Factos ilustrativos da atitude crítica e/ou de descomprometimento do regime do MPLA:
- A embaixadora angolana nos EUA, Josefina Diakité, enfatiza nos seus contactos oficiais (AM 286) que o Governo de Angola se destaca entre os países africanos que pressionam R Mugabe a observar com mais escrúpulo as regras democráticas.
- Marcos Barrica, alto funcionário angolano, chefe da missão de observação da SADC para as eleições no Zimbabué, promove em contactos compersonalidades estrangeiras, em Luanda, a ideia de que Angola tem tratado de levar R Mugabe a ser mais comedido.
- A imprensa oficial angolana divulga amiúde informações segundo as quais o PR, José Eduardo dos Santos (JES), exerce um papel moderador junto de R Mugabe e de figuras de primeiro plano do seu regime.

2 . Na conduta do regime do MPLA e em comportamentos de alguns dos seus dirigentes, têm sido identificados sentimentos conexos como a incerteza em relação ao resultado das eleições marcadas para Set, se as mesmas forem transparentes (AM 279) e a convicção de que estão ao seu alcance expedientes susceptíveis de dissipar tal incerteza. As vantagens mais almejadas pelas autoridades angolanas nas suas atitudes de aparente demarcação de R Mugabe são as seguintes:
- Desconotação com um regime de fraca reputação no plano estritamente eleitoral.
- Desviar atenções que eventualmente poderiam vir a recair sobre procedimentos domésticos considerados equivalentes aos do regime de R Mugabe.
- Ganhar autoridade política decorrente do critério segundo o qual o regime angolano se absterá de fazer coisas que reprova em R Mugabe.

3 . Embora de forma mais discreta e comedida a política eleitoral do regime do MPLA tem passado por episódios considerados próximos da realidade do Zimbabué:
- A legislação eleitoral, de aprovação recente, já foi alterada e voltará a sê-lo proximamente (desta feita para alargar de 1 para 2 os dias destinados à votação); as disposições alteradas e o sentido com que o foram destinaram-se a "apertar" o controlo do sistema eleitoral. - Não foram dirigidos convites ao Centro Carter e à SADC-PF tendo em vista a sua participação na missão internacional de observação do processo eleitoral (a União Europeia, única instituição extra-SADC convidada, propõe-se despachar um grupo de 100 observadores, número considerado diminuto face a c 13.000mesas de voto); o Centro Carter (AM 285) tem a reputação de ser particularmente exigente nas suas missões de observação eleitoral.
- Proliferam nas prov do interior, atitudes de intimidação e provocação visando quadros da UNITA e de outros partidos credíveis, entre os quais a FpD e PRS, bem como respectivas bases de apoio; paralelamente, está em curso um forcing tendente a aliciar/cativar figuras influentes da sociedade local (nas prov das Lundas, Huambo, Luanda e Cabinda estão a ser distribuídos carros aos sobas).
- Acções de campanha da oposição vêm sendo objecto de difusas restrições ou obstruções; em deslocações recentes às prov do Namibe, Cunene e Cabinda, Isaías Samakuva, líder da UNITA viu-se constrangido a recorrer a medidas especiosas, como forma de garantir a realização dos seus comícios (o de Cabinda foi marcado e desmarcado várias vezes para iludir planos para do MPLA para o ofuscar ; no Namibe, à mesma hora e em local próximo, o MPLAorganizou um comício paralelo).

Do antecedente (AM 275) abrandou ou foi mesmo posta de lado uma retórica radical do MPLA baseada em insinuações segundo as quais a UNITA teria planos para voltar à guerra, assim se justificando a existência de alegados paióis. Concluiu-se serem"inconvenientes" evocações da guerra ante um eleitorado recém saído de um conflito.

4 . Nos últimos meses tem igualmente aumentado, em ritmo e alcance, a propagação de notícias e mensagens propagandísticas tendentes a promover e/ou elevar o prestígio externo de Angola; a tónica usada é a de vincar a importância do país como grande produtor de petróleo e de diamantes. A insistência na promoção do prestígio do país é vista à luz de uma lógica antiga da política angolana, que em geral sempre produziu resultados compensadores: captar apoios e simpatias externas; fazer reverter o capital daí decorrente em proveitos comouma certa complacência internacional para com políticas menos ortodoxas. De acordo com uma análise de situação habilitada, os métodos eleitorais dos regimes de R Mugabe e do MPLA não apresentam diferenças essenciais. Variam apenas no comedimento com que são aplicados e na crença que Angola tem (o Zimbabué não tem)de poder contar com uma maior benevolência externa.

5 . A principal preocupação eleitoral do regime continua a ser Luanda; as razões determinantes do fenómeno são a grande massa do eleitorado e o sentimento colectivo anti-regime notoriamente presente no mesmo, assim como a dificuldade acrescida que a maior visiblidade de Luanda apresenta para práticas de manipulação. Na hipótese de o resultado em Luanda vir a ser menos bom ou mesmo mau, o regime espera poder compensá-lo com números mais auspiciosos nas prov do Bié, Huambo e Benguela; são prov muito populosas, apresentam menores problemas de visibilidade e uma vitórias nas mesmas é antevista como um duplo revés para a UNITA.

Um relatório recente sobre o ambiente adverso que o MPLA enfrenta em Luanda precisa que uma das causas da evidência é a atitude de desconforto e repúdio da população (70% de pobres) face a "exibições de ostentação" da classe dirigente, em geral identificada com o regime.

Fonte: Africa monitor