razão de tanto ódio destilado nas manifestações de intolerância protagonizadas até por quem tem o dever de adoptar um comportamento urbano e exemplar, pela relevância social decorrente de responsabilidades públicas.
Quer se queira quer não, a nossa "jurista do microfone”, como desafortunadamente a tentaram apodar, merece uma comenda, pela coragem demonstrada na liderança de um processo aberto com base num áudio, documento à partida fadado a ser ignorado, até por renomados jornalistas, no estrito cumprimento de agendas pessoais.
A tão propalada e desejada moralização do desporto angolano ganhou, da coragem e determinação desta mulher, senhora do seu destino, impulso a ser lembrado lá mais para frente. No dia em que o futebol deixar de ser batota, simplesmente por ser jogo. Parabéns, mãe angolana!